12. Barreiras Intransponíveis.

  


Determinação pode fazer a diferença.


Boa Sexta!

antes de mais nada peço perdão pela demora em lançar esse capítulo, mas finalmente terminamos o arco do cadeirante Caíque.

Talvez haja mais um hiato sem lançamentos, mas acredito que logo volto com esse título.

Portanto... Sem mais delongas...

Boa leitura!



12. Barreiras Intransponíveis.


Ouvir gritos de alguém morrendo, principalmente alguém que havia se esforçado para salvar a sua vida, era algo terrível, mas num aspecto mais inconsciente, Caíque sentia que acabaria tendo que se acostumar.


No fim, sobreviver estaria no topo da lista de cada um que não tivesse morrido nas primeiras horas da Sexta Z.


Por aqui!


Como apenas podia ser conduzido por alguém que estivesse empurrando sua cadeira de rodas, Caíque se esforçava para superar o medo e, usando sua visão de jogo para tentar antecipar as ameaças que se colocassem no caminho de seu grupo, conseguiu ver uma esquino que parecia livre do caos que havia se instalado nas ruas de São Paulo.


Naquele momento era Nádia, a garota que cuidava do caixa no posto de onde havia saído o jovem que o salvara, quem o empurrava e assim que ouviu o aviso, tratou de correr na direção indicada.


De fato, era uma rua mais estreita, mal caberia um carro de maior porte, o que até mesmo forçou o grupo a se espremer, enquanto corriam para longe do som de carros derrapando e tombando, além de algumas explosões ao longe.


Até mesmo, ao olhar para cima, foi possível ver um avião, cujas asas deixavam um rastro de fumaça negra, passando baixo demais e, minutos após sumir do campo de visão do grupo, uma imensa explosão fez todos pararem de correr e, instintivamente, se abaixarem, procurando proteção.


Por alguns instantes todos ficaram em saber o que fazer, se continuavam correndo, na esperança de que a rua para onde iam estivesse sem monstros, voltar para o inferno de onde saíram, ou permanecer ali, rezando para que ninguém mais aparecesse.


A decisão foi tomada quando uma porta se abriu e uma idosa de origem oriental apareceu, fazendo um sinal para que eles entrassem.


Além de Caíque, havia no grupo, pelo menos, mais três homens, junto com outras duas garotas, uma que continuava segurando a cadeira dele.


Mais uma vez não foi necessária nem uma deliberação e logo uma pesada porta de ferro se fechava atrás deles, que começaram a seguir a senhora por uma pequena e apertada cozinha de, aparentemente, uma pastelaria.


Meu nome é Ai Bao... Eu tinha acabado de fechar quando tudo começou…


Todos agora estavam sentados, com pratos cheios de pastéis recém-fritos, conforme a senhora falava sobre como havia conseguido se refugiar na pastelaria que, segundo ela, estava a gerações na família.


Caíque, agora podia ele mesmo mover sua cadeira, se posicionou em um canto onde podia ver todos que estavam ali, bem como olhar para a rua por uma fresta na fachada da pastelaria.


Agora podendo analisar com calma, ele percebia como os monstros agiam, como pareciam ser atraídos por som e cheiro, ou outros atributos, tentando abocanhar o máximo da carne das vítimas antes delas se transformarem.


Percebeu também que um simples toque de mão, se prolongado, era capaz de causar queimaduras feias, como aconteceu com uma jovem de cabelos azuis que praticamente pegou fogo apenas ao ser agarrada por mais de cinco monstros, antes mesmo de levar a primeira dentada.


Tudo aquilo causava náuseas em Caíque, mas ele se forçava a continuar suas observações, pois queria ser útil ao grupo, não admitiria ser apenas um estorvo.


Sempre aprenda tudo o que puder sobre seus adversários…” as palavras de seu primeiro técnico voltavam à sua mente “Muitas vezes essa será toda vantagem de que você vai precisar para sobreviver no mundo dos esportes.”


Caíque se pegou pensando no senhor Garcia, onde ele estaria naquele momento e se ele lembrava do próprio conselho.


O jovem também arriscava uma olhada para o grupo no qual fora inserido de forma tão brusca, percebendo que as únicas que não pareciam prestes a ter um colapso nervoso eram justamente a senhora Bao e a menina que empurrara sua cadeira e que, após perceber que estava sendo observada, se aproximou.


Oi… Meu nome é Victória… — com uma timidez visível, ela estendeu uma mão, que o jovem cadeirante segurou prontamente. — Você tá bem? Depois da capotada… Deve estar machucado…


Eu estou bem… Muito obrigado pela força, aliás… E… Hã… Sinto muito pelo seu… Colega?


O nome dele era Alex… A gente mal conversava… Ele… Ele tinha começado só a uns três dias… Nem o sobrenome dele eu lembro de ter perguntado… Deus do céu… O que tá acontecendo afinal?


O quer que seja… Não acho que seja obra de Deus…


Os dois então se calaram.


As horas passaram, mas os sons de morte e destruição não diminuíram do lado de fora da pastelaria e, enquanto os demais finalmente foram vencidos pelo cansaço, Caíque ainda se pegava pensando no que poderia ter feito de diferente, como poderia ser mantido seus amigos e colegas a salvo.


Fazia muito tempo que o peso da deficiência não o atingia com tanta força, mas, mesmo assim, ele garantia para si mesmo que, com esse novo grupo, tudo seria diferente.


Com isso em mente o jovem acabou pegando no sono.


Um grito agudo de dor fez Caíque despertar sobressaltado, vindo de um sonho onde seus amigos ainda estavam vivos e todos se preparavam para uma competição de corrida pela qual o rapaz estava ansioso.


Rapidamente ele desejou voltar para o mundo dos sonhos.


A realidade era terrível demais.


As portas da pastelaria estavam escancaradas, os zumbis haviam invadido silenciosamente e só quando o primeiro mordeu uma das garotas do grupo, fazendo-a gritar de dor, que o inferno desabou sobre eles.


Usando uma capacidade adquirida com o tempo e as várias competições em que tinha atuado, Caíque rapidamente salvou Victória, que estava mais próxima, jogando sua cadeira de rodas na frente de alguns monstros, que estavam quase pegando-a e que acabaram desabando no chão.


Rápido! Foge pela direita, atrás daquelas mesas ali os desgraçados não vão poder te pegar!


Não vou te abandonar!


Cumprindo o que dizia, a garota segurou com força as manoplas da cadeira, primeiro puxando o rapaz para longe de um dos monstros que, mesmo caído, esticava uma mão escaldante na direção dele.


Seguindo as instruções de Caíque, Victória realmente conseguiu evitar os monstros e, mesmo com os olhos cheios de lágrimas, ao ver o restante do grupo sendo devorado em meio a um verdadeiro festim diabólico, logo a dupla ganhava as ruas, um pouco mais vazias por causa do avanço da madrugada.


Procurando abrigo, o jovem podia jurar que vira a senhora Bao dobrando uma esquina próxima, com um sorriso demoníaco no rosto.


O que foi?


Nada não… O stress tá me pregando peças… Agora precisamos achar um lugar para ficar e…


Que tal ali?


A dupla se aproximou da fachada de uma lanchonete extremamente pequena, ainda menor que a pastelaria da senhora Bao, Victória se encarregou de investigar, quanto Caíque ficava olhando a rua.


Parece vazia… — o rapaz deu uma olhada por cima do ombro, o que bastou para que ela voltasse e conferisse uma segunda vez. — Tá vazia sim…


Só então os dois entraram e, além de ter a sorte de achar as chaves para trancar a porta dupla do local, fizeram uma barricada para evitar novas surpresas e, aproveitando várias toalhas de mesa, improvisaram um local no chão, atrás do balcão, para que pudessem dormir o máximo que a situação insana na qual se encontravam lhes permitisse.


Com um pouco mais de sorte, graças aos alimentos e água que tinham ali, talvez pudessem ficar por tempo suficiente até que fosse seguro sair.


Acabaram dormindo abraçados, mas sem que fosse algo relacionado a amor ou sexo, apenas numa busca por algum conforto em meio ao inferno no qual estavam presos.


Caíque, no entanto, não teve um sono tranquilo, com a imagem do sinistro sorriso que ele acreditava ter visto no rosto da senhora Bao.


Jurou para si mesmo que faria de tudo para proteger Victória e quem mais ele encontrasse, sem saber que suas convicções seriam colocadas a prova antes do que ele imaginava.


Postar um comentário

4 Comentários

  1. Grande Norberto!
    Chegamos ao ultimo episódio postado de " O Fim do Mundo Começou na Sexta".

    Como marca desse trabalho , o clima gore foi muito em trabalhado, co mênfase na sensações e sentimentos dos personagens.

    Caique , mais uma vez passou por uma durríssima provação e, pelo visto passará por outra.

    Testado ao limite, o jovem terá que encontrar forças onde não tem.

    O que virá pela frente?

    Se for a morte da empática Victória, será um golpe fatal em sua luta pela sobrevivência!

    Vejamos onde você levará essa história.

    Meus sinceros parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu pelos comentários e pela leitura.
      Em breve novos capítulos desse título

      Excluir
  2. Os níveis de tensão e de tristeza com tudo que está acontecendo está se elevando ao máximo... Já existe a tensão do Tugo que a qualquer momento pode desencadear uma nova tragédia, e agora temos o sacrifício hercúleo de uma jovem para ajudar outro jovem em uma situação mais complicada, pois lhe falta mobilidade para ajudar fisicamente nas situações e tudo fica cada vez mais apavorante... Ver de relance a senhora Bao andando pela rua zumbificada foi de partir o coração e ter de deixar tanta gente para trás sem sequer saber para onde ir, se existe um local pra voltar, tudo converge para uma situação complicada, assustadora e de suspense completo! Eu tô simplesmente vitrificado tentando ver o que vem pela frente, mas tá difícil fazer qualquer previsão, até porque são muitos núcleos sendo levados em conta! Além disse, parabéns extra pela administração perfeita de tantas vidas, de tantas histórias, de tantos acontecimentos, tudo convergindo em um ponto principal, como protagonistas em cada situação, tá muito bom de ler meu amigo, muito bom mesmo, parabéns, ansioso pelas continuações! \0/

    ResponderExcluir
  3. Valeu demais pela leitura e comentário! E, outra vez, mal aí pela demora em responder...
    Foi realmente um desafio escrever essa história usando um personagem cujas dificuldade eu só posso imaginar no dia a dia, em meio a uma invasão zumbi então...
    A minha ideia para essa série é para uma saga longa e com vários personagens diferentes daqueles que vemos sempre em típicas histórias de zumbis.
    Militares? Policiais? Pessoas que vivem treinando para sobreviver a algum cenário de fim de mundo? Talvez até possam aparecer, mas tentarei ficar longe desses esteriótipos o máximo que eu puder...
    E sobre a Bao... Bem já conversamos sobre isso né? hahahahaha
    Valeu mesmo!

    ResponderExcluir