15. Fragmentado.

 


Quando se desperta.


Esse é um capítulo mais focado na ação, quando Caio finalmente vai começar a entender o que está acontecendo ao eu redor.

Portanto, sem mais... Boa leitura!


15. Fragmentado.



Era um pesadelo, tinha de ser, a mente de Caio fervilhava, conforme segurava cada vez com mais força na cintura da motoqueira que havia acabado de salvá-lo.


Reinaldo, seu melhor amigo, havia se tornado um monstro, um Secular, o nome explodia em sua mente, com a potência de um golpe certeiro no nariz, deixando o rapaz desconcertado.


Pior ainda, seu melhor amigo havia tentado matá-lo.


Se segura! ― a motoqueira precisou gritar, pois agora várias pessoas que cruzavam o caminho deles se tornavam seculares, tentando de toda forma acertá-los. ― Essa vai ser perto!


E realmente passou muito perto, em uma rua haviam vários monstros, cada um com mais de cinco metros de altura, ocupando os dois lados das calçadas.


Eles avançaram, seus braços transformados em lanças, que destruíram o chão a cada vez que erravam a moto, causando pequenas explosões de asfalto, espalhando caos e destruição ao redor.


Caio, ainda que terrificado, não conseguia deixar de reparar nas habilidades de sua salvadora, que conseguia evitar todos os ataques.


Se segura gato… ― ela deu uns tapinhas de leve nos braços que estavam em volta da sua cintura. ― Mas me deixa respirar… Essa vai passar ainda mais perto…


E passou mesmo.


Percebendo que seus ataques com os braços de lança não surtiam efeito, eles resolveram simplesmente saltar sobre os fugitivos.


A destruição aumentava a cada secular que caía no chão, carros, construções, pessoas, nada resistia aos impactos dos desesperados monstros, que tentavam de qualquer maneira parar a moto.


A habilidade da motoqueira foi posta a prova quando um dos seculares se antecipou e se jogou na rua metros a frente, abrindo uma cratera que, com certeza, engoliria qualquer um que tentasse passar por ali.


A garota fez a moto derrapar, conseguindo parar a poucos metros da borda da cratera e, percebendo que novos inimigos corriam tentando alcançá-los, ela teve uma ideia.


Começou a acelerar, virando a moto para as pernas do monstro caído, onde alguns destroços da fachada de um prédio o soterraram parcialmente.


Não faz isso… ― Caio segurou ainda mais forte na cintura daquela que estava tentando salvá-lo. ― Nãonãonãonão…


Seus protestos foram inúteis e, enquanto um Secular se aproximava, estendendo uma enorme mão para agarrá-lo, ela arrancou com toda a velocidade.


Outra vez, de forma impressionante, ela usou os destroços como uma rampa, pousando do outro lado da cratera e seguindo por ruas estreitas até um ponto que parecesse menos movimentado.


Pararam numa ruela escura, após ver se havia algum perigo por perto e então Caio saltou para fora da garupa, ainda sem conseguir concatenar as idéias, andando de um lado para o outro, resmungando sobre como tudo aquilo era impossível.


Tente respirar e se concentre Caio… ― a voz saia abafada, por causa do capacete, mas o jovem podia jurar que já a tinha ouvido. ― Tenho certeza de que você vai se lembrar…


Era realmente difícil sequer pensar em retomar o fôlego, era como se Caio estivesse com o interior de seu crânio tomado por chamas, a agonia de não conseguir diferenciar o real do que fora alterado, bem como lidar com as memórias que teimavam em ir e voltar, estava sendo demais para dele.


Como estudante de medicina o terror era ainda pior, uma vez que ele sabia estar à beira de um colapso e sabia que não havia nada a fazer, ele precisava de algo que pudesse colocar sua mente em ordem.


Só não havia nada que ele soubesse ser capaz disso.


De repente uma pontada de dor o fez trincar os dentes e cair de joelhos no chão da ruela, ele queria poder enterrar os dedos na cabeça e tirar de lá à força o que quer que estivesse causando tamanha dor.


Caio! ― a motoqueira tirou o capacete, o jogou longe e se ajoelhou ao lado do rapaz. ― Aguenta firme! Você vai conseguir se recuperar! Ouve a minha voz e se concentra!


Ele reconhecia aquela voz, era de alguém por demais importante, alguém que ele, em seu coração, havia colocado, mesmo sem ter total consciência disso, no mesmo patamar de seus pais, ou do irmão, que ele já não sabia dizer se estava morto ou não, era alguém que ele nunca havia cogitado a existência.


Alguém de quem ele havia se esquecido até aquele momento.


Com os olhos e o rosto enxarcados de lágrimas, ele conseguiu superar a agonia e ergueu seu olhar, finalmente se lembrando do nome que, agora, não acreditava ter esquecido.


Na... Natalie!


Caio se ergueu, quase voltou a cair, mas encontrou nos braços da amada um porto seguro e firme o suficiente para fazê-lo ficar em pé, com crescente vergonha, pois sabia que estava molhando os ombros da roupa da garota, mas naquele momento nada disso importava.


Natalie... ― A dor ia embora num crescente, agora que as memórias reais voltavam com tudo, era como se ele estivesse recebendo tiros direto no cérebro. ― Eu... Minha nossa... Tá tudo tão confuso...


Eu sei... Eu sei... Comigo foi assim também... Respira que, aos poucos, tudo vai voltar a fazer sentido... Mas nós precisamos sair daqui logo... Já, já vamos acabar sendo encontrados e....


Como se para mostrar a verdade nas palavras da guardiã cronal, o som de algo sendo quebrado foi ouvido às suas costas, interrompendo sua frase conforme ela se virava a tempo de ver um imenso Secular, surgindo por um dos lados da ruela, sua mão esfarelando a parede de um prédio próximo como se fosse isopor.


Antes que Natalie tivesse tempo de se erguer direito e acionar seus poderes, o monstro atacou, o braço transformado em um martelo, que desceu pronto para esmagar os dois.


Incisão!


Natalie teve de erguer uma mão para proteger os olhos, enquanto o braço inteiro do Secular explodia em milhões de pequenos pedaços, todos cortados com precisão cirúrgica.


É isso aí!


O Guardião Bisturi estava de volta.


Por pouco tempo, entretanto, pois logo Caio caiu sobre um dos joelhos, a mente fragmentada ainda doendo como o inferno.


Uau! ― Natalie ajudou o companheiro a se erguer, seguindo na direção da moto. ― Impressionante mesmo, eu só fui conseguir usar meus poderes meses depois de ter despertado... Mas agora precisamos cair fora imediatamente... Ainda mais depois de você ter usado o seu golpe...


Po-porque...


Se ficarmos parados aqui por tempo demais...


Natalie não conseguiu terminar a frase, pois a rua inteira atrás deles havia acabado de ser totalmente obliterada, deixando para trás apenas uma imensa cicatriz no meio da cidade, em cujas bordas havia restado apenas destroços de prédios, carros, casas e pessoas.


Muitas, muitas pessoas.


Merda... ― Natalie agora já alcançara seu veículo, que finalmente Caio reconheceu como sendo a moto cronal. ― Agora vai ficar quase impossível escapar... A desgraçada chegou... Sobe logo.


Sem questionar, o rapaz pulou na garupa e, enquanto partiam rapidamente do local, ele olhou para trás e só então a viu.


Era como um Secular, mas muito maior, tinha a coloração da pele em tons de preto e cinza escuro, muito mais projeções afiadas e pontiagudas por todo o corpo, cujas curvas deixavam claro se tratar de uma versão feminina, na cabeça as pontas pareciam formar uma coroa.


Mas o que diabos é isso?!


É a... Mãe Primordial...



Continua.






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