Quando uma ameaça parece ser demais.
Mais um lançamento para o universo da Terra Zenith, iniciando uma série de one-shots que expandem a história geral apresentando personagens que podem, ou não, ter ligações com o Resgate.
Para começar uma história da heroína Trilha, mostrando melhor como seus poderes funcionam e até onde ela iria para proteger as pessoas, ao enfrentar um perigo mortal.
Portanto... Sem mais delongas... Boa Leitura.
Terra Zenith.
Trilha
Percurso.
Os prédios pareciam se tingir de
vermelho, conforme os raios crepusculares do Sol iam se despedindo da cidade
que parecia nunca parar.
Fazia mais de meia hora que a mulher, trajando
um uniforme que lhe cobria o corpo inteiro, acompanhava tal espetáculo,
envergando seu novo uniforme, estava renovada, poderosa, pronta para encarar
todos os desafios do mundo.
Pensando nisso, assim que a escuridão da noite
paulistana foi se acentuando e as luzes naturais do dia iam sendo, pouco a
pouco, substituídas pela dos postes de luz e fachadas das lojas e restaurantes,
ela levou um dedo até a orelha esquerda, devidamente coberta e protegida pelo
que parecia um fone extremamente moderno.
A música Dangerous da banda Within
Temptation cobriu todo e qualquer som que ainda conseguia chegar ao topo
daquele prédio, que a mulher escolhera para seu ponto de partida da patrulha
dessa noite.
Como sempre fazia, ela primeiro escolheu um dos
vários prédios próximos à Avenida Paulista, deu um jeito de entrar escondida e
correu até o topo, querendo aproveitar o Por do Sol, pois isso sempre a deixava
no clima para o que viria depois.
A música começava a atingir seu clímax e então
ela colocou as duas mãos espalmadas no parapeito, ergueu-se até ficar de ponta
cabeça, as pernas perfeitamente alinhadas e esticadas, conforme todo o seu
corpo parecia aumentar de temperatura.
Suas pupilas pareceram desvanecer, por detrás
das lentes vermelhas, ao mesmo tempo em que várias possibilidades pareciam se
desenhar diante de seus olhos alterados, mostrando os melhores caminhos a
seguir.
Ao redor do seu corpo, pequenas áreas sofriam
um tipo de distorção, era quase como se outras versões dela vibrassem na mesma
frequência, todas prontas para a ação que se avizinhava.
Poucos segundos se passaram desde que ela se
posicionara e então, sem nenhum aviso, ela se deixou cair para frente. Metros
abaixo as ruas da Avenida Paulista começavam a pulsar com a vida noturna da
cidade.
“Se
preparem...” nesses momentos iniciais ela se permitia
algumas distrações, como falar consigo mesma em sua mente “A Trilha está no ar!”
Ela vinha caindo com os pés para baixo, as mãos
pouco elevadas dos lados do corpo, mas logo ela deu uma cambalhota, esticando o
pé e dando um leve chute na parede logo atrás, tomando assim impulso suficiente
para alcançar o topo de um prédio próximo.
Trilha adorava a liberdade dos primeiros
movimentos de cada noite em que ela saía em patrulha, mais do que enfrentar
bandidos e salvar vidas, ela vivia intensamente naqueles instantes em que o
vento a castigava, pela adrenalina que jorrava pelo corpo, logo após cada vez
que acionava seus poderes.
Conforme ela continuava sua corrida, que
deixaria verde de inveja qualquer praticante de parkour, seus sentidos iam se
expandindo, os cheiros ficavam mais acentuados, os sons quase ensurdecedores,
as sensações de tato pareciam prestes a rachar sua pele. Nem mesmo os sabores
eram poupados, pois era de praxe entre um salto e outro um sabor ocre e amargo
invadir sua língua.
Já a visão, era algo além de qualquer
explicação.
Diante dela se desenhavam vários caminhos de
luz, variáveis que mudavam a cada segundo, oferecendo uma melhor opção para o
próximo movimento, era como ver o mundo se enchendo de fios de energia,
esperando apenas a escolha dela para mudarem tudo outra vez.
Ela já avançara muito, entrando na área do
Jardim Paulista, quando uma mudança repentina no ar noturno chegou até ela.
O som foi o primeiro a ser captado, depois o
calor e só então a onda de choque, que não afetaria ninguém normal àquela
distância.
Trilha estava muito longe da normalidade.
Ela então acionou sua supervelocidade, seguiu
imediatamente para o local onde percebera a explosão, muito antes mesmo da
coluna negra de fumaça servir como um indicativo e, assim que pousou num prédio
de apartamentos da Brigadeiro Luís Antônio, constatou o caos que se espalhava
pela avenida.
Um carro ardia em chamas, pessoas caídas ao
redor eram afastadas do fogo, o som das sirenes das ambulâncias já podia ser
ouvido, bem como a dos bombeiros, o que em nada fazia diminuir o fluxo de
pessoas correndo desesperadas, algumas procurando abrigo, outras simplesmente
em estado de choque, paradas e chorando.
Ao menos o cheiro de urina de uma das pessoas
que estavam próximas do carro, no momento da explosão, fez com que Trilha
torcesse o nariz.
Ela já estava no meio do salto para chegar até
o solo e começar a ajudar, seus sentidos indicariam quem mais precisava de
auxílio, quando algo a atingiu quase como um soco no estômago.
Um cheiro de podridão, um misto de suor azedo
com excremento, que também exalava uma excitação imensa, como alguém pronto
para o sexo.
Ela direcionou seus sentidos para essas
sensações em particular e viu o exato momento em que um homem, pelo menos
parecia um homem, mas que para ela era nada mais que um monstro asqueroso,
atacando um engravatado, roubando-lhe uma pasta prateada de metal, que estava
presa por uma algema ao braço do homem caído.
Não muito longe jazia a mão do pobre coitado.
Trilha decidiu ir até ele, percebendo que as
demais pessoas que estavam mais próximas da explosão, ficariam bem, a maioria
só precisava de atendimentos simples, muitas nem precisariam ir a um hospital,
mas o homem que acabara de perder uma mão, esse precisava de ajuda imediata.
— Não! Pega a pasta! —
surpresa com a reação do ferido, Trilha atribuiu aquilo ao choque, ela ainda
tentou erguê-lo, mas ele se desvencilhou. — Tem um vírus mortal naquela
pasta! Se o desgraçado abrir todos vamos morrer!
Não foi necessária mais nenhuma palavra, por
isso, percebendo a aproximação de paramédicos, que já haviam até mesmo
recuperado a mão do engravatado, Trilha ergueu o corpo e se concentrou por
alguns segundos.
Assim que conseguiu focar nas sensações
horríveis que o ladrão, possivelmente um assassino e terrorista também, lhe
passavam, ela se colocou em perseguição.
As músicas de sua playlist seguiam tocando
letras épicas e emocionantes, que alimentavam seus poderes, fazendo com que ela
conseguisse executar movimentos acrobáticos impossíveis para uma pessoa normal,
em uma velocidade também sobrehumana.
Se precisasse atravessar uma rua movimentada
ela não titubeava, seguia em frente, saltava sobre alguns veículos, por vezes
se apoiava no teto de um carro, tocava levemente no banco de uma moto, dava
mortais até chegar na calçada do outro lado.
Muitas vezes Trilha nem precisaria estar com
seus poderes acionados, pois era fácil ver por onde o agressor havia seguido,
deixando para trás pessoas em estado de choque, muitas vomitando, algumas
chorando deitadas em posição fetal.
Ela ia pouco a pouco compreendendo que estava
atrás de alguém extremamente incomum.
A perseguição durou mais de uma hora, pois a
heroína não podia simplesmente ignorar as pessoas caídas que ficavam para trás,
mas ela finalmente o alcançou em uma pracinha, daquelas tão simples que mal
possuem banco e os poucos que haviam ali estavam quebrados.
De dentro de algumas barracas, usadas por
moradores de rua, os pobres coitados saiam vomitando e tentando correr para
longe do homem que permanecia parado bem no meio de um canteiro onde o pouco de
grama, melhor dizendo, as ervas daninhas que haviam conseguido crescer ali,
estavam morrendo lentamente.
Trilha foi se aproximando com cuidado, não
queria demonstrar sua surpresa ao constatar que seus poderes estavam se
comportando de forma estranha.
As “linhas de movimento”, como ela mesmo
chamava, pareciam desaparecer em determinada área ao redor do sinistro homem e
mostravam apenas as melhores rotas para fugir dele.
Isso nunca havia acontecido e por isso ela se
mantinha a uma distância segura, punhos cerrados prontos para o combate, o
corpo todo tenso, reunindo energia para explodir durante o combate.
O sujeito a sua frente, agora era possível ter
a certeza de que se tratava de um homem, estava de frente para ela, o corpo era
musculoso, sua respiração soava como um chiado, mas estava calma e controlada,
não condizia com uma pessoa que havia corrido tanto.
Ele usava um traje marrom e preto, com detalhes
em branco, uma jaqueta rasgada onde havia um botton redondo e branco, com uma
bola vermelha desenhada no centro e um semicírculo logo abaixo.
Trilha mantinha atenção na maleta, agradecida
pelas várias trancas que podia perceber e que impediriam que ela fosse aberta,
provavelmente o sujeito parara ali para esperar algum cúmplice.
Não houve tempo para nenhuma reação, quando o
homem ergueu a cabeça, revelando uma horrenda máscara deformada, a heroína se
pegou torcendo para que fosse mesmo uma máscara, de algo que lembrava um palhaço
vindo diretamente do inferno.
Aproveitando a surpresa que a revelação de seu
rosto provocou, ele ergueu a maleta e, com as mãos nuas, destruiu as travas,
abrindo-a e segurando nas mãos o frasco com o vírus.
Trilha acionou seus poderes ao máximo, mas nos
poucos segundos que ela levou para decidir as sequências de movimentos que
faria para desarmá-lo, foi surpreendida outra vez.
Forçando uma boca deformada e costurada por
grossas linhas a se abrir, ele mordeu a lateral do frasco e, com um nauseante
som como o de alguém sugando um canudo, ele engoliu todo o conteúdo.
Imediatamente as ervas daninhas, que ainda
haviam sobrado sob os pés do palhaço começaram a apodrecer e a sumir como
poeira e nem mesmo a terra onde ele estava escapou do efeito de morte que o
criminoso parecia exalar.
Poucos segundos se passaram e logo por todo o
canteiro onde ele estava restara apenas uma poeira negra, sendo levada
lentamente pelo vento.
O Palhaço, que já parecia perigoso,
acabara de ganhar um novo nível de ameaça e a heroína, após considerar todos os
prós e contras de enfrentar tal criatura sozinha, sem nenhum tipo de apoio, não
teve escolha, pois de repente ela se viu obrigada a erguer os braços cruzados
diante do corpo.
A canela direita do inimigo acabara de atingi-la
com tal força que Trilha acabou sendo lançada a alguns metros de distância,
parando apenas após literalmente quicar algumas vezes pelo chão.
Ela se manteve apoiada sobre um dos joelhos,
tentando se reerguer, a respiração difícil, era como se ela tivesse feito
exercícios ininterruptos durante dias, todo o corpo reagindo de forma estranha,
mas não houve tempo para análises, pois logo precisou se defender de um novo
ataque, quando percebeu um punho se aproximando rápido, indo direto para o seu
rosto.
A garota conseguiu deitar no chão, vendo seu
inimigo passar perto demais e, apesar dela ter conseguido evitar contato, seus
sentidos ampliados perceberam o verdadeiro perigo de se enfrentar o Palhaço no
mano a mano.
Ela se afastou com sofridos saltos acrobáticos,
parando precariamente de pé, tendo que se esforçar para não colocar para fora o
jantar daquela noite, sentindo gotas de suor brotando por todo o corpo e um
óbvio e doloroso aumento de sua temperatura corporal.
Trilha percebeu que estava, impossivelmente,
doente.
Ao mesmo tempo o Palhaço dava sinais de estar
cada vez mais forte, até mesmo os músculos sob o uniforme ficavam mais e mais
aparentes, enquanto ele os movimentava de maneira casual, como se não estivesse
acontecendo nada demais.
Já Trilha começava a piscar várias vezes,
tentando manter a consciência, conforme via seu inimigo se aproximando,
parecendo estar em câmera lenta, erguendo lenta e ameaçadoramente um punho
fechado.
Ela fechou os olhos e, após sentir uma leve
picada no ombro direito, sentiu um alívio crescente, conforme toda a sensação
de doença ia deixando seu corpo.
Assim que seus olhos se abriram, ela respirou
profundamente algumas vezes, precisando acionar outra vez seus poderes, ao
mesmo tempo em que o som abafado de tiros ia ficando cada vez mais nítido.
— Olá. Meu nome é Thomas, sou um agente
de campo da Agência Sonhar. — um homem loiro, olhos de um azul que ela nunca
tinha visto fora da televisão, lhe estendia a mão para ajudá-la a se levantar.
— A situação é alarmante, por isso, desculpe se eu parecer apressado, mas, o
antídoto funcionou? Você acha que já pode voltar à ação?
— Eu… — “Tudo o que eu queria era ter
continuado na minha casa, debaixo dos edredons e vendo algumas séries na
Netflix”, a verdade passou pela cabeça da heroína, mas ela não havia
entrado naquela vida achando que seria fácil. — Pode deixar comigo. Esse puto
vai cair agora!
Assim que ajeitou o corpo, tentando
parecer mais forte do que realmente estava, Trilha finalmente pode ter uma
noção do que estava acontecendo.
O local era como um cenário de
guerra, com cerca de vinte homens atirando contra o Palhaço que, do seu jeito
silencioso, recebia de forma sossegada toda a agressão direcionada a ele pelos
seus atacantes, que tentavam permanecer a uma distância segura, enquanto várias
outras pessoas se ocupavam em criar uma estrutura metálica ao redor do combate.
—
Nós chamamos de Área de Pestilência… — como se estivesse lendo os pensamentos
da heroína, o homem que a ajudou se mostrava solícito, para não deixar claro o
quanto ele estava com medo de se envolver, não conseguindo disfarçar um leve
tremor na mão que empunhava uma arma. — De algum modo esse sujeito consegue
acumular vírus, bactérias e todo e qualquer vetor de doença em seu corpo,
converte em força e agilidade e, como se não fosse o bastante, ainda cria uma
área ao seu redor que deixa qualquer um doente. Se ficar exposto demais à Área
de Pestilência terá uma morte horrenda e dolorosa e como, segundo alguns dos
nossos agentes que estavam acompanhando de longe a luta de vocês, ele engoliu o
tal vírus experimental, estamos criando uma “gaiola” para evitar que esse vírus
se propague.
Trilha voltou a respirar fundo, o
antídoto realmente parecia funcionar “Obrigada pelas palavras confortadoras…
Agora, como vou derrubar esse desgraçado...” conforme ela pensava, seus
dons iam desenhando linhas no ar, a cada segundo uma nova possibilidade ia
sendo analisada e descartada.
Logo surgiu a solução.
E Trilha ficou com a expressão séria
e emburrada.
Aquilo ia doer.
E muito.
Mas ela não tinha escolha.
Por isso, sem mais nenhuma
hesitação, ela tocou em seus fones e logo seu mundo foi envolvido pela música
“In the end” do Linkin Park.
E tudo acabou do único jeito que era
possível.
Rápido.
Thomas olhou para a heroína, que
parecia paralisada no instante em que havia dado o primeiro passo na direção do
Palhaço e, preocupado, estendeu uma mão procurando tocar-lhe o ombro.
Ele a atravessou, na verdade
atravessou algo que parecia um fantasma imaterial que, pouco a pouco, foi
desaparecendo.
Imagem residual.
Acontecia sempre que Trilha usava
seus poderes ao máximo.
De repente o Palhaço dobrou o corpo
para trás, como se houvesse levando um golpe no queixo, precisando se esforçar
para não cair, mas assim que ele começou a olhar para os lados, tentando
descobrir onde estava sua inimiga e como ela o acertara sem ficar doente, ele
sentiu seu corpo sendo atingido na altura do estômago.
Com o corpo curvado o vilão não
conseguiu conter o jorro de bile, que encharcou os barbantes que tentavam
manter sua boca fechada, de onde agora pendiam fios nojentos de saliva.
Thomas ordenou a um dos agentes da
Sonhar que disparasse imediatamente um tipo de espuma amarelada sobre a poça de
aspecto asqueroso, neutralizando assim o vetor de doenças, enquanto se voltava
para os demais colegas, aqueles que se mantinham ao redor do conflito.
Eles tinham a função mais importante
de todas.
Usando alta tecnologia mantinham
erguido um campo de energia, projetado para impedir que qualquer patógeno
escapasse, mantendo a cidade a salvo.
O que não adiantaria nada caso o
Palhaço furasse o bloqueio e conseguisse fugir.
Uma preocupação desnecessária, uma
vez que ele continuava a convulsionar seu corpo, como se estivesse recebendo múltiplos
golpes, evidenciados pelas marcas que iam aparecendo por todo seu corpo, ainda
que fosse impossível ver o agressor, mesmo com todos os presentes sabendo de
que se tratava.
Atordoado, o Palhaço ensaiou alguns
golpes que, de forma até cômica, apenas acertavam o ar, conforme o som de
alguns de seus ossos sendo quebrados, ecoavam pela noite.
Cerca de quinze minutos após
desaparecer, Trilha ressurgiu ao lado do agente Thomas, fazendo-o se
sobressaltar.
— Mas o que?
— Ele... Ufa... — ela suava em
profusão, o que quer que ela tivesse feito, lhe cobrava um alto preço, parecia
prestes a desmaiar. — Ele vai cair. Agora.
E como se em resposta à afirmação da
heroína, de fato, o Palhaço cambaleou por alguns segundos e desabou, sendo
confinado de imediato num tipo de casulo tecnológico que, segundo uma
explicação técnica que chegou aos ouvidos da Trilha como um “blá-blá-blá” sem
sentido, seria capaz de conter a tal Área de Pestilência.
— Vamos redobrar a segurança. Se
depender de mim esse desgraçado não escapará mais. — enquanto o agente da
Sonhar falava, uma jovem garota, em trajes cerimoniais típicos de países
muçulmanos, mal deixando à mostra seu belo rosto, ia se aproximando, os dedos
das mãos entrelaçados. — Ah, ela chegou. Trilha, essa é Unguento, uma
das nossas melhores agentes de apoio. Ela só vai purificar você e…
— Como é o negócio? Me purificar?
— O que? Ah, me desculpe, às vezes
esqueço que existem pessoas que não estão familiarizadas com nossos agentes
Ômega. Unguento, você poderia começar com a nossa heroína aqui?
Sem dizer uma só palavra, a
recém-chegada estendeu uma mão na direção de Trilha, que, por puro reflexo, a
cumprimentou.
Um segundo depois um brilho prateado
surgiu por entre as duas palmas, se espalhando por todo o ambiente ao redor de
ambas, fazendo uma onda de paz, tranquilidade e bem-estar tomar o corpo da
heroína.
Até mesmo algumas dores que ainda
incomodavam, originadas em lutas anteriores, desapareceram por completo, era
como se ela nunca tivesse se machucado na vida.
— Isso… Isso é…
— Incrível e Impressionante são as
palavras com a letra “I” mais comuns para quem conhece a Unguento. — o sorriso
cativante do agente agora lembrava o daqueles vendedores que precisam te
convencer de qualquer jeito a levar qualquer coisa, pois seu emprego depende
daquilo. — Eu adoraria te levar para um “tour” pelas instalações da Sonhar aqui
de São Paulo qualquer dia desses.
Enquanto o homem continuava com seu
discurso panfletário, Trilha registrou apenas a informação de que provavelmente
haveria outras sedes da agência global que pregava a ajuda a todos os zeniths
que apresentavam poderes incontroláveis.
Sua atenção estava focada na mulher
que trajava uniforme basicamente branco, com algumas cruzes vermelhas
enfeitando-o, que seguia sem medo até onde o Palhaço havia caído, permanecendo
alguns segundos com a cabeça baixa e os olhos fechados.
No instante seguinte ela olhou para
cima, agora de seu corpo todo transbordava a mesma energia que ela havia usado
para curar os ferimentos da Trilha.
Numa explosão silenciosa de luz,
todo o interior do domo de contenção foi preenchido e assim que os presentes
voltaram a enxergar, vários técnicos usaram modernos aparelhos para medir a
toxidade do ar.
Com sorrisos estampados nos rostos,
revelados assim que tiraram as máscaras protetoras, todos se puseram a
desmontar a aparelhagem, sem esconder como o poder da mulher chamada Unguento
os havia deixado cheios de energia.
Até mesmo Trilha se achava num
estado de êxtase tal qual, que ela não saberia dizer se negaria caso o agente
bonitão a convidasse para sair, por isso mesmo ela tratou de se despedir
rapidamente e seguiu até o topo de um prédio próximo, onde parou para recuperar
o fôlego e tentar se acalmar.
Como não adiantou, ela ainda se sentia
cheia de energia, resolveu, após uma rápida consulta às horas em seu celular,
ir até o ponto de encontro daquela noite, imediatamente sentindo-se
extremamente excitada pelo que a esperava.
Pouco menos de dez minutos depois
ela já se encontrava no local, o alto de um prédio de escritórios na Avenida
Paulista olhando nervosamente para os lados, aguardando por alguém que ela
precisava mais do que nunca encontrar.
— Oi moça. — em meio as sombras
atrás dela surgia um homem de uniforme, que parecia ter literalmente brotado do
chão, em meio a uma névoa espectral. – Já estava achando que ia ficar na mão
hoje e…
Trilha não disse nada, apenas
agarrou o herói conhecido como Resgate, tirou sofregamente seu capacete e tomou
seus lábios num beijo cheio de paixão e desejo, deixando claro o que queria,
mal dando tempo do homem tirar o restante de seu traje.
Aproveitando as sombras de prédios
próximos para escondê-los, não que isso fosse sequer lembrado naquele momento,
ambos extravasaram a adrenalina e a tensão de outra noite agitada de patrulha.
Logo depois dos dois atingirem o
clímax, finalmente Trilha sentia seu corpo voltar lentamente ao normal, ainda
curada de qualquer ferimento, antigo ou recente, mas agora o jorro de energia
extra, proporcionado pelos poderes da Unguento, finalmente havia acabado.
Só assim ela pode voltar a falar
normalmente, relatando o ocorrido daquela noite ao amante, cujos encontros nos
topos dos prédios de São Paulo, quando não usavam um dos apartamentos que o
Expansão havia oferecido a ambos, havia se tornado um costume entre os dois,
desde o começo do relacionamento de ambos.
— Agência Sonhar não é?
— Sou só eu ou você também tá
desconfiado?
— Pois é. Eu levei uma criança
pirocinética para lá a algum tempo. Na época parecia ser a única forma de lidar
com a situação, mas venho acompanhando um crescente envolvimento deles com
diversos incidentes Zeniths. Eles me pareceram muito solícitos e amigáveis,
querendo agradar de todo e qualquer jeito, até demais, na verdade.
— Tudo isso exageradamente, não é?
Foi assim com o cara que conheci hoje.
— Sim. E quando a esmola é muita…
— Vamos ficar de olho e qualquer
coisa estranha que acontecer, a gente avisa o Expansão e acionamos a Brigada.
O uniformizado começou a se afastar,
logo após trocar um selinho com Trilha, ela permanecendo de olhos fixos nas
costas dele e, assim que uma névoa começou a se formar ao redor, ela chamou sua
atenção.
— Algum dia você vai me levar até a
Resgate Caverna?
O herói, agora envolto totalmente numa
espessa névoa, deu um sorriso, escondido pelo capacete que lhe escondia todo o
rosto e se afastou, voando pela madrugada que começava a se despedir, deixando
os primeiros raios de sol tocarem a cidade.
Segundos depois o topo do prédio
estava vazio.
A hora da heroína havia acabado para
a Trilha.
Agora era preciso voltar para casa,
para cuidar da vida de Verônica, uma jovem arquiteta que estava com um
projeto atrasado como sempre e que faria com que ela não tivesse tempo sequer
para fechar os olhos e cochilar.
— Bom dia minha querida. — uma
senhora entrou no escritório do apartamento que dividia com a neta, sem fazer
ideia de que ela havia entrado pela janela do cômodo a poucos minutos. — Varou
a noite nesse negócio de novo? Vai acabar doente desse jeito.
— Que isso Dona Otacília! — Verônica
se levantou, deu um beijo estalado na bochecha da avó, indo em seguida para a
cozinha, fazendo um café e trazendo duas canecas. — Prá derrubar essa sua neta
precisa de mais do que uma ou duas noites em claro.
— Você puxou esse pique todo da sua
mãe. — a senhora deu um gole do café e logo fez uma careta. — Infelizmente
puxou também o fato de não saber fazer um café que presta. Vou fazer um café da
manhã decente e...
A senhor estranhou o silêncio da
neta e, ao se voltar viu o motivo.
Verônica jazia estendida sobre a
cama, totalmente entregue a um sono profundo, o que deixou claro que,
finalmente, os efeitos dos poderes da Unguento haviam passado.
— O que seria dessa cidade sem a boa
e velha Otacília? — ela então ajeitou um lençol sobre sua neta e saiu de
fininho do quarto. — Com certeza perderiam uma das suas melhores protetoras,
que acredita que engana bem a velha aqui.
O toque do celular acordou a garota
que, levando uma bronca de sua chefe, despertou com pressa e, ao constatar que
já passava do meio-dia, seguiu correndo para o banheiro para, em seguida, contrariando
o que sua avó falava, agarrou apenas uma torrada, antes de pegar a bolsa do
notebook e sair quase voando do apartamento.
O restante do dia passou num borrão,
com seu projeto sendo aceito e muito elogiado pelos clientes, lhe rendendo um
bônus salarial, a garantia de ter mais projetos em breve e uma aliviada na
conversa que tivera com sua chefe a respeito dos horários.
Desse modo conseguiu levar a avó
para jantar num restaurante mais caro, mesmo com a velha senhora reclamando de
que ela não deveria fazer aquele tipo de extravagância.
— Vó! Nem começa que tu merece isso
e muito mais!
Após a refeição decidiram passear
num shopping, fazendo compras e se divertindo, até que perceberam já estar tarde,
voltando rápido para casa, mas logo a garota deixou claro que sua noite não
havia acabado.
— Tô saindo pra caminhada Dona
Otacília! — Verônica deu um beijo carinhoso na bochecha da avó, conforme saía
com sua roupa de corrida, os fones do celular já colocados nos ouvidos. — Não
precisa ficar me esperando tá?
— Vê se não exagera menina!
Mas sua neta já havia saído do
apartamento.
Verônica correu até a Avenida
Paulista, conseguiu entrar escondida apenas na quarta tentativa, tendo sido
flagrada pelos porteiros de três outros prédios, mas, apesar disso, conseguiu ao
topo de um, onde levou a mão até um bracelete que acabara de colocar no pulso
esquerdo.
— Acionar Unidade Trilha.
De imediato o novo traje surgiu ao
redor de seu corpo e, mesmo sem entender completamente a tecnologia por detrás
de tal feito, ela sentia-se grata por ter sido contatada pelo Expansão e, desse
modo, conseguido todo apoio para usar seus poderes daquela forma, ajudando quem
precisasse.
Em seus fones a batida forte da
música “Stormwings” da banda Strontium ressoava, preparando a trilha sonora
perfeita para mais uma patrulha.
Em segundos ela já estava conectada
à cidade de São Paulo, sentindo nas próprias veias a mesma pulsação das ruas,
entrando em contato com tudo e todos, filtrando informações que chegavam a seu
corpo como um todo, pronta para responder com sua super velocidade.
“Por favor! Abaixa essa arma!”
Assim que o pedido de socorro a
alcançou, Trilha se concentrou e saltou do alto do prédio o mais rápido que
pôde.
Pronta para salvar vidas, para fazer
a diferença.
Para seguir seu percurso.
FIM.
4 Comentários
Muito bom, excelente trabalho, excelente narrativa e como sempre são teus textos, eles não são exagerados, não são extensos, muita coisa acontece em poucas linhas e nem por isso se perde qualidade, imersão ou mesmo os detalhes, que consegue descrever tão bem em três linhas como se tivesse usado uma página inteira! Trilha me pareceu uma heroína "pra cima" do tipo boa vibe, do tipo que curte coisas boas, o pessoal deixou claro ser ela e a avó apenas, e também como ganha a vida, de eu me senti vendo a Liga da Justiça (animação) quando Flash atacou Lex Luthor que trajava aquela armadura verde e uma mistura com Brainiac, que ele corria e atacava de todos os lados, até que a armadura de Lex se despedaçou, porém o Flash correu tanto que desapareceu vibrando no ar! Trilha conseguiu trazer essa emoção, e o palhaço me lembrou o monstro do espirro de Jiban, mas muito melhor produzido, descrito e apresentado, ou seja, ficou muito show! Parabéns pelo trabalho meu amigo, que siga em frente e não desista de seus textos que são muito bons!! \0/
ResponderExcluirMuito obrigado pela leitura, comentário e, principalmente, a dica dada em off.
ExcluirMesmo quando faço One-shots e tento deixar o texto um pouco mais detalhado, não consigo ser muito prolixo, mas fico feliz que, ainda assim tu continue curtindo minha escrita.
Eu realmente quis dar um ar de Flash prá Trilha, quando se escreve um veloxista, acho que não dpá prá fugir muito disso, mas, ao menos, fico feliz por, mais uma vez, aparentemente, ter acertado a mão.
Eu lembro muito desse episódio do desenho da Liga, não tinha como esquecer, já que sou fá do Flash, foi um dos melhores.
E que bom que tu curtiu o Palhaço, tava com receio de não ter conseguido deixá-lo legal.
Valeu mesmo pela força de sempre amigão!!
Eu curti muito como você desenvolveu a Trilha.
ResponderExcluirDesde o gosto por ouvir músicas enquanto pratulha, até a descrição dos seus poderes e a sua vida corrida, onde mal sobra tempo pra dormir.
Uma heroína que " quase nunca desliga"...
Você caprichou na concepção dela.
Foi possível visualizar mentalmente cada cena, como se assistíssemos um filme.
O combate com o Palhaço foi difícil e depois, o contato com a suspeita Agência Sonhar, onde ela foi revigorada pela Zenith Unguento.
Depois, sob o efeito revigorando da Unguento, ela teve um encontro tórrido com o Resgaste e, finalmente em sua casa, no convívio com sua querida avó, ela finalmente mostrou que não é de ferro.
Eu adorei essa construção.
Uma personagem que, certamente será explorada mais vezes.
Show de bola
Terra Zênite segue incrível!
Valeu mesmo pela leitura e comentário.
ExcluirTentei deixar a Trilha o mais interessante possível, para que os foco não fosse apenas no Resgate. Fico feliz por você ter curtido.
Valeu mesmo.