Terra Zenith - Resgate, a série #7

 


Quando mudanças acontecem e medidas drásticas são necessárias

E cá estou, após um longo e necessário hiato, retomando as histórias do Resgate e com um maior foco na Terra Zenith que, se meus planos derem certo, vai gerar mais histórias que se passem nesse universo.

Hoje apresento o Perdigueiro, um heróis cuja missão o leva a extremos e, por isso, precispou da ajuda do Resgate.

Portanto, sem mais delongas... Boa leitura.


Anteriormente em Terra Zenith – Resgate…


Graças a um estranho fenômeno, ocorrido na aurora da humanidade, indivíduos com poderes extraordinários surgiram, alguns usando-os para o bem, outros para o mal, sendo chamados de heróis e vilões.


Esses seres ficaram conhecidos como Zeniths.


Resgate é um herói brasileiro que foca seus esforços para ajudar a salvar inocentes, muitas vezes auxiliando bombeiros, em detrimento de enfrentar vilões, o que muitas vezes o faz ser subestimado por aqueles que entram em seu caminho.


Os Superiores são heróis reunidos em uma equipe norte-americana que pretende criar uma legislação que regule as ações dos Zeniths do mundo e, em busca de apoio, realizou um coquetel com vários representantes de países da América Latina em São Paulo.


Levianamente eles trouxeram junto a Eternal Justice, uma imensa prisão flutuante, criada para conter criminosos Zenith, cujo controle foi tomado pelos vilões, pouco depois de Tenebris, o servo de Expurgo, entrar em contato com Greatmaster.


A prisão estava em rota de colisão com São Paulo, o que poderia se tornar uma imensa tragédia e, enquanto os heróis americanos se encontravam paralisados, outro grupo assumiu a situação.


A Brigada Extrema é um grupo formado por Resgate, Trilha, Expansão e outros heróis, todos reunidos para agir sempre com a segurança de inocentes acima de tudo o mais.


Com uma ação extremamente bem coordenada pelo Expansão, a Brigada conseguiu controlar a situação, com casualidades zero e mantendo a cidade de São Paulo em segurança, até que os Superiores se retirassem levando sua prisão.


Sem que os heróis brasileiros soubessem, um dos vilões responsáveis pelo motim conseguiu escapar e agora estava junto com aquele que orquestrou todo o incidente.




Terra Zenith.

Resgate #7.

Protegendo os inocentes.


O que acha?


Resgate estava em um dos vários laboratórios pessoais de seu colega de equipe, Altair Salvador, o Expansão, que exibia, com um orgulho nem um pouco disfarçado, o que ele batizara de Armadura R.55, uma versão um pouco diferente do uniforme usual que Jonas utilizava.


Bom, temos um capacete novo e, deixa eu ver, algo mais?


As manoplas seu babaca. Elas estão com um design mais simples, mesmo não tendo perdido nenhuma função, na verdade temos umas pequenas novidades aqui.


Altair se adiantou até as costas da mão direita do traje e após liberar um pequeno painel de controle, passando de leve seu dedo pelo nanometal, apertou um dos vários botões que se revelaram.


Imediatamente o uniforme do Resgate foi mudando de cor, o branco deu lugar ao preto, o vermelho e o dourado ficaram muito mais escuros.


Modo furtivo. Nunca se sabe quando você pode precisar agir na surdina, mesmo com seus poderes, muitas vezes, a sua névoa chama muito a atenção.


Cara, isso é bem legal. — o herói conferia como seu uniforme havia ficado com aquelas cores, antes de voltar às originais. — Mal posso esperar para dar uma volta com esse novo traje, mas sei que você não me chamaria aqui apenas para me mostrar esse upgrade. Desembucha.


Nesse momento um outro homem entrou na sala.


Ele trajava um uniforme preto e vermelho, coberto por uma jaqueta azul com capuz, o rosto trazia uma feição cansada, de alguém que não dormia a um bom tempo.


Resgate, quero que conheça o Perdigueiro. Eu o encontrei a alguns anos e desde então ele recebe suporte total da minha empresa e das minhas habilidades, do mesmo jeito que faço contigo e a Brigada.


E eu já conheço o principal agente da equipe do Expansão. Seu trabalho, dando sempre preferência à salvação dos inocentes, é incrível Resgate.


Os homens se cumprimentaram solenemente, apertos firmes, mas não intimidadores.


Valeu mesmo, mas agora tô muito curioso. Com o que o nosso amigo te ajuda?


Assim como você sempre coloca a vida das pessoas acima de tudo, como todos os zeniths deveriam fazer, mas que não fazem, visto no caso recente com os metidos dos americanos, mas bem, desculpe, trabalho solo e não interajo muito com outras pessoas, por isso, às vezes, eu acabo divagando e fujo do assunto.


Tudo bem, acredite, pra quem convive com o Expansão, eu tô acostumado com divagações.


Ah, sim. E quando ele tenta explicar de forma complexa como funciona o poder dele? Eu quase desmaio de tédio.


Sim! Tô dando graças a Deus pelo novo visor, que não deixa minha cara de sono à mostra.


Vocês sabem que eu continuo aqui né?


Bom, deixando as brincadeiras de lado, o Expansão e eu nos encontramos quando eu estava no meio de uma missão. Depois do clássico estranhamento inicial, na época eu não usava um uniforme bonito como esse de agora e como eu estava coberto de sangue, acabamos nos desentendendo e depois de finalizar tudo, ele me ofereceu suporte, tanto financeiro quanto tecnológico.


Não consigo ver um talento como o seu... — o líder e mantenedor da Brigada Extrema pousou a mão no ombro esquerdo do Perdigueiro, antes de continuar. — E sendo tão dedicado à missão que escolheu, eu acabo mesmo me intrometendo, tentando ajudar a se tornar a melhor versão de si mesmo.


Sim, eu já sei como você opera amigo. — Resgate falou sem olhar para o Expansão, mantendo sua atenção no homem que acabara de conhecer. — Mas afinal de contas, Perdigueiro, o que você faz e como eu posso ajudar?


Basicamente eu tenho um misto de poderes. Sou capaz de localizar pessoas pela impressão que elas deixam para trás, seja em um lugar, como suas casas, ou em pessoas ou animais, muitas vezes eu entro em contato com pais, guardiões legais, cães ou gatos., antes de procurar alguém desaparecido.


Entendo. — Resgate se recostou em uma parede próxima, os braços cruzados sobre o peito, torcendo para que, finalmente, o outro parasse de divagar e fosse direto ao assunto. — Parece com um dos meus poderes, que chamo de Visão Espiritual, mas, por favor, continue.


Eu, bem, tive péssimas experiências na infância, por isso, quando descobri esses poderes e os usei pela primeira vez, eu encontrei um grupo de crianças que, após terem sido sequestradas, estavam sendo mantidas presas no porão de um casarão no interior de Minas Gerais, onde os desgraçados que haviam levado as coitadinhas estavam gravando vídeos para um grupo de pedófilos ricos. Para resumir, eu salvei as crianças. Já os putos, bem, nunca mais vão causar mal a ninguém.


Silêncio pesado entre os três homens, Expansão reparou que os punhos de seu aliado, pai de gêmeos, se fecharam e tremiam levemente, deixando claro o ódio que ia se formando em seu interior, mesmo que o capacete novo não deixasse nenhum detalhe do seu rosto à mostra.


Desde então eu caço esses desgraçados, no começo apenas com meus poderes, isso até eu encontrar o Expansão. Você imagina o que aconteceu em seguida não é?


Uma “perseguição” no melhor estilo stalker, oferecimentos de melhorias, trajes, suportes e ai de você se, em algum momento, disser um simples “obrigado, mas não preciso”.


É sério. Vocês sabem que estou aqui e que não tenho problemas de audição, não é?


Os três acabaram por soltar um riso contido, o que ajudou a amenizar o clima pesado que estava no ar, desde a revelação sobre os principais alvos do Perdigueiro, que não perdeu tempo em retomar o assunto que os trouxera até ali.


Estou acostumado a agir sozinho, até para evitar discussões inúteis a respeito do destino dos criminosos que entram no meu caminho, mas surgiu uma situação onde um grande grupo de crianças pode se ferir se eu agir como sempre faço. Por isso procurei o Expansão e pedi para entrar em contato com você. Posso te passar os detalhes que tenho aqui num pendrive para você analisar antes de aceitar e… Aonde está indo?


Resgate já se encaminhava para a saída da sala quando, sem parar seu avanço, olhou por cima do ombro.


Você precisa da minha ajuda para salvar crianças, não é? Então não preciso de nada para aceitar ou não. Expansão, estamos de saída. Deixe um local preparado para receber todos que resgatarmos.


E então Resgate e Perdigueiro saíram para caçar.


Longe dali, na Rua do Tormento, um servo se questionava mais uma vez os motivos pelos quais continuava a fazer tudo o que Expurgo lhe ordenava sem, ao menos, questionar.


Maldição! Fique parado desgraçado!


Tenebris usava, inutilmente, todo seu poder sombrio para reforçar os grilhões que aprisionavam a mais recente abominação criada por seu mestre.


O porão de uma das casas tomadas pelo vilão tremia a ponto de fazer algumas das paredes acima racharem e caírem, comprometendo totalmente a infraestrutura interna, uma vez que o poder do Expurgo era o suficiente para manter perfeito o exterior de todas as residências daquela rua.


Tão repentinamente quanto a criatura, cuja forma real se mantinha oculta por uma manta de energia sombria, começou a se debater ao acordar, seus movimentos foram ficando mais e mais lentos, até voltar à inação completa.


Você está se mostrando mais e mais inútil a cada dia, Tenebris. Não posso me ausentar nem por algumas horas sem que você coloque em risco meus planos.


Mestre! Eu lamento imensamente. Eu…


Com um movimento da mão esquerda, Expurgo fez seu servo voar pelo porão, acabando literalmente enterrado em uma parede próxima, dentro de uma cratera, aberta devido à força do que ele fora arremessado.


Não quero ouvir o som irritante da sua voz.


Dizendo isso, ele se voltou para a entrada do porão, a porta do local se abrindo lentamente e dando passagem para o novo aliado do vilão.


Sem poder falar, restou a Tenebris apenas arregalar seus olhos, tendo a certeza de que, finalmente e naquele momento em específico, seu mestre tinha decidido ultrapassar todos os limites.


Aquela Caçada Mortal ao herói conhecido como Resgate, acabara de subir de nível.


Algum problema? Se quiser mudar de ideia quanto a me ajudar, ainda dá tempo.


Nunca. Eu… Eu só senti um arrepio estranho na espinha. Tô bem. E pronto.


Alheio aos planos que eram tecidos por seus inimigos, Resgate se encontrava ao lado do Perdigueiro, ambos no alto de um prédio localizado em um bairro residencial de São Paulo.


Beleza. O que seus poderes dizem?


Cerca de cinquenta crianças, pelos tamanhos devem variar entre cinco e doze anos, alguns mais jovens, poucos mais velhos. Estão deitados, espalhados pela cobertura, com certeza, drogados. Esses filhos da puta…


Resgate mantinha sua visão espirital ativa, o único sinal eram dois olhos estilizados, que brilhavam no visor do seu novo capacete, que continuava escondendo sua feição crispada de raiva.


E o salão lá no térreo está cheio de adultos, chegando mais a cada minuto. Políticos, figuras públicas, produtores de conteúdo para tevê ou internet. Homens e mulheres que tentam a todo custo esconder seus gostos amaldiçoados. Por causa deles, dezenas daquelas crianças ou foram sequestradas, ou vendidas pelos próprios pais.


O Perdigueiro dizia aquilo sem conseguir esconder ou disfarçar o ódio que borbulhava em seu íntimo.


Ele sequer tentaria, pois aquilo servia como combustível para o que ele faria em minutos.


Como de costume, o Expansão preparou uma casa segura, para receber, tratar e, depois que estiverem recuperados, localizar as famílias daquelas que foram sequestradas e, principalmente, os responsáveis por aqueles que foram vendidas. Você já tem o endereço, certo?


O outro herói apenas fez um gesto positivo com a cabeça. Estava cada vez mais difícil falar algo que não fossem xingamentos.


Perfeito então. Você vai ate lá e, assim que eu vir vocês voando para longe, eu entro em ação.


Tem certeza de que não precisa de ajuda?


Nesse momento o Perdigueiro ficou de pé, olhar fixo no capacete de seu companheiro temporário.


Eu te chamei para garantir a segurança das crianças e nada mais. O que eu faço, o que eu tenho de fazer, é melhor que eu faça sozinho. Tem certeza de que isso não será um problema?


Não foram necessários mais do que alguns segundos, em que a imagem dos filhos pipocou na mente de Resgate, para ele responder ao outro.


Vou fazer o que vim fazer aqui. Quanto ao destino daqueles desgraçados lá de baixo eu… Não me importo e, te garanto, Não vou olhar para trás nem por um segundo.


Mais nenhuma palavra era necessária, por isso Resgate se concentrou, fez sua névoa espiritual lhe cobrir por inteiro e, em seguida, já estava voando na direção do prédio.


Em silêncio completo ele atravessou o topo do salão onde as crianças estavam e imediatamente ficou com os punhos crispados pois, ao ver aquelas crianças, todas quase desmaiadas devido a drogas que, com certeza, foram administrados para que as coitadas não oferecessem nenhum tipo de resistência, seu ódio borbulhou novamente.


Graças a um controle que surpreendeu até mesmo ele próprio, Resgate espalhou sua névoa, tomando o cuidado para que todas as crianças presentes fossem devidamente envolvidas e, com a maior delicadeza que seus poderes permitiam, começou a fazer com que todas flutuassem.


Foi com dor no coração que ele percebeu algumas das crianças, sob os efeitos das drogas, agindo como se estivessem mesmo em um sonho, onde podiam voar para longe daquela vida desgraçada para onde haviam sido arrastadas.


Expansão. — levando um dedo até a lateral esquerda do capacete, o herói entrou em contato com seu companheiro, usando os codinomes, como já combinado previamente, pois nunca se podia ter certeza de que aquele canal de comunicação estava ou não comprometido. — Muitas das crianças estão apresentando sintomas de uso excessivo de drogas. Chame o Caduceu na Ilha da Cura e o envie até o abrigo. Eu estou a caminho. Resgate desligando.


Em poucos instantes o herói e as crianças já se encontrava voando pelos céus da cidade, se afastando rapidamente do prédio onde algo, que já podia ser considerado um pesadelo, se tornaria um inferno.


Um inferno justo, mas, ainda assim, um inferno.


O Perdigueiro não precisou erguer o olhar, para ter certeza de que o companheiro temporário havia realizado com perfeição sua parte no plano, por isso saltou do topo do prédio onde estavam e, graças aos bloqueadores de inércia, pousou suavemente na calçada do outro lado da rua, seguindo com passos calmos até onde os últimos convidados, da lista que ele havia hackeado, acabavam de entrar.


Lá dentro estava Jacó, o recepcionista, um homem musculoso com quase dois metros de altura, que já ia se afastando da entrada, uma vez que ninguém mais estava sendo esperado, por isso se surpreendeu com algumas batidas na porta.



Ele voltou, o punho direito indo vagarosamente até a arma presa na cintura, enquanto abria uma pequena portinhola, feita para que pudesse ver o rosto de quem chegava.


Para sua surpresa o que apareceu, no entanto, era algo que lembrava uma máscara estilizada de um crânio de cachorro, que emitia uma luz avermelhada.


Mas quem…


Sua frase foi interrompida quando um punho atravessou a abertura, atingindo o rosto de Jacó bem na altura do nariz, fazendo afundar em seu rosto ossos e cartilagem, matando-o mais rapidamente do que o invasor gostaria, mas, naquele momento, a melhor forma de entrar precisava ser sem demora e sem barulho em excesso.


O Perdigueiro abriu a mão ainda dentro da cabeça do recepcionista, evitando assim que ele caísse, o que eliminaria o elemento surpresa daquela invasão cedo demais, Por isso ele aguardou alguns instantes, enquanto fazia emanar de sua mão livre uma energia rubra, que envolvia a maçaneta da porta, destrancando-a.


Uma vez lá dentro, tendo a certeza de não ter chamado atenção indesejada, ele retirou a mão, deixando o corpo sem vida caindo no chão de forma displicente, uma vez que já não havia mais ninguém na recepção para ver o fim de Jacó e, após entrar, nem se deu ao trabalho de fechar a porta atrás de si, que se moveu sozinha e se trancou, conforme a energia rubra do invasor ia se espalhando pelo chão e paredes.


Logo o interior todo estava isolado do mundo de fora, o que proporcionaria toda privacidade que o Perdigueiro precisava.


Afinal de contas, daquela forma, os gritos, que começariam em breve, não incomodariam os vizinhos.


Conforme ia avançando o murmurinho típico de uma aglomeração de pessoas, reunidos em um grupo tão animado, ia chegando aos seus ouvidos, o que fazia seus punhos continuarem fechados, irradiando cada vez mais sua energia.


"Mal posso esperar pelos petiscos de hoje."


"Minha mulher não me deixou em paz até que finalmente recebi o convite e a trouxe comigo."


"Será que vão deixar a gente levar marmita para casa?"


Risos estridentes ecoavam por entre as frases dos criminosos e, se sentia algum desconforto por estar usando tanto do seu poder, ele não se permitia nem um único sinal de enfraquecimento, ou sequer incômodo.


Muito pelo contrário.


O Perdigueiro finalmente entrou no imenso salão, com certeza, algumas paredes do prédio haviam sido derrubadas para que o local ficasse ainda mais espaçoso e pudesse abrigar o máximo de clientes por evento,


Naquele o lugar todo mergulhou no mais profundo silêncio.


Numa sociedade acostumada com a existência de seres humanos que apresentavam superpoderes, um uniformizado como aquele, geralmente, significava problemas.


Sérios problemas.


Se fosse uma pessoa comum, rezava para que não fosse um vilão, mas se fosse um criminoso, a última pessoa que queria ver em sua frente seria justamente um herói.


Aí mano! Que merda de roupa é essa? Cadê o anfitrião e a nossas crianças?


Um famoso rapper ia se aproximando, uma coragem conseguida de, segundo palavras dele em várias entrevistas, uma ascensão meteórica baseada apenas em sua coragem, dom artístico e confiança em Deus.


Claro que suas transgressões, como tráfico de drogas, violência contra inocentes e os corpos desaparecidos de vários críticos de suas músicas, nunca entravam em seus discursos motivacionais, que recentemente, começaram a atrair milhares de seguidores nas redes sociais.


E ali estava ele, dedo indicador da mão direita em riste, preparado para acertar com tudo o peito do homem de uniforme à sua frente, uma postura que, em tempos passados, por conta de sua fama, bastava para abrir portas, ou, como ele acreditava ser o caso, remover obstáculos de seu caminho.


O que ele nem sequer podia imaginar era que, em momento algum, conseguiria tocar aquele dedo, ou qualquer outra coisa, no Perdigueiro.


Um grito de dor fez todos os presentes encolherem seus corpos inconscientemente, enquanto o rapper ia dando passos trêmulos para trás e levando a mão esquerda ao que restara de seu outro braço.


Braço esse que agora jazia sendo disputado pelas três cabeças de um cão feito de energia, que acabara de ser materializado pelo Perdigueiro.


Os presentes se mantiveram num terror silencioso por alguns minutos, conforme o homem amputado ia ajoelhando lentamente, tentando de forma desajeitada conter o jorro de sangue que ia se espalhando pelo linóleo do chão, o que formava uma extensa mancha.


Cérbero 01. Pega.


Não levou um segundo para que a cabeça do meio abocanhasse o rosto do criminoso, enquanto as outras duas se encarregavam de seus ombros, destroçando completamente o homem, de quase um e noventa de altura, em instantes.


Vejo homens e mulheres que independente de raça, credo, gênero, ou qualquer que seja o motivo de discórdia atualmente em moda, se reuniram com um único propósito: Abusar de inocentes. Isso acaba agora.


O caos se espalhou como um rastilho de fogo perseguindo um fio de combustível, com os mais de cinquenta criminosos tentando encontrar uma saída, apenas para descobrir que portas e janelas estavam bloqueadas por um impenetrável campo de força, enquanto o Perdigueiro ia criando mais Cérberos.


Um. Cinco. Dez.


Peguem todos. Que não sobre nenhum deles.


Horas depois, Resgate e Expansão observavam as crianças resgatadas, todas devidamente sendo atendidas no prédio principal da Ilha da Cura, um dos maiores investimentos do líder da Brigada Extrema, que construiu uma ilha artificial, onde foi erguido todo um complexo médico que, por estar em águas internacionais, poderia atender qualquer país que solicitasse ajuda.


E o Perdigueiro?


A única resposta do Expansão foi criar uma imagem holográfica de seu celular, exibindo próprio aplicativo criado por ele mesmo, para conversas digitais.


Um emoji de “jóinha”, Altair? Sério que ele só mandou isso?


Fazer o que,Jonas? Ele disse que detesta digitar e como você bem sabe, eu não peço relatórios dos meus aliados.


Quando puder, reforce que ele pode me chamar a qualquer hora que precisar.


E você tá bem com o que ele fez com os criminosos?


Você sabe o quanto meus filhos são importantes para mim não é? Talvez eu não agisse como o Perdigueiro, mas não vou chorar nem perder um minuto da vida pensando, ou sequer lamentando, pelo fim de pedófilos. E quanto às crianças?


Estamos garantindo que elas não fiquem com nenhuma sequela física por causa dos inúmeros abusos sofridos. — o herói tecnológico precisou respirar fundo, antes de continuar. — Aqueles desgraçados entupiram todos com uma variedade imensa de drogas e isso foi só o topo do iceberg de merda que eles fizeram.


Novamente Resgate sentiu as entranhas borbulharem de ódio, enquanto seu colega ficava mais uma vez em um silêncio incômodo, antes de voltar a explicar.


Mas o prognóstico é bom e já estamos trabalhando com dezenas de agências mundiais de proteção à criança para identificarmos cada uma das delas e entrar em contato com suas famílias o mais rápido possível. Queremos até, no máximo, o fim de semana, devolver todos para casa. Pelo menos…


Pelo menos?


Pelo menos aquelas que tem uma família para voltar. Já sabemos que algumas aqui são órfãs, possivelmente sem nenhum parente vivo para assumir suas guardas, sem contar aquelas que foram… Entregues.


Vendidas, você quer dizer.


Um consternado aceno positivo foi a única resposta do Expansão.


Eu… Eu vou sair mais cedo. Quero chegar em casa com os gêmeos ainda acordados. Tô precisando muito abraçar aqueles monstrinhos.


Resgate acionou seus poderes e no instante seguinte atravessou o teto, sabendo que as crianças estavam nas melhores mãos.


Se tinha alguém capaz de ajudá-las, esse alguém seria o Expansão.


O papai chegou mais cedo!


A frase foi dita em uníssono por Marina e Renan, prenunciando o “ataque” que terminou por levar seu pai ao chão, em meio a risos e rosnados de mentira.


Amanda correu até a janela mais próxima e olhou por alguns instantes para o céu.


Bem que falaram que hoje podia acontecer chuvas torrenciais sem aviso nenhum! Criançada, bora vestir nossos coletes salva vidas. Hoje vai ter dilúvio.


Mais risadas e a noite transcorreu tranquila, pizza no jantar e desenhos para entreter as crianças que, tamanha a alegria de passar um tempo de qualidade com o pai, acabaram indo surpreendentemente sem resistência para a cama e ele ficou a observá-los dormindo durante um bom tempo.


Jonas deu um beijo de boa noite no alto da cabeça de Amanda, o que dava algumas ideias para a bela ruiva tentar chamar novamente a atenção dele, mas o destino foi mais rápido, quando um toque de celular fez ele se afastar.


Foi mal Amanda, Tenho uma emergência. Quem disse que ia dar certo eu ir pra cama cedo?


É como você diz né, Jonas? — se percebeu o desânimo na voz de sua amiga, o herói não deu nenhum sinal e, enquanto acionava seu uniforme, ela continuou. — Um trabalho que não tem fim.


Antes de acionar seus poderes e sair atravessando a parede da sala, Jonas, agora já como Resgate, mandou um beijinho para Amanda que, sem outra escolha, seguiu para seu quarto, já sabendo que seria mais uma noite abraçada ao seu travesseiro.


No topo de um prédio próximo alguém acompanhava o avanço do herói pelos céus noturnos de São Paulo.


Mais um número. Em breve, muito em breve, você será apenas mais um número na minha lista de abate. Muito em breve.


E então ele sumiu em meio a uma névoa escura.





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1 Comentários

  1. Um assunto tão abjeto quanto a pedofilia, pautas de projetos contra a adultização precoce de crianças exploradas nas redes, foi tratado com todo o cuidado possível, trazendo Perdigueiro e seu estilo caçador canino, é brutal em seus métodos.

    Mas, necessário!
    Com a corja de abusadores, muitos deles, figuras influentes, não deve se ter piedade.

    Tiveram o fim que buscaram.

    Parabéns pelo seu retorno ao Multiverso Literário , com um de seus melhores títulos aqui!

    Mandou bem demais!

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