Quando o sonho de uma vida precisa acabar.
E lá vamos nós, agora para conseguir algumnas respostas de como Natalie foi capaz de salvar Caio.
Portanto, sem mais... Boa leitura!
17. Revelação.
Caio continuava a ver as memórias da condutora que ele havia batizado como Cristal, conforme ela e sua versão mais jovem ressurgiam dentro de uma versão da Estação Chronos.
― Finalmente estamos em segurança... ― a pequena condutora sentia-se dividida entre aliviada e assustada – E o que fazemos agora?
― Se nós duas escapamos e a Natalie e o Caio estavam com a gente na moto cronal, eles devem estar em algum lugar... Mas como a gente vai achar os dois?
― Sempre que eu procurava um candidato a Guardião eu sentava e me concentrava muito... ― quando falava daquele jeito a pequena condutora parecia muito mais velha que era de fato. ― Com você era assim também?
― Hum... É verdade... devo conseguir encontrar o Caio... Foi assim que você me achou? – A pequena confirmou com um tímido aceno de cabeça. – Certo... Melhor nos concentrarmos primeiro na Natalie, pois como foi a mais velha quem a convocou, talvez tenhamos mais dificuldade com ela... Vamos lá.
As duas se sentaram uma de frente para a outra e fecharam os olhos.
Os minutos passaram rápido, depois as horas e, sem que percebessem, quase uma semana havia se passado quando, finalmente, ambas abriram os olhos, puxando sofregamente o ar, como alguém que estivesse se afogando.
Durante a busca, até mesmo respirar havia ficado em segundo plano.
― Achamos...
― Sim pequena... Mas não vai ser fácil fazê-la acordar...
― Tadinha... Precisamos mesmo fazer isso?
Se esforçando para transparecer uma força além da que tinha, Cristal ignorou as lágrimas de sua versão mais jovem, conforme se erguia, tirando a poeira acumulada em sua roupa, por causa do tempo sem se mover e, caprichando na pose imponente, manteve o que havia dito.
― Precisamos dos dois últimos Guardiões Cronais. E vamos buscá-los. Agora.
Instantes depois, em Paris, o dia estava perfeitamente ensolarado e as condutoras observavam uma família em meio a um piquenique.
Os pais permaneciam sentados, curtindo o calor agradável e uma ou outra brisa passageira.
Não muito longe duas irmãs brincavam com um frisbee, rindo alto, sem nem ligar para os celulares, algo raro nos dias atuais.
― Como faremos isso?
― Não sei Topázio... precisamos ser rápidas, mas não podemos causar um choque grande demais... Talvez se simplesmente nos mostrarmos, com nossos visuais de condutoras, ela comece a despertar e... Por que está sorrindo?
― Você me chamou de Topázio...
― Ah, sim... Como o Caio me chama de Cristal, achei que esse nome combinava com você... Tudo bem?
― Eu adorei! ― trocaram um abraço e então resolveram agir. ― Agora.
O fresbee voou até próximo das condutoras, ambas já com seus uniformes, ficando bem à vista de Natalie, que se aproximou, pegou o pequeno disco, olhou demoradamente para as duas e se voltou para onde estava sua família, sem o menor sinal de ter reconhecido-as.
― Pelo visto vai ser mais difícil do que pensei...
― Mas vamos continuar não é Cristal?
― Com certeza!
E continuaram.
Nos dias, semanas, meses seguintes, onde quer que Natalie estivesse, lá estavam Cristal e Topázio.
Todas as vezes a garota as ignorava, inclusive quando elas tentavam conversar, nesses momentos, Natalie fechava a cara e se afastava.
― Tá difícil Cristal! ― usando roupas comuns as condutoras passavam por irmãs, enquanto comiam numa lanchonete. ― O que vamos fazer?
― Não temos escolha... Vamos ter que apelar...
Elas seguiram então até a casa da antiga guardiã D'acier, as duas dispostas a bater na porta e confrontá-la.
Assim que chegaram na rua onde ela morava, no entanto, perceberam que Natalie acabara de sair e parou, olhando diretamente para as duas, fez um movimento com a cabeça, indicando que elas deviam segui-la.
Minutos se passaram, a antiga Guardiã Cronal se manteve de cabeça baixa, o capuz de sua blusa cobrindo os cabelos alaranjados, mãos nos bolsos, corpo levemente arqueado, andando com passos rápidos até alcançarem uma praça não muito longe de sua casa.
Somente nesse momento ela se voltou para as condutoras, retirou o capuz e, com uma expressão séria, deixando transparecer um misto de raiva e tristeza, ela tirou as mãos dos bolsos, os punhos estavam fechados e tremiam de leve.
― Então é isso? Chegou a hora certo?
― Então… ― Cristal deu alguns passos receosos na direção de Natalie, ela não estava acreditando no que a outra dizia. ― Você já tinha despertado todo esse tempo? E ficou fingindo não nos reconhecer? Por que?
Lágrimas começaram a nascer nos cantos dos olhos da bela francesa, a boca se apertou, o corpo começou a exibir pequenos tremores, tamanha a força que ela fazia para não desabar.
― Assim que despertei nesse mundo eu já tinha percebido se tratar de outro lugar… Um ao qual eu não pertencia... ― com voz embargada, ela foi explicando. ― Eu não vivia nessa época, mas vários anos no futuro, um futuro devastado por algo que nos atacou… Eu… Meus pais morreram e eu vivia… Sobrevivia... Com minha irmã, quando a condutora mais velha me convocou... Com aquela promessa…
― De mudar algo na sua história… Sim… Ela disse o mesmo para nós duas, quando revelou ser uma versão futura nossa, que precisava de nós para salvar o mundo…
― Então... Depois da incursão... Da nossa fuga... Eu levantei da cama pronta para qualquer ataque, sai do quarto… Desci as escadas, as mãos já estavam prestes a formar meus punhos de energia, mas quando cheguei na cozinha…
Ela então parou de falar, as lágrimas agora desciam fartas pelo seu rosto.
― Eles estavam lá não é? Seus pais e sua irmã?
Natalie apenas acenou positivamente com a cabeça.
Sem aviso nenhum Topázio se adiantou, correu na direção de Natalie e a enlaçou num abraço ao redor da cintura, que foi prontamente retribuído, as duas acabando por chorar juntas.
Minutos se passaram, em sua mente, a garota francesa repassou todo o tempo em que esteve nessa nova realidade, aproveitando ao máximo algo que poderia nunca mais ter, seus pais e irmã vivendo em paz e em plena felicidade, mas então imagens de sua irmã, a verdadeira, sozinha e passando perigo, ou pior, caindo nas mãos da criatura que a havia convencido ser capaz de mudar seu próprio passado.
Aquilo era demais para ela, não podia aguentar mais.
Natalie ergueu o rosto, limpou as lágrimas e agora, com uma expressão mais decidida, se voltou para Cristal.
― Certo… Vivi uma vida de sonhos, com meus pais e minha irmã, ou melhor, com versões deles… Mas agora chega de tanto egoísmo. Preciso voltar para minha irmã de verdade e passarei por qualquer inferno que for preciso… E coitado ou coitada de quem entrar no meu caminho…. ― Topázio se afastou, conforme uma energia dourada ia se formando ao redor de Natalie, e logo a Guardiã D’acier estava ali, em toda sua imponência. ― O que faremos agora?
― Agora… ― Cristal podia sentir uma distorção no espaço-tempo chegando até ela, um sinal claro de que a Mãe Primordial, tarde demais, havia percebido o que ela estava fazendo. ― Agora vamos atrás do Guardião Bisturi.
O contato mental entre Cristal e Caio se desfez, o rapaz deu vários passos para trás, acabando por sentar no chão mesmo, para colocar a mente em ordem, era muita informação para absorver.
Após alguns minutos ele se ergueu, seguindo até a pequena condutora.
― Topázio então? ― a menina abriu um enorme sorriso. ― Taí… Combina com você…
Depois de bagunçar carinhosamente os cabelos dela, Caio se aproximou de Natalie e a tomou num longo e apaixonado beijo.
― E você, uma garota do futuro? As coisas só melhoram nesse namoro…
Com sorrisos tristes nos rostos, eles já sabiam que, muito provavelmente, se sobrevivessem ao que estava por vir, o destino deles não era ficar juntos.
Com suas testas coladas, os olhos fechados e sem precisar de palavras, juraram em seus íntimos que viveriam intensamente o tempo que tinham juntos, fosse em combate, ou em momentos de intimidade.
― Bem… Cristal… ― Foi Natalie que ergueu o rosto primeiro, se voltando para a condutora adolescente. ― Por favor… Me diz que você tem um plano.
― Tenho, mas antes… Precisamos de algumas respostas…
Ela tomou a frente dos demais, se baixou, apoiando-se sobre um dos joelhos, ficando de frente para sua versão mais jovem.
― Topázio… ― com dor no coração ela percebeu a engolida em seco que a menina fez. ― Preciso saber o que aconteceu com você… Como você despertou e como me achou…
De imediato a pequena ficou com os olhos cheios de lágrimas, sentindo o choro subir por sua garganta, mas percebendo o apoio de todos os presentes, ela respirou fundo, engoliu o choro e contou.
Contou tudo.
Continua.
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