Que tal um passeio bem relaxante?
E cá estamos nós, após alguns interlúdios, voltando a esse mundo que acabou numa Sexta-Feira.
Aqui se inicia um novo e, espero, surpreendente arco, com novos personagens e o que o apocalipse zumbi pode tirar de melhor deles.
E de pior também.
Portanto... Sem mais delongas...
Boa leitura!
7.
Vamos passear no Shopping.
O
pequeno Guto se mantinha encolhido num dos cantos da lanchonete de um shopping,
onde seus pais conseguiram que alguém o acolhesse, enquanto afastavam dali um
grande grupo de zumbis.
Ambos
haviam sido mordidos e não tardaria para virarem monstros.
"Sempre
se esconda... E não confie em ninguém... Você deve se manter vivo... Te
amamos..."
Essas
foram as últimas palavras que sua mãe lhe disse, enquanto as portas de ferro
eram baixadas de vez e Guto seguiu até onde pretendia ficar.
Pelo
menos enquanto não fosse preciso se esconder.
— Se
trabalharmos juntos podemos fazer frente a esses monstros... Podemos sair daqui
e encontrar um lugar melhor para ficar...
Em
meios aos sussurros dos demais ali presentes, quatro adolescentes e um casal de
idosos, Guto descobriu que o nome do líder era Fernando alguma coisa, o garoto
estava ocupado com seus próprios planos para prestar atenção nas conversas dos
adultos
Guto
não olhava na direção do homem, que tentava liderar o grupo de sobreviventes e
que não fazia nenhuma questão de baixar o volume de sua voz.
Claro
que o pior aconteceu e logo, atraídos pelo discurso inflamado de Fernando,
dezenas de punhos acinzentados começaram a socar as portas da lanchonete,
espalhando o desespero em todos os sobreviventes.
O líder
foi um dos que mais gritou e entrou em pânico quando as portas de metal
finalmente cederam, deixando o inferno passar, na forma de inúmeros zumbis
sedentos por carne.
Para
poder se salvar, aproveitando seu tamanho e, principalmente, a força que vem da
adrenalina, Fernando abriu caminho empurrando tanto os zumbis, quanto quem mais
entrasse em seu caminho, implorando por ajuda.
O casal
de idosos foi encurralado tentando se esconder atrás de uma mesinha redonda,
dois dos adolescentes foram jogados nas garras dos monstros pela escapada de
seu "corajoso" líder e os outros morreram abraçados e gritando por
uma misericórdia que os mortos não estendiam a ninguém.
Guto
assistia a tudo aquilo de dentro de uma caixa grande e personalizada, feito
pelo dono da lanchonete, onde guardava cocos verdes, que o garoto havia
retirado com cuidado e silêncio, enquanto Fernando atraía a atenção de todos,
vivos e mortos.
Tendo
pego anteriormente alguns lanches naturais, que ainda estavam no balcão e
algumas garrafas de água, ele pretendia passar o máximo de tempo ali dentro, se
ninguém o achasse, claro.
No alto
de seus dez anos, o menino já entendera que o mundo havia mudado e,
dificilmente, voltaria a algo que pudesse ser considerado normal.
Mas o
que era o normal?
Pensando
nisso, abraçado com seus suprimentos, ele adormeceu.
XXX
Muitos
filmes venderam a ideia de que um shopping, em meio a uma infestação zumbi,
seria um ótimo lugar para se proteger.
Raramente
foi mostrado o que podia acontecer em um Shopping com centenas de pessoas, no
Happy Hour, em meio a uma invasão Zumbi.
Jairo,
por exemplo, encontrou seu destino vestido de palhaço, um monitor contratado
pela direção do shopping, para cuidar das crianças em uma imensa piscina de
bolinhas.
O
coitado não conseguiu sair do meio do brinquedo, quando dezenas que pequenos
zumbis o cercaram e seu corpo, agora parcialmente comido, lá permanecia, sem
conseguir sair, debaixo do mar de bolas de plástico.
Uma
armadilha eterna para qualquer desavisado que, porventura, viesse a cair lá
dentro.
XXX
Sem ter
a menor noção de quanto tempo se passou desde que adormecera, Guto percebeu que
os sons de gritos pareciam abafados, dando a impressão de estarem vindo de
longe.
Arriscou
uma olhada para fora da caixa, percebendo apenas o que lhe parecia uma pessoa
ajoelhada sobre outra que estava deitada e imóvel.
"Você
deve se manter vivo".
Algo
pareceu dar um estalo na mente do menino, que saiu o mais silenciosamente
possível da caixa e, antes de caminhar até onde estava o que ele já
identificara como um zumbi, pegou a maior faca que encontrou, jogada sobre o
balcão.
Guto
conseguiu se aproximar a poucos centímetros da criatura, que continuava a se
refestelar na carne de sua vítima.
Quando
finalmente se deu conta da presença de um novo suprimento de comida, a criatura
ergueu a cabeça, mas nem teve tempo sequer de soltar nada mais que um rosnado
baixo, que foi definhando como um assobio, quando a lâmina da faca literalmente
sumiu exatamente no espaço entre seus olhos.
No
instante seguinte, o zumbi estava caído sobre sua semidevorada vítima, o corpo
exibindo os estertores de sua segunda e agora definitiva morte.
Nem ao
menos uma gota do sangue infernal espirrou em Guto, que se mantinha parado, as
mãos abrindo e fechando, tentando controlar a excitação e animação que se
espalhavam por seu corpinho.
Calma e
controladamente ele vasculhou toda a lanchonete, reunindo numa mochila, que ele
acabara de encontrar e esvaziar, tudo o que precisava, como comida, água e
todas as maiores facas que pudesse carregar sem atrapalhar sua movimentação e
velocidade.
Vestiu
uma blusa alguns números a mais do que ele usava, também achada caída num
canto, fechando o zíper até cobrir sua boca, colocando o capuz sobre a cabeça,
logo depois de improvisar uma bainha para uma faca em seu antebraço esquerdo.
Na mão
direita empunhou um cutelo e só então sentiu-se confiante para dar os primeiros
passos para fora da lanchonete.
"Pode
deixar mamãe..."
Sem
poder falar para não chamar a atenção dos zumbis, Guto iniciava um costume que
o acompanharia até o fim de seus dias, fossem quantos fossem, o de falar
mentalmente consigo mesmo, ou como ele vinha chamando a alguns meses, falar com
seu amigo imaginário, o Tugo.
"Nós vamos sobreviver..."
4 Comentários
Estamos chegando no ponto, esse novo personagem realmente assustou bastante, mais que os próprios zumbis de certa forma, estou ansioso pela continuação e ver como isso se conclui, pelo menos esse arco, parabéns uma vez mais pelo trabalho primoroso e inovador meu amigo!
ResponderExcluirValeu demais pela leitura e comentário amigão!
Excluireu me esforcei para bolar um novo arco que não fosse apenas um eco ou repetição do arco anterior.
Espero mesmo que você goste do que vem por aí.
Valei!!
Muito interssante a inserção do pequeno Guto.
ResponderExcluirPerder os pais aos dez anose, ainda por cima , dessa forma tão trágica, não é pra qualquer um.
Manter-se vivo, segundo a lembrança da última frase de seu pai, antes de se tornar um zumbi, antes de ser um desejo, se tgornou um imperativo de sobrevivência.
Vejamos como Guto reagirá a esse novo e terrível cenário!
Meus sinceros parabens!!
Obrigado pela leitura e comentário.
Excluirfoi dificil inserir uma criança num cenário como o que estou construindo, mas achei que ficaria interessante.
Espero que consiga fazer algo interessante.