Quando se tem de fazer o necessário para sobreviver.
Aqui fechamos o pequeno arco que mostra mais da Guardiã D'acier e já deixo preparado o clima para o que vem por aí.
Espero que goste.
Portanto, sem mais... Boa leitura!
11. Extinção.
Natalie despertava devagar, querendo muito que os primeiros raios de Sol seguissem aquecendo sua pele nua, mas sem lembrá-la das obrigações do dia.
Como levantar da cama, por exemplo.
Só quando sua mãe vinha e tirava os lençóis, de modo brusco, mas logo enchendo a garota de carinhos e beijos, que o dia de Natalie realmente se iniciava.
Ela então descia as escadas da casa e, após lavar rapidamente o rosto, corria até a cozinha, tentando evitar que sua irmã menor comesse todos os docinhos do café da manhã.
Uma ajuda com a louça da manhã, na verdade apenas colocando-a na lavadora Vitrium 2050, beijos demorados na mãe e no pai, que geralmente chegava nessa hora de mais um plantão no Hôspital de la Salpêtrière, e as irmãs seguiam animadas, Catherine para sua escola, Natalie para o colégio, as vezes reservando um tempo para pensar em qual faculdade pretendia entrar, ou se aceitava a sugestão do pai, entrando logo no Exército Mundial.
Era uma vida simples, mas plena e, mesmo sabendo como eram afortunadas, nem sempre as duas davam o devido valor a tudo o que tinham, como muita gente faz, na verdade.
E então o mundo acabou.
Nenhum dos poucos sobreviventes que elas encontraram nos últimos dois meses souberam dizer o que exatamente aconteceu, o que atacou o mundo, como foi o início do fim.
Num dia tudo parecia normal, Natalie e Catherine voltavam para casa usando seus holofones, a primeira para ouvir as mais recentes músicas de suas bandas de k-pop favoritas, enquanto a pequena baixava mais uma série de desenhos japoneses para colocar na sua já extensa lista do que queria assistir.
Ironicamente, foi o metrô que as salvou quando, assim que estavam diante de um quiosque de comida, pretendendo tomar um milkshake antes do almoço, contrariando as recomendações diárias da mãe, que uma série de explosões destruiu quase toda Paris, deixando um pálido fantasma daquela que já havia sido considerada uma das mais belas cidades do mundo.
As duas ficaram presas cerca de uma semana, sobrevivendo graças ao que conseguiam pegar do quiosque, cujo dono morreu quando a cozinha do lugar desabou.
A salvação veio quando uma mulher, com a pele extremamente negra e cabelos platinados abriu caminho para que elas saíssem, mas quando finalmente ganharam as ruas, ambas acharam que teria sido melhor se tivessem morrido.
Foi ainda pior quando chegaram ao que havia restado da rua onde moravam, cuja destruição deixava clara a falta de sobreviventes em todo o bairro.
Quando Catherine, entre soluços de fazer tremer seu corpo, soltou um “E agora?”, a mulher que as acompanhara até ali sorriu e disse que tinha uma proposta para fazer para Natalie.
― Eu sou conhecida como Condutora, senhorita Natalie Flaubert… E posso mudar o seu destino…
Elas conversaram, toda uma nova realidade fora apresentada à jovem que agora precisava ser mais forte do que nunca, para proteger a irmã pequena num mundo devastado.
Os riscos foram expostos, bem como a recompensa, caso ela se mantivesse viva até encontrarem uma maneira de vencer os Seculares de uma vez, por isso, sem outra escolha, Natalie se tornou a Guardiã D’acier, uma das mais poderosas entre os Guardiões Cronais.
Natalie acordou com o corpo suado por causa do calor escaldante, mesmo à noite, algo comum desde o fim do mundo, por isso levantou, conferiu se a irmã ainda estava dormindo e foi até o banheiro, cujo chuveiro ainda funcionava, mesmo sem eletricidade, aliviou a temperatura com uma ducha fria e rápida, afinal não sabia quando a água poderia acabar.
Quanto estava voltando parou de supetão.
Ela podia jurar que tinha deixado a porta do quarto fechada.
Agora estava entreaberta.
Ela seguiu devagar, o punho direito começando a arder levemente, sinal de que estava prestes a acionar seus poderes, abriu a porta com cuidado e arregalou os olhos ao ver um homem desconhecido, sentado na lateral da cama, afagando os cabelos de sua irmã e fazendo sinal para que Natalie permanecesse em silêncio.
O invasor se levantou foi até fora do quarto, fechou a porta devagar e se voltou para a irmã mais velha.
― Não se pode nem ir no mercadinho da esquina que alguém acaba invadindo sua residência… Que vergonha mocinha… ― o hálito do homem fedia, fazendo com que o estômago da garota começasse a embrulhar. ― Mas sou um homem bom e justo… Vamos ali no banheiro… “Aliviar nossa tensão”… Dai se você for boazinha com o titio aqui, eu posso até pensar em “adotar” vocês duas… Podemos até ser uma família feliz...
O homem chegava a salivar, conforme observava fixamente para os seios da garota que, após respirar profundamente, preparou seu sorriso mais sensual e ergueu o rosto do homem, colocando um dedo em seu queixo, fazendo com que ele olhasse-a diretamente nos olhos.
― Banheiro? Na verdade tô cansada de banheiros… ― vencendo o nojo que sentia, ela agarrou o braço do sujeito, passando os seios por ele. ― Hoje eu tava a fim de algo mais… Ousado…
O homem já se tocava, sentindo que tirara a sorte grande, finalmente algo de bom em sua vida após o fim do mundo, ele acreditava que nunca mais aconteceria algo assim, depois de ter matado tantas pessoas, ou de ter provocado a morte de outras mais, na sua tentativa de sobreviver.
Sentindo-se recompensado pela persistência, ele permitiu que Natalie o conduzisse até o que restava do topo do prédio, entrando num apartamento semi destruído, cuja parede norte já não existia.
― Vira pra lá… Tenho vergonha de tirar as roupas na frente de alguém… espera um pouco e, quando eu te chamar, vou estar pronta...
Ele seguiu as instruções, já abrindo o zíper de sua calça, quando um brilho dourado surgiu às suas costas, chamando sua atenção e fazendo-o se virar.
― Então é isso? ― Natalie havia acionado seus dons de Guardiã Cronal, as mãos devidamente envoltas em imensas manoplas de energia, lágrimas escorriam fartas de seus olhos. ― No meio desse inferno, encontra duas garotas e já pensa em estupro, em abusar delas? Enquanto perdi meus pais, duas pessoas maravilhosas, um lixo como você sobrevive? Não!
― E-escuta garota… ― enquanto se afastava, chegando perto da borda da parede destruída, faltando pouco para cair do prédio, o homem puxou um canivete de dentro do bolso da calça. ― N-não se aproxima… Senão... Eu… E―eu…
Momentos depois, Natalie entrou no apartamento, sentindo-se suja pelo papel que teve que representar para afastar a ameaça da irmã que, ela torcia, ainda estaria dormindo, querendo e precisando de um novo banho, mas assim que trancou a porta uma voz conhecida se fez ouvir às suas costas.
― Natalie Flaubert… Seus dons de Guardã Cronal se fazem necessários outra vez.
Nunca antes a garota sentira tanto a necessidade de socar alguém, ou algo, por isso, assim que teve certeza e a promessa da Condutora, de que sua irmã ficaria em segurança, fechou os punhos e sorriu.
― Vamos nessa.
Mal sabia ela que aquela incursão não seria como as outras.
E isso mudaria tudo em sua vida.
Continua.
1 Comentários
Um episódio com carga dramática nas alturas.
ResponderExcluirPerder os pais da maneira que perdeu e ter que enfrentar um estuprador , tendo que proteger sua irmãzinha menoir, é para fortes e, Nathalie é forte!
Mal sai de um desafio hercúleo , a jovem francesa do futuro, se vê em outra batalha contra os Seculares.
Vamos que vamos!
Parabéns mais uma vez!