Quando o perigo se avizinha.
Nesse segundo capítulo tentei focar um pouco mais na ação e coloquei alguns ponos que serão desenvolvidos ao longo da série.
Espero que gostem.
Portanto.. Sem mais delongas... Boa leitura!
Terra Zenith.
Resgate #2.
Ameaça desconhecida.
O carro se aproximava rapidamente, mas Resgate se mantinha calmo e controlado, na verdade, enquanto sua névoa ficava mais espessa, ele mal prestava atenção do veículo que acabara de ser jogado sobre ele.
Tudo o que interessava, a princípio, era a segurança dos civis ao seu redor e, claro, a da família que estava dentro do carro.
Exatamente por isso, o herói se mantinha no mesmo lugar, um alvo impossível de ser ignorado, caso o monstro realmente não tivesse uma plena consciência, como estava demonstrando.
Por isso o herói manteve seu braço direito esticado, envolvendo o casal e seu filho pequeno, que ainda estavam dentro do veículo, com sua névoa e, após um movimento de braço para o lado, os deixou intangíveis e fez com que pousassem suavemente numa esquina próxima.
— Corram!
O pai pegou seu filho num dos braços, segurou firme a mão de sua esposa e logo estavam alcançando algumas ruas mais distantes.
O seguro cobriria a perda do carro, que logo caiu sobre o Resgate, quicando mais duas vezes pelo chão, só parando quando acertou um grupo de motos, que estavam estacionadas lá perto.
Resgate sabia dos riscos de enfrentar um inimigo sem saber da extensão exata de seus poderes, por isso não podia arriscar, mantendo assim seus dons espalhados por vários metros ao redor do local da luta.
No que dependesse dele, ninguém iria se ferir.
— Rústico… Rústico…
— Tá bom, tá bom… Já se apresentou… Agora, pela última vez… Desiste logo ou…
A única resposta foi da criatura repetindo novamente seu nome, cada vez mais rápido, até finalmente se tornar um rugido e ele partir a toda velocidade na direção do herói.
— Merda... Lá vamos nós!
O Rústico avançava com movimentos aleatórios, ainda estava flutuando a alguns centímetros do chão e deixando para trás mais rastros de gosma, mas ele balançava as pernas e os braços como se estivesse correndo.
Resgate sabia que se tentasse desviar, a criatura podia passar por ele e, mesmo protegendo todos ao seu redor, sempre havia o risco do outro conseguir escapar do alcance de seus poderes, colocando mais vidas em perigo.
— Agora já deu! Chega mais seu desgraçado!
Como que aceitando o desafio, o monstro continuou avançando, ainda flutuando a alguns centímetros do chão, a criatura movia desajeitadamente os braços e pernas, como se estivesse correndo, a forma como imensos pedaços do que parecia ser sua carne, iam caindo pelo caminho, deixando um nojento rastro para trás, davam a impressão de que ele estava em constante agonia.
Sem o menor sinal ou demonstração de medo ou hesitação, Resgate se manteve firme, estendendo a mão esquerda e espalmada para frente, conforme trazia seu punho direito fechado para trás.
Ele precisava encerrar aquele combate o mais rápido possível.
Rústico abriu os braços ao máximo, pretendia agarrar seu inimigo e sufocá-lo dentro da gosma escura que formava seu corpo.
O coitado não teve a menor chance.
Resgate desferiu um soco certeiro no rosto do monstro, que obviamente passou através dele, visto que o herói ainda estava intangível, mas somente quando o Rústico alcançou o chão, sem conseguir sequer tocar seu inimigo, que os efeitos do golpe foram sentidos.
O monstro virou a cabeça para o lado, dando a impressão de ter sido atingido apenas naquele momento, sendo arremessado com violência contra uma parede próxima, caindo então na calçada, onde ficou caído, em total confusão, tentando entender o que havia acontecido.
Era assim que funcionava o Efeito Fantasma, além de ser usado para proteger inocentes, podia causar uma dor equivalente a um golpe direto na alma, por isso o pequeno retardo de tempo, entre o soco e seu resultado.
Resgate voou até onde o monstro estava caído, quase sempre apenas um golpe era necessário para encerrar uma luta, mas surpreendentemente, o Rústico começou a se erguer.
O herói preparava um novo golpe, mas assim que seu punho estava a centímetros de acertar o rosto da criatura, ele deteve seu avanço.
A massa escura da perna direita começou a escorrer pelo chão, deixando à mostra seus ossos que, após apresentar um leve tremor, começaram a se destacar do corpo, deixando de um lado uma pilha de ossos e para o outro, o que restara do monstro.
— Rústico…
Era ainda mais visível agora toda a dor pela qual a criatura estava passando e, sem conseguir sequer mover o corpo, ele apenas lançava um olhar suplicante na direção daquele que a pouco estava tentando matar.
— Beleza… Calma… Calma…
Resgate, ao perceber o fim da ameaça, concentrou seu poder apenas ao redor dele e do monstro caído que, ele percebera, estava morrendo.
Agora o Efeito Fantasma poderia ser usado de outra forma, para apaziguar a dor do moribundo, por isso o herói se colocou ao lado do Rústico e tomou sua mão.
Imediatamente a mente do herói foi inundada com imagens dos últimos momentos do jovem Július Barbosa, mergulhando em meio a seus ódios, preconceitos e medos infundados.
Tudo o que um estranho homem encapuzado, acompanhado por uma criatura bizarra, usou como base para transformar a carne do corpo do jovem, naquela massa escura.
— Bem mestre… Ficou um tanto Rústico… Mas acredito que vá servir para seus propósitos…
O outro homem apenas estendeu a mão na direção do rosto de Július e, após uma onda de dor, tudo ficou escuro.
“Ele é apenas o primeiro… Herói.”
Resgate se afastou do Rústico, no exato momento em que a gosma terminava de se soltar por completo, deixando para trás apenas um esqueleto que se desfez num monte de ossos.
Tentando recuperar o fôlego, após a traumática invasão mental, o herói conseguiu recuperar o autocontrole, pelo menos, o suficiente para retirar um pequeno frasco de sua manopla direita, com o qual recolheu uma amostra daquela estranha substância.
Logo em seguida ele andou pela rua, ajudando quem ainda não estava recuperado do susto, de ter sido pego no fogo cruzado da luta entre dois Zeniths e conferiu cada um dos presentes, para ter certeza de que não havia ninguém ferido, mesmo sabendo que seu poder os protegera.
Recolheu também os contatos de todos que haviam tido algum prejuízo, fosse o de um veículo danificado ou destruído, fosse com paredes de construções que pudessem ter sido comprometidos.
Mais de uma hora foi necessária para todos os levantamentos necessários sobre os danos causados pela luta e só então ele finalmente alçou voo.
— Chegaram bem em casa? Eles vão querer sorvete de sobremesa né? Tudo bem, mas sem exageros… Tô indo pro trabalho e vou tentar almoçar em casa. Qualquer coisa me liga e… Amanda? Muito obrigado.
Resgate encerrou a ligação e alterou sua rota de voo para uma maior altitude, só descendo quando estava exatamente acima de um edifício específico e, quando sua armadura criou um campo de distorção, que evitaria tantos olhos humanos quando aparelhos eletrônicos de captar sua imagem, ele mergulhou.
Atravessou todos os primeiros andares do Edifício Samicler, através de um tubo de metal, construído exatamente para a entrada secreta do herói, só parando ao chegar ao vigésimo quinto andar.
Ao sair do tubo, Jonas já havia desativado sua armadura, seguindo direto para o escritório do dono do prédio e CEO da empresa Boa Ventura S/A.
— Altair?
— Entra Jonas… Tô aqui no minilab.
Altair Salvador Ventura, um dos mais bem-sucedidos empresários brasileiros, nascido com um dom mental, em vez de um físico, como a maioria dos Zeniths, como eram chamados aqueles que nasciam com, ou desenvolviam poderes que, no caso dele, permitiam enxergar soluções diversas para qualquer problema que lhe fosse apresentado.
Desse modo conseguiu criar fama e fortuna, mas, ao contrário do que a maioria das pessoas extremamente ricas faz, ele resolveu usar seus dons e dinheiro para montar uma empresa especializada em criar soluções diversas, não importando quem o procurasse, fosse alguém de origem simples, ou algum conglomerado empresarial.
Quando conheceu Resgate, há mais de cinco anos, numa das primeiras missões do herói, Altair descobriu aquela que seria sua principal linha de trabalho, ainda que poucas pessoas viessem a saber disso.
— Temos algo novo... Uma alteração genética nesse nível eu nunca vi...
— Realmente, quando usei o Efeito Fantasma para diminuir a dor do garoto, consegui ver a cara, ou melhor, a máscara do sujeito que fez isso...
— Assim que terminarmos aqui, passa na sala da Sara que ela vai poder te ajudar com isso... Além de conseguir imagens do sujeito para começarmos a investigar...
— Nada melhor do que uma massagem mental depois daquele verdadeiro inferno na minha cabeça... Tô mesmo dividido entre ficar com dó ou muito puto com o moleque...
— Vamos ficar no meio termo... Os sistemas vão continuar a análise e assim que possível, vamos juntar o que temos... Aí já sabe não é?
— Treino incessante e tentativa de cobrir os pontos cegos... Numa próxima oportunidade... Estarei preparado.
— Assim que se fala amigão! — Altair passou um braço pelos ombros de Jonas e ambos foram saindo do minilab que o empresário mantinha em seu escritório. — Quero te mostrar antes as melhorias na Unidade Expansão...
Os amigos seguiram então, primeiro até a sala onde Sara ficava a postos para atender qualquer emergência telepática e, horas mais tarde, já sem sinais de fadiga ou dores mentais, Jonas e Altair voltaram para o minilab.
— Pronto… — depois de mostrar todas as melhorias em sua armadura, como prometido, Altair e Jonas seguiram até o computador principal da base. — As imagens foram espalhadas pela Teia... Se algum dos nossos associados vir esse sujeito, saberemos em breve.
— Ótimo. Agora vou voar para casa... Os gêmeos vão comer sorvete de sobremesa e não posso largar a Amanda no meio da guerra...
No instante seguinte Altair estava a sós, vendo o rosto do vilão Expurgo, captado pela vistoria telepática, sentindo um calafrio subir-lhe pelas costas.
Algo lhe dizia que a tempestade que se aproximava seria uma das piores pelas quais eles já passaram.
Não muito longe dali, numa casinha simples do bairro da Vila Mariana, localizada numa pequena rua residencial, o horror era imensurável.
Na sala de estar os moradores, um casal, seus três filhos e os dois cachorros, encontravam-se quase todos exibindo tremores post mortem, os olhos brancos, sangue escorrendo das bocas e, o pior, parte de seus corpos mescladas às paredes, teto e chão.
— Eu não entendo meu Lorde... — flutuando pelo ar, a pequena criatura conhecida como Tenebris, ousava questionar seu mestre. — Por que escolher um lugar tão ordinário? Eu poderia...
A frase foi violentamente interrompida quando Expurgo o agarrou e, comprimiu seu maxilar até quase quebrá-lo, conseguindo assim que seu servo se calasse, enquanto andava pela casa, olhando calmamente para o ambiente simples ao seu redor.
— Somente idiotas pomposos ou maníacos egocêntricos escolhem criar bases extravagantes.
Enquanto caminhava, sem cerimônia alguma, ele pisava no rosto do homem, que estava preso ao chão e, sem ter a mesma sorte do restante de sua família, ainda permanecia vivo.
— Sabe quando alguém virá nos procurar aqui? — mantendo a pressão na mão, o vilão deixava claro estar em um monólogo, por isso Tenebris nem tentava retrucar, mesmo se fosse possível. — Exatamente... Nunca... Será fácil até mesmo manter tudo em segredo...
Com um movimento de suas mãos, Expurgo fez surgir em um ponto da casa um amontoado da mesma gosma escura, que havia usado para formar o monstro que chamou de Rústico.
— Desse modo a casa ficará mais... Aconchegante... E se, por acaso, algum dos parentes dos moradores chegarem para uma visita... Hum... Digamos que será uma visita permanente... Agora vamos Tenebris...
— Hã... — finalmente livre, a criatura movia o maxilar dolorido e tentava escolher bem as palavras. — Para onde Lorde Expurgo?
— Ora... Somos seres civilizados meu caro... Vamos visitar nossos vizinhos... Se não servirem de matéria prima para meus Pesadelos... Ao menos... Serão ótimos... Enfeites...
Desse modo nascia a Rua do Tormento.
Continua.
4 Comentários
Caramba, o tal Expurgo é realmente do mal... Eu curti muito, gostei da forma como o Resgate agiu, a preocupação maior em salvar vidas do que vencer o combate e o monstro em si, apesar de não ter desviado dessa preocupação também! A narrativa é clara, desenrolada, os acontecimentos avançam e em pouco tempo temos a trama indo do combate, para apresentações e conclusões com um gancho perfeito! Aprendemos também sobre Zeniths e como devem haver muito mais deles pelo planeta, o que nos leva a uma infinidade de possibilidades ou pensamentos, e tudo muito bem explicado, recursos, locais, métodos, situações, tudo fica elucidado não deixando margens para meias interpretações ou interpretações errôneas! Parabéns meu amigo, excelente trabalho, mandou muito bem!
ResponderExcluirValeu demais pela leitura e comentário amigão!
ExcluirEu queria mostrar logo de Cara que o Expurgo não seria um inimigo fácil, até porque quero mostrar também que o Resgate é um herói muito bem preparado e, claro, com seu foco total em salvar vidas primeiro para só depois derrubar os vilões.
Tô sempre tentando deixar a escrita realmente dinâminca, por isso tento sempredar espaço e destaque para cada parte, desde as cenasde ação, como as de cotidiano e, as tramas dos personagens principais.
Desde que resolvi chamar meus super seres de zeniths, achei que seria bacana sempre ir dando alguns pedaços e informação sobre eles para manter o leitor interessado.
E sim, como um bom universo baseado em Marvel/DC, teremos mais zeniths que darão as caras aos poucos e que tbm acabarão por gerar mais títulos, one-shots, minisseries..
Vejamos o que o futuro nos trará.
Valeu mesmo!!
É muito gratificante ler sobre um herói, que se preocupa em primeiro lugar com a vida das pessoas.
ResponderExcluirSeu senso de justiça e empatia emociona.
Nos dias de hoje, um bálsamo pra alma!
Do outro lado, porém, temos em Expurgo, um vilão que se mostra ligo de cara pérfido e ardil.
Vem chumbo grosso pela frente!
Parabéns!
Valeu mesmo pelo comentário.
Excluirqueria deixar bem clara as diferenças entre o Resgate e o Expurgo.
Espero que consiga.