Quando é necessário despertar para o que está acontecendo.
Nesse terceiro capítulo o pequeno arco do personagem Fred Dantas vai chegando ao fim e deixa o gostinho de como pretendo ir levando esse título.
Nos próximos teremos o fim exato desse arco, novos personagens e um pouco de foco em alguns zumbis em particular.
Portanto, sem mais... Boa leitura!
3. Choque de realidade.
Dantas ficou sentado exatamente onde havia caído, em sua mente ele repetia sem parar que aquilo deveria, precisava, tinha que ser um pesadelo do qual ele queria acordar.
Infelizmente ele já estava totalmente desperto.
Seu terror só aumentou quando, após ouvir outro grito, uma mulher passou pela janela com um pequeno embrulho nos braços, cujo entendimento do que devia estar ali, acertou o estagiário como um soco na boca do estômago.
Ele se arrastou para trás, tentando ganhar o máximo de distância entre ele e a janela, conforme mais pessoas iam caindo para a morte certa, andares abaixo.
Junto delas, os monstros iam despencando também, o som dos dentes, que batiam em desespero pela carne que ia escapando, mesmo que apenas por um milésimo de segundo, foi o suficiente para deixar Dantas paralisado.
Pelo menos até seu horror aumentar, quando o estrondo de um dos monstros, batendo na estrutura de ferro da janela, fez o jovem despertar.
Diante dele um dos zumbis estava agarrado à janela e lentamente procurava entrar no escritório.
O choque inicial deu lugar a uma raiva que foi crescendo dentro do rapaz, que parecia prestes a vomitar, tamanho descontrole, físico e emocional que ele estava sentindo naquele momento.
Por sua cabeça passou tudo o que ele havia perdido na noite anterior, mal percebendo que aquele surto poderia ter se espalhado pelo mundo inteiro, mas só importava o fato de não ter conseguido sair com Kamila e de não saber como estavam seus pais.
― Filha da puta!
Agindo mais por instinto do que por qualquer tipo de pensamento racional, com um urro animalesco, Dantas correu na direção da janela, conseguindo erguer a cadeira que estava atrás da escrivaninha e acertar o monstro bem debaixo do queixo, desequilibrando-o o suficiente para continuar com sua queda junto com o móvel que o acertara.
“Que pena…” dando passos hesitantes para trás, sem acreditar no que acabara de fazer, Dantas não conseguia evitar o pensamento “Era uma puta cadeira confortável.”
Ele então levou as mãos até seus cabelos, segurando-os firme enquanto soltava um riso histérico, temendo ter perdido de vez a sanidade.
No escritório havia um armário grande, feito para guardar dezenas de documentos, o que foi perfeito quando Dantas resolveu, sem se importar para o barulho resultante, arrancou todas as peças e usou-as para bloquear a janela quebrada.
Dessa forma ele não veria mais pessoas ou monstros caindo dos céus, evitando assim ainda mais pesadelos que, com certeza, o acompanhariam por muito tempo.
Ao menos enquanto ele estivesse vivo.
O que poderia mudar a qualquer momento, por isso, quase em estado febril, após cobrir a janela, ele correu até a pequena cozinha e fez um rápido inventário do que havia de suprimentos, dando especial atenção à água.
Foi com certo desânimo que ele percebeu que em pouco menos de três dias, seu estoque ficaria totalmente zerado e, se passasse muito tempo sem se alimentar, as chances de sobreviver ao sair daquele escritório, cairiam consideravelmente.
Após fazer café, tentando ordenar os pensamentos, Dantas aproveitou que ainda havia energia elétrica, ele já vira em muitos filmes que, em breve, esse serviço essencial para a vida moderna, poderia acabar e, por isso, tentou novamente contato com seus pais.
A tela do Laptop acendeu e mais uma vez tentou uma chamada de vídeo, que ele desistiu após quase dois minutos inteiros de tentativa, o som intermitente do contato que não se completava logo o irritou.
Permaneceu alguns minutos de pé diante da escrivaninha, quase teve outro ataque de riso quando lembrou do destino da confortável cadeira, até resolver finalmente abrir novamente o Youtube e outras páginas de notícias.
Obviamente se arrependeu de imediato, ao ver o teor das chamadas e nomes dos vídeos.
“O número de zumbis aumenta cada vez mais.”
“Em cidades grandes o ataque é ainda pior, mas nem mesmo as pequenas cidades do interior estão a salvo…”
“Milícias assumindo o extermínio das criaturas…”
“O contato prolongado com os Zumbis causa queimaduras…”
Os vídeos que ele viu eram ainda piores, o que deu a Dantas a certeza de ter tido muita sorte até ali e, sentindo que a adrenalina havia finalmente normalizado, decidiu tentar novamente contato com seus pais, deixando o programa aberto, conforme ele ia até o sofá, pretendendo dormir mais um pouco.
Deu apenas dois passos para longe da escrivaninha quando aconteceu.
― Filho? Fred? Você está aí?
― Mãe?! ― ele voltara correndo e agarrou as bordas da tela do laptop, enquanto via, com alívio crescente, finalmente alguém respondendo sua tentativa de contato. ― Obrigado meu Deus! Mãe! Mãe! Você tá bem? Cadê o pai e o Sandro?
Silêncio. Era visível a dor provocada por aquela pergunta.
― Eles… Seu irmão chegou estranho da rua… Tava com um febrão e quando seu pai foi ajudar ele… Hum… Ele mordeu seu pai…
Agora era para Fred que a voz faltava.
― Seu pai se trancou com o Sandro no quartinho da bagunça… Agora fica tudo quieto lá dentro, mas se eu chego perto da porta eu… Eles… Começam a gritar e bater na porta com força… Ah, Fred… A mãe já não sabe mais o que fazer…
― Mãe… Mãe! Presta atenção… A casa tá fechada? Ninguém te mordeu? Eu… Eu… Faz o seguinte… Deixa tudo trancado e vai pro seu quarto… Isso… vai pra lá e coloca o que puder na frente da porta… Isso… Hã… E leva comida pro quarto… Só não abre a porta do quartinho da bagunça, por favor… E me espera… Eu… Eu tô preso aqui no trabalho… Mas… Mas… Hã… Já, já eu tento chegar aí… Entendeu mãe? Mãe! Mãe!
A chamada foi interrompida de repente.
Dantas entrou em pânico, tentou diversas vezes retomar a chamada, sem resposta, andou de um lado para o outro, ao longe ouviu mais explosões, tentou novamente falar com sua mãe.
Sentindo o que ele achava ser um ataque de pânico chegando, ele nunca tivera algo assim antes, o rapaz levou uma das mãos ao peito, quase se arrastando até o sofá, onde permaneceu sentado até recuperar um pouco do controle.
Horas depois ele tomou sua decisão.
2 Comentários
A agonia de Fred Dantas só cresce.
ResponderExcluirO seu desepsero e alterações mentais foram muito bem retratados por você.
O tênue liame entre a razão e a perda completa da sanidade do personagem, de tão real que ficou , desperta na gente uma angústia enorme. É como se estivéssemos ali e nada pudéssemos fazer para ajudar.
Parabéns por isso!
Muito obrigado pela leitura e comentário.
ExcluirExpor como o Fred tá se sentindo é um dos focos desse primeiro arco.
Fico feliz por estar conseguindo.