3. O último dinossauro.


 Quando tragédias acontecem.

Mais um capítulo desse meu anime, outro que adorei escrever e que vai dando o tom da série.

Espero que goste.

Boa leitura!



3. O último dinossauro.


Caio segurou Natalie pela cintura e logo os dois alçaram voo, seguindo o mais rápido que o guardião conseguia, na direção de onde o grito pareceu ter vindo.


― Merdamerdamerda… Me empolguei tanto com os dinossauros que nem percebi que as gêmeas não estavam com você.


― Não se culpe… Eu estava do lado delas e não percebi… Tem como ir mais rápido?


―Tô no meu limite e...


A frase foi interrompida quando eles chegaram a uma clareira, onde encontraram uma imagem que os perseguiria em pesadelos por muito tempo.


Um imenso tiranossauro, também possuído pelos Seculares, de cuja mandíbula escorria sangue farto, tal qual uma cachoeira escarlate, mantinha uma das gêmeas presa sob uma de suas patas.


― Mika!


A Guardiã Cronal japonesa olhou na direção de onde viera o grito em uníssono de Natalie e Caio, mas tamanho era o peso e a pressão sobre ela, que a pobre garota, sem fôlego nem para pedir por socorro, apenas conseguia chorar compulsivamente até que, de repente, o animal retirou a pata e, numa velocidade impressionante, abocanhou-a pela cintura, erguendo-a no ar e pegando-a novamente conforme seu corpo descia.


Só então começou a mastigá-la lentamente enquanto mantinha seus olhos, que brilhavam com uma luz esverdeada, voltados para os dois guardiões que haviam acabado de chegar.


XXX


Alguns minutos atrás.


― Amy-chan!

Mika seguia velozmente atrás do triceratops que levara sua irmã, correndo de quatro, como se fosse mesmo uma raposa, às vezes saltando entre uma árvore ou outra. Não conseguia alcançar a fera, mas também não a perdia de vista.


Amy acordou com seu corpo sendo sacudido pelo dino que a carregava, levou alguns instantes para relembrar de onde estava e o que acontecia, mas tão logo sua mente se ajustou, ela acionou seu poder de Guardiã, se agarrou na cabeça do triceratops, chegou perto do ouvido dele e liberou seu grito.


Sonikkuburasuto!


O animal tombou, a inércia fazendo com que seu corpo morto continuasse a se mover até entrarem uma clareira, onde finalmente a guardiã pode voltar a pisar no chão, esticando o corpo e se preparando para chamar pela irmã, para voltarem juntas até onde seus companheiros estavam lutando.


Um rosnado baixo a fez se voltar a tempo apenas de ver uma bocarra cheia de imensos dentes se aproximando por cima dela, encobrindo o sol e deixando tudo escuro.


“Mika...” foi o último pensamento de sua vida.


Sonikkuburasuto!


O ataque sônico vindo da orla da clareira atingiu em cheio o flanco direito do tiranossauro, servindo apenas para atrair sua atenção, que começou a dar passos lentos na direção de uma desesperada garota que, a um passo de perder a sanidade, continuava atacando, sem se preocupar com a próxima segurança.


O tiranossauro a alcançou sem maiores dificuldades, a garganta de Mika começou a doer de forma excruciante, mas ela só parou quando a imensa pata da criatura desceu sobre seu corpo uma, duas, três vezes.


Sentindo grande parte dos seus ossos quebrados, Mika aceitara que sua hora havia chegado, a última visão de sua vida foi a dos rostos desesperados de seus queridos companheiros.


“Queria mesmo ter ido ao banheiro com o Caio-kun...”


Foi seu último pensamento e então ela foi jogada para cima e pega em pleno ar, seguindo o destino de sua irmã.


XXX


Os Guardiões Bisturi e D’acier avançaram com seus poderes acionados no máximo e com um grito gutural de ódio jorrando de suas bocas.


Incisão!


Caio, esquecido do fascínio pelos dinos, foi o primeiro a alcançar o tiranossauro, criando dezenas de lâminas com seu poder e, depois de escapar de uma dentada, conforme voava ao redor da cabeça do monstro, acertou um soco na nuca dele.


Nenhuma das lâminas chegou a causar algum estrago real na pele, já endurecida e agora reforçada por rochas cinzas, símbolos da infecção causada por um Secular.


Aproveitando a distração causada pelo colega, Natalie conseguiu, após um salto, desferir um poderoso soco na altura da barriga do inimigo, mas, assim como aconteceu com Caio, tanto o resultado, quanto os danos infligidos por seu golpe, foram irrisórios.


O Tiranossauro dobrou o corpo, a bocarra, ainda repleta do sangue das Guardiãs Noizu, se abriu, revelando fileiras com vários e imensos dentes, seguindo na direção de Natalie, que apenas pode fechar os olhos e esperar o inevitável.


De repente sentiu algo a segurando e, no instante seguinte, Caio pousava com ela a alguns metros de distância.


― A pele tá mais forte do os outros


― Por isso os demais dinos estavam fáceis demais… os Seculares capricharam nesse… Cara… Ficou legal demais isso! ― a guardiã francesa pigarreou irritada. ― Desculpa… Foi mal… Eu...


― O que vamos fazer? ― Caio ficou quieto e sua companheira já sabia o que aquilo significava. ― Não. Você tá com aquele olhar maluco de novo…


― Pensei numa maneira de encerrar isso de vez… Precisamos derrubar esse bicho antes do cronômetro zerar… ― ele se ergueu, o ar ao seu redor ia se distorcendo, conforme ele reunia energia cinética para decolar. ― Se não der certo… Me desculpa.


Mesmo sob uma chuva de protestos em francês, a grande maioria palavrões, o Guardião Bisturi alçou voo, deixando Natalie descabelada pelo vento que sua decolagem gerou.


Então ele seguiu direto para a cara do Tiranossauro.


Mais por instinto do que pela inteligência do Secular que o havia possuído, o monstro abriu a sua bocarra ao máximo.


Era exatamente o que Caio queria.


O rapaz literalmente mergulhou dentro da boca, que se fechou num estrondo sobre ele, deixando uma incrédula Natalie lamentando a imprudência do colega, criando uma manopla de energia para cada mão, num esforço hercúleo, se colocando a correr na direção do monstro.


Antes de alcançá-lo, porém, a cabeça toda do Tiranossauro explodiu em pedaços, cobrindo-a com os restos mortais do bicho e, conforme o imenso corpo ia caindo para o lado, algo saltou do que restara do seu pescoço, pousando na frente da Guardiã.


― E não é que deu certo? ― Caio cuspia a sujeira que ele não conseguira evitar de entrar em sua boca. ― Achei que ele fosse mais fácil de cortar por dentro do que por fora…


― Desgraçado! Fiels de pute! Quase me matou de susto! Nunca mais, mas nunca mais, faça algo assim!


Um som agudo ecoou, salvando Caio da surra que levaria, indicando o fim da Incursão.


― Temos que voltar já!


O rapaz pegou sua companheira no colo e saíram voando na direção da Estação Chronos, enquanto era possível ver no horizonte o Evento Ômega se iniciando.


Uma onda de puro nada ia apagando aquele exato momento do período histórico, evitando assim que as consequências do combate interferissem no fluxo do tempo, como sempre acontecia logo após o Cronômetro finalizar sua contagem.


Os dois pousaram diante das três Condutoras e Caio podia jurar ter visto uma lágrima no canto dos olhos da mais nova delas, justo a responsável por contatar as gêmeas.


― Bem vindos Guardiões. ― era a mais velha quem tomava a palavra, como sempre. ― Vocês eliminaram todos os traços dos Seculares nessa Incursão. Por favor, entrem na Estação Chronos e se limpem. Assim que estiverem prontos, voltaremos vocês aos seus períodos originais.


Os dois Guardiões entraram na estação de cabeças baixas, abatidos pela perda das companheiras, mas Natalie, como sempre também, dava uma última olhada sobre o ombro, vendo tudo ser substituído por nada.


Os banheiros, era como os Guardiões se acostumaram a chamar as salas onde era possível deixar as roupas num tipo de lavadora, de onde saíam inteiras e limpas, bem como tomarem banhos em chuveiros cujas águas, eles achavam que era água pelo menos, tinham capacidades regenerativas, de onde eles emergiam sem um ferimento.


Afinal, eles haviam sido retirados do tempo normal de um jeito, não podiam voltar repletos de ferimentos e com as roupas destruídas.


Separados para que homens e mulheres tivessem privacidade, Caio aproveitava estar sozinho para finalmente lamentar a morte das gêmeas japonesas que ele aprendera a amar como irmãzinhas, irmãzinhas barulhentas e sem muita noção, mas ainda assim importantes para ele.


As águas quentes iam lavando suas lágrimas, mas, ainda assim, ele passou as costas da mão sobre os olhos ao ouvir um som atrás de si.


― Eu… ― Natalie estava parada a poucos metros dele, deixando num gancho sua toalha e se aproximando lentamente, os olhos também eram de alguém que havia chorado a pouco. – Nat... Eu não falei nada da gente ficar junto por que...


― Shhhh… ― ela o calou com um leve toque do indicador nos lábios. ― Eu… Eu também as amava… Mas elas morreram… Eu podia ter morrido… Ou então você… Mas estamos vivos… Eu… Quero demais me sentir viva…


Ele a abraçou ternamente, mas logo os corpos nus reagiram como das outras vezes, após as Incursões e então o banho, que duraria pouco mais que alguns minutos, demorou bem mais.



Continua.

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2 Comentários

  1. Esse episódio da morte das irmãs japonesas foi um dos mais emblemáticos no início dessa saga incrível.

    Vendo hoje, eu visualizo que esse fatídico episódio serviu para moldar e forjar o comportamento do Caio e da Nathalie.

    Caio percebeu que se não se levasse os combates a sério, não voltaria vivo.

    Foi sim, um divisor de águas, pois através da dor ambos os guardiões amadureceram.

    Parabéns!

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    1. Valeu pela leitura e comentário.
      Foi uma decisão difícil, mas, na época eu queria focar mais no Caio e na Natalie, por isso as gêmeas acabaram encontrando seu fim... Ou será que não?

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