7. O recruta.

  


Quando se está pronto para mais


Assim se encerra o "arco do passado", mostrando como Caio se tornou um Guardião Cronal.

Claro que tais respostas geram mais perguntas.

Perguntas que serão respondidas em seu devido tempo.

Aguarde e confie.

Portanto, sem mais... Boa leitura!


7. O recruta.


Caio distribuía socos de forma selvagem, seguia guiado apenas pela raiva, por não ter sido útil na luta, por ter falhado com as colegas que mal conhecera, acabando por levar muito mais golpes do que os que conseguia acertar efetivamente.


O cronômetro assumiu uma luz avermelhada “O tempo está acabando” ele sentiu a voz da Condutora em sua mente “Se sobrar algum Secular quando o Cronometro soar o final na batalha, eles serão considerados vencedores e poderão alterar o que quiserem na linha do tempo da humanidade, dominando nosso mundo, por exemplo.”


― Claro… ― ele derrubou um dos inimigos, destruindo sua perna, mas a criatura mal havia tocado o solo e seu membro já estava quase regenerado. ― Sem pressão né?

Pouco a pouco Caio ia percebendo que o controle da situação e de seus dons seguiam aumentando, sentia-se como na faculdade, quando estava diante de uma nova matéria e a destrinchava em todos os detalhes até conhecê-la, em muitos casos, melhor que alguns dos seus professores.


Sua memória muscular também ia acessando as lembranças das aulas de boxe que seu pai lhe deu anos atrás, numa época em que ele precisou se defender de alguns valentões.


Ele então respirou fundo, mesmo estando cercado pelos monstruosos inimigos, que corriam em sua direção, cortando, pisando, destroçando qualquer obstáculo que se colocasse entre eles e o guardião Cronal.


Se aproximando mais e mais.


Caio só abriu os olhos quando um dos Seculares o alcançou, o braço direito transformado numa espada de pedra, descendo em sua direção, acabando por ser bloqueada com o braço esquerdo do rapaz, enquanto com o punho direito encaixava um upper no queixo do inimigo, erguendo-o do solo alguns metros antes de seu golpe o desintegrar.


Agora sentindo-se mais confiante, Caio ergueu os punhos, urrando pra que os inimigos continuassem avançando, mas repentinamente todos pararam, seus braços monstruosos ficando pendidos dos lados dos corpos.


― Podem vir desgraçados! Por que pararam e...

Um som agudo tomou seus ouvidos e ele levou as mãos para cobri―los, enquanto olhava perdido para os lados, até que se lembrou do Cronometro, só então erguendo a cabeça.


No céu o relógio estilizado ia sumindo pouco a pouco e junto com ele algo começou a brilhar no horizonte, uma luz branca que parecia consumir tudo ao seu redor, se aproximando numa velocidade absurda.


― Este é o Evento Ômega… ― a jovem Condutora surgia ao lado do rapaz. ― Quando uma Incursão se encerra, com um dos lados vitoriosos, o próprio tempo trata de restaurar tudo, eliminando esse período onde houve tantas interferências, mantendo assim o fluxo do tempo inalterado…

― E… Eu… Nós... Perdemos não foi? ― o nada ia crescendo mais e mais. ― Eles venceram… Vão mudar tudo não é? O que faremos agora?


― Nós, as Condutoras, não faremos nada de mais… Já você… Vai treinar muito mais.


― Como é que é?

Sem aviso o nada se expandiu até eliminar qualquer traço do que havia ao redor de Caio e das Condutoras, ele em desespero, elas sem perder a tranquilidade.


― Essa foi uma simulação de como ocorre uma típica Incursão dos Seculares. ― a mais velha iniciou as explicações, todos agora parecendo flutuar em algo branco onde não era possível ver mais nada ao redor. ― Nós nos encontramos em algum ponto da história e temos alguns minutos para expurgar os traços dos Seculares, finda a batalha, marcada pelo som do Cronometro, os Guardiões, se vencerem, devem retornar o mais rápido possível à Estação Chronos para que possam voltar aos seus tempos normais.


― Mas então… isso tudo não passou de uma mentira?

― Na verdade todos os Guardiões passam um tempo aqui treinando… ― agora a Condutora mais nova tomava a palavra. ― Menos a Natalie, mas ela é outro nível… Tirando ela... Sim passam sim… As Incursões, na realidade, são ainda mais assustadoras…

― Vocês sabem que tudo isso parece uma loucura não sabem? Digo, todo esse lance de monstros que querem dominar o mundo, viagens no tempo… ― a Condutora adolescente que o trouxera até ali, se adiantou, ergueu o punho direito dele e acionou seus poderes, fazendo tanto o ar se distorcer, quanto as lâminas de energia surgirem, deixando-o sem argumento. ― Tá, você tem um ponto… Certo... Mas, e agora?


― Agora Caio de Assis, Guardião Bisturi… Nós te treinamos.


E eles treinaram.


Treinaram muito.


Sem poder definir quanto tempo ficaram naquele ambiente virtual, logo Caio estava pronto para sua primeira Incursão real, finalmente conhecendo suas companheiras.


― Meu nome é Natalie Flaubert, a Guardiã D’acier…

― Eu sei… É como seu eu já te conhecesse por toda uma vida…


XXX


Muitas vezes Caio sonhava com as Incursões, até mesmo com os treinos pelo qual passou, mas o final dos sonhos era quase sempre o mesmo, o momento em que finalmente conheceu a verdadeira Natalie.


Quase sempre ele tinha que tomar uma ducha fria para acalmar seus ânimos, ao pensar demais na bela francesa e, naquela manhã, não foi diferente, seguindo para um café da manhã simples e, por ter um tempo ainda livre, antes das aulas começarem, ele aproveitaria para fazer uma caminhada e algumas horas de academia dali a pouco.


Quando ligou a televisão, acabou passando por alguns dos jornais televisivos e percebeu que, após a euforia do Carnaval, as notícias se concentravam numa nova doença, um vírus que teve sua origem na China e cujo contágio era de uma velocidade preocupante.


Assim como a maioria das pessoas, Caio não deu maior atenção ao ocorrido, continuando com sua vida da maneira mais normal possível, estudando, passeando com o amigo Reinaldo, que insistia para que ele arranjasse alguém para deixar de ser, nas suas palavras, um “virjão CDF”.


Mal sabia ele do que o Caio era capaz, ou o que fazia durante e depois das Incursões.


Muitas vezes Caio quis contar, tentar aliviar o fardo de ter sido escolhido para ser um Guardião Cronal, mas sempre a Condutora, a responsável por levá-lo até a Estação Chronos, que ele passara a chamar de Cristal, o alertou sobre contar a verdade para qualquer um que fosse.

“As consequências poderiam ser catastróficas..” ele se recordava perfeitamente das palavras dela “Durante uma incursão, ocorrida na época de um dos Guardiões antigos, sua esposa acabou seguindo-o até o local do combate, querendo ver como era aquele aspecto da vida de seu companheiro, mas foi pega no fogo cruzado e acabou morrendo… Ele nunca se recuperou, passou a ser descuidado e também morreu algumas Incursões depois, quase deixando seu grupo inteiro ser derrotado. Se seu amigo descobrisse e tentasse fazer algo a respeito, não somente ele, como todo o nosso trabalho poderia ser colocado em risco.”


Lembrar-se do alerta da Condutora fez Caio pensar em Amy e Mika e também em outra conversa que teve com Cristal, conversas essas nos momentos em que ele esperava o trem que o traria de volta ao seu tempo.


― Sei que o que nós, Guardiões, fazemos para proteger nosso mundo é muito importante, por isso precisa ser feito mas… Todos pensam assim? Quer dizer, vamos lá… São seres humanos… Alguns devem querer algo mais… Algo em troca...


― Interessante você finalmente ter tocado no assunto… Levou mais tempo do que eu imaginava… ― diante da expressão de “continue” do outro, a Condutora ajeitou o corpo antes de fazer mais uma revelação. ― Na maioria dos casos em que convocamos uma pessoa para ser um Guardião Cronal, se faz necessário um incentivo…

― Alguém já te disse que você é ótima para fazer um mistério? ― ele juntou as mãos espalmadas, num claro sinal de súplica. ― Me conta logo o que vocês prometem…


― Bem… ― era claro o desconforto da garota, mas após um último suspiro, aparentemente para reunir coragem, ela continuou. ― Quando a guerra contra os Seculares acabar, cada um dos Guardiões que sobreviver poderá escolher um período de sua vida a ser alterado conforme seu bel prazer… Desse modo, até mesmo se você tiver um parente que tenha morrido em algum acidente, por exemplo, poderia evitar esse acidente e viver em uma nova realidade, que será criada para você a partir da mudança desse evento. E nem pense em fazer algum tipo de pedido que alterasse o mundo inteiro, alguns Guardiões até cogitaram se era possível voltar no tempo e matar Hitler antes dele iniciar a segunda guerra, mas um evento desse porte não pode ser alterado… Por isso preciso frisar que o momento escolhido só pode ser e deve ter a ver com a vida pessoal do Guardião.


Desde então sempre que Caio tinha alguma pausa na sua vida tão atribulada, ele se pegava pensando no que poderia mudar, mas nunca chegava numa decisão.


Para sua sorte, pois a cabeça começava a doer por causa das possibilidades infinitas que tal “presente” lhe oferecia, Caio sentiu o costumeiro ardor emanar de sua tatuagem.


― Chega de ficar pensando… Tá na hora de entrar em ação!


Ação era o que ele procurava.


E ação era o que ele teria.


Continua.


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2 Comentários

  1. Como é bom reler Chronos!
    Um clássico que nunca enjoa, tipo vinho: quanto mais velho, melhor!

    Além de forte, Caio é um personagem carismático e marcante, cuja a atuação e atitudes dá uma verniz muito bacana à trama , que já é maravilhosa, enriquecendo-a sobremaneira.

    Acredito que sem ele, Chronos, não teria chegado onde chegou.

    O personagem certo , na história certa.

    Não é a toa que Estação Chronos sejao seu xodó!

    Deve dar um orgulho danado ao autor , quando se percebe que a ideia inicial , ganhou forma e se tornou uma realizade que superou a projeção inicial.

    Parabéns!

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    1. Valeu mesmo pela leitura e comentário.
      Me esforcvei para deixar os personagens desse título o mais interessantes que eu consegui.
      Fico feliz por, pelo visto, ter acertado a mão. valeu mesmo.

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