6. Dia de treinamento.

 

Quando se começa a entender os poderes.

E nossa viagem pelo pasado de Caio continua.

Conheceremos aqui os primeiros contatos dele com seus companheiros guardiões e a descoberta de como funcionam seus poderes.

Espero que goste de mais esse capítulo.

Portanto, sem mais... Boa leitura!

6. Dia de treinamento.

O morro era bem alto, mas o chão ia se aproximando mais e mais, numa velocidade que mal dava para Caio pensar algo além de “morrimorrimorri”, quando ele sentiu uma voz em sua mente.

“Acalme-se...” era a Condutora “Apenas relaxe enquanto eu te mostro como acessar seus dons… Mas preciso que relaxe e abra sua mente para mim...”

― Fácil falar! Não é você que tá caindo pra morte!

“Certo… Vamos dar uma forçadinha… Só dessa vez.”

A tatuagem voltou a arder, mas dessa vez de forma mais agradável, quase prazerosa, estendendo tal sensação por todo o corpo do rapaz, que pouco a pouco foi sentindo que a queda desacelerava.

Quando ele teve coragem de abrir os olhos, percebeu que estava flutuando, olhou para o peito de sua roupa e percebeu uma imagem feita de energia, a mesma da roupa da Condutora e que era igual a tatuagem, sua visão parecia mais aguçada e, mesmo sem ele perceber, chamas brancas irrompiam de seus olhos.

“Interessante...” novamente a voz da Condutora em sua mente “Eu imaginei mesmo que voo poderia ser uma das suas habilidades… Que sorte não?”.

― Sorte? Sorte!? Você me jogou no alto do morro por um palpite?

“Não fique estressado… Foi só um sustinho… Se concentra nas sensações do seu corpo, pois já, já vou te deixar sozinho… Então vamos lá!”

Caio se ergueu aos céus, sobrevoando o campo de batalha, conseguindo escapar, por pouco, de alguns ataques que vinham de baixo e, enquanto observava a mulher de cabelo laranja destruindo outros Seculares, percebeu que alguns pareciam se desfazer sozinhos.

“Se lembra sobre o que eu falei de grupos com três Guardiões?” a cada instante Caio ia percebendo que seu controle sobre o corpo e suas novas capacidades iam aumentando pouco a pouco, mas ele continuava mantendo atenção às palavras da Condutora “Aquele é o terceiro membro dessa Tríade, uma garota ucraniana que possui uma velocidade muito acima da normal dos humanos e que pode gerar pequenas esferas explosivas com as mãos, a outra veio da França e consegue criar aquelas manoplas gigantes de energia sólida.”

Caio observava atentamente o campo de batalha logo abaixo, reparando que poucos guerreiros estavam correndo por suas vidas, alguns encaravam os monstros à sua frente com bravura.

Infelizmente isso não bastava e a carnificina continuava de forma intensa, com os tais Seculares cortando em pedaços todo aquele que estivesse seu caminho, enquanto tentavam alcançar os Guardiões.

― Isso tudo é uma loucura! Se a gente tá mesmo no passado, como nunca ouvi falar de algo assim nos livros de história?

“Te explico isso em outra hora… Agora… Desvia!”

O grito na mente de Caio fez com que ele conseguisse mover o corpo para a esquerda, escapando por pouco de uma lança feita com a pedra dos Seculares.

“Você precisa partir para a ofensiva...”

― E vou fazer o que? Pedir com jeitinho pra eles pararem? Eu sou estudante de medicina! Até curto uma academia, mas duvido que as poucas aulas de boxe que meu pai me deu, quando eu era moleque, vão ajudar.

“Por que todos os Guardiões não podem ser como a Natalie?”

Caio sentiu o suspiro de impaciência da Condutora em sua mente, pouco antes de todo o seu ser se fundir com a garota, abrindo assim sua percepção para todas as possibilidades futuras.

Ele fechou os olhos e então deixou seu corpo cair, conforme a Condutora ressurgia no alto do morro de onde eles haviam alçado voo, ela juntou as mãos, uma prece silenciosa, torcendo para que a união mental tivesse dado certo, mas logo voltou a uma atitude neutra de emoções, quando sentiu uma mão pousando suavemente no seu ombro esquerdo.

Logo ela estava entre duas mulheres iguais a ela, uma aparentando ser mais velha e a outra apenas uma criança.

― Então esse é o novato? ― a pequena parecia empolgada, conforme assistia a queda livre em que Caio se encontrava. ― Qual será o dom dele? Além de cair como se fosse uma pedra?

― Seja qual for… ― a mais velha tinha um tom de voz monótono, sem emoção alguma, os olhos verdes frios a observar o novo Guardião. ― Seria bom ele despertar logo…

Como que ouvindo as palavras da Condutora mais velha, Caio abriu os olhos, as chamas ao redor deles aumentou de intensidade e conforme ele alterava o rumo da queda, voando agora com total desenvoltura e controle, o ar ao redor das suas mãos foi se distorcendo.

Ele seguiu diretamente na direção de um Secular que, após absorver dezenas de outros, ia se erguendo com mais de cinco metros de altura e empunhando uma imensa lança de pedra.

Caio chegou próximo do inimigo gigante, estendeu seu punho direito para trás, preparando o golpe, ficou pensativo por alguns instantes, conforme pequenas lâminas de energia, de formas variadas, surgiram no meio do ar distorcido e então gritou a plenos Pulmões:

― Incisão!

Só então ele acertou um soco direto no peito da criatura.

O tronco inteiro do Secular atingido pareceu explodir, espalhando ao seu redor tiras de pedra e carne cortadas perfeitamente, dano causado, com certeza, pelas lâminas de energia, que ainda pareciam vibrar levemente ao redor dos punhos de Caio.

― Uau! Isso foi…

Sem qualquer aviso surgia às costas do novo Guardião outro Secular, esse apenas pouco menor que o que ele acabara de destruir, mal dando tempo para se defender.

Um golpe vindo por detrás do monstro destruiu todo o seu flanco direito e depois que seus restos viraram pó, sendo levado pelo vento, a imagem da Guardiã de cabelos alaranjados, foi entrando no foco da visão melhorada de Caio.

― Gostei do seu ataque mon ami… ― com algumas palavras e expressões francesas, mais tarde Caio descobriria que todos os Guardiões ganhavam o Dom das Línguas, possibilitando que cada um ouvisse as palavras de um companheiro em sua língua nativa, por isso ele ouvia em português, o que ela dizia em francês. ― Mas precisa cuidar da sua retaguard...

A frase da moça foi interrompida quando Caio liberou seu ataque outra vez, agora indo direto na direção dela, errando-a por pouco. Antes que ela revidasse, xingando-o de todo jeito em francês, a garota olhou para trás e viu um Secular se desfazendo em pedaços.

― Acho que você também tem que tomar cuidado…

― Hum… ― ela se voltou para ele com um sorriso cativante nos lábios. ― Meu nome é Natalie Flaubert, a Guardiã D’acier…

― Ah... Sim… ― após alguns instantes em que Caio apenas observou a beleza da garota, ele despertou entendendo que ela esperava uma apresentação como a que ela fez. ― Meu nome é Caio de Assis, o… Hã… Guardião… Bisturi! Isso! Guardião Bisturi.

― Bom nome, mas a gente conversa depois… Agora precisamos…

Sem aviso algum a ponta afiada de uma lança de pedra pareceu brotar no peito de Natalie, que engasgou e começou a cuspir sangue, conforme um Secular surgia por detrás dela e, segurando num dos ombros da garota, retirou sua lança, deixando o corpo sem vida cair ao chão, como uma criança que descarta um brinquedo que já não lhe interessa.

Caio ficou tão chocado que não conseguiu se mover, olhou para a direita e viu que a outra garota, cujo nome ele não sabia, também jazia empalada por outra criatura.

Nos céus o Cronômetro anunciava, emitindo um som agudo e com seus mostradores ficando vermelhos, que a contagem de tempo estava acabando.

O rapaz cerrou os punhos, fazendo o ar ao redor desses ficar ainda mais distorcido que antes, criando muitas outras lâminas de energia, dos olhos as chamas brilhavam, ainda mais intensas.

No alto do morro as três Condutoras observavam tudo, cada uma com seu jeito particular, conforme o novo Guardião Cronal se lançava contra os Seculares, o coração cheio de ódio e desejo por vingança.

― Incisão!

Continua.