5. Revelações.

 


Quando a verdade se mostra e escolhas são feitas.


Mais um vislumbre da época em que Caio escolheu se tornar um Guardião Cronal.

Nesse título eu experimentei muitas formas de escrever, principalmente essas idas e vindas do passado dos personagens, que se reflete em outros títulos que escrevo.

Espero que continie curtindo e acompanhando.

Portanto, sem mais... Boa leitura!



5. Revelações.


Caio esfregava desesperadamente a área onde ele fora marcado, que finalmente parara de doer, achando que talvez fosse um truque, uma tatuagem de henna ou qualquer outra loucura da garota à sua frente.


― Não adianta… Ela não vai sair…

― Quem diabos é você? O-o que você fez comigo? ― ele se ergueu, parando a poucos centímetros daquela que se apresentou como Condutora. ― Onde estamos? E pra onde foram as pessoas que estavam aqui no trem…

― Sei que você tem muitas perguntas Caio de Assis… Vou tentar responder a todas, mas antes preciso que você se acalme…

― Me acalmar? Olha eu…


Caio tentou segurar o pulso da garota, mas ela girou seu braço livrando-o, para então posicionar seu corpo atrás do dele, empurrando o rapaz até a porta do outro lado do trem, imobilizando-o e forçando seu braço esquerdo para cima.


― Violência não vai ter trazer as respostas Caio… Eu…

Aconteceu de repente.


A tatuagem ardeu, ele sentiu como se chamas tomassem seus olhos e, ao olhar para baixo viu surgindo no peito uma imagem holográfica igual à estranha tatuagem. Quando ele forçou sua mão livre contra a porta do trem, o ar ao redor dela sofreu uma distorção.


Ele forçou as costas e conseguiu lançar a Condutora longe, se livrando da imobilização.


― Muito bom!


― O-o que foi isso? Eu…

― Seus dons começaram a despertar… Agora se você se acalmar, posso começar a me explicar… ― Ela indicou um banco, onde Caio sentou-se ainda olhando para a mão, abrindo e fechando os dedos, tentando entender o que havia acontecido a pouco, enquanto a Condutora se sentava logo diante dele. ― Muito bem… Então vamos à versão resumida…

“O mundo como você conhece só permanece assim por causa dos Guardiões Cronais, pessoas comuns que, ao ser escolhidas por uma Condutora, ganham poderes especiais, acesso ao Trem Cronal e à Estação Chronos, de onde você viajará pelo tempo, protegendo nosso mundo dos Seculares.


Criaturas feitas de momentos, passados, presentes e futuros, reunidos num corpo, as vezes humanoide, os Seculares nasceram, até onde sabemos, num futuro distante, no que chamamos de fim dos tempos, quando toda nossa realidade se encaminhará para a Entropia Final.


Quando eles surgiram em nosso mundo, tentando mudar o rumo de certos eventos históricos, a primeira Condutora e o primeiro Guardião despertaram, servindo como um tipo de anticorpo, conseguindo rechaçar a primeira Incursão, que é como chamamos as tentativas de invasão por parte dos Seculares.


Ao sair da estação Chronos, os Guardiões que, com o passar do tempo, passaram formar grupos de três, cada um com uma habilidade ímpar, veem surgir nos céus o Cronômetro, um tipo de relógio holográfico que ocupa um grande espaço no céu, podendo ser visto por todos os combatentes e, quando a contagem, que pode variar de alguns minutos a pouco mais de uma hora, se encerra, um dos lados deve estar sem combatentes, dando assim a vitória ao lado em que restar, ao menos, um guerreiro em pé.


Nem sempre as equipes de Guardiões saem totalmente ilesas e, quando uma das pontas das tríades acaba caindo em combate, logo convocamos um potencial candidato para ocupar a vaga deixada.”


― E é aí que você entra Caio de Assis…


― Moça, você precisa rever seus conceitos sobre explicar algo a alguém… Não entendi quase nada do que você falou… Parece tudo um enredo de algum filme B ruim e…


A garota não conseguiu evitar um suspiro de tédio, ela acabava se questionando se era necessário toda aquela descrença por parte de todos os novos Guardiões, mas por isso ela já havia esquematizado toda a teatralidade das explicações, desde as apresentações das novas vidas que os escolhidos teriam dali até o inevitável fim, até como funcionavam as Incursões, ou mesmo quem eram os Seculares.


― Chegamos. ― o trem parou de se mover no exato instante em que a Condutora havia se levantado. ― Agora vai entender por que fiz uma explicação tão sucinta…


Ela se aproximou, as mãos cruzadas atrás do corpo, o uniforme não era capaz de esconder suas belas e generosas curvas e, mesmo dando a impressão de ser uma garota menor de idade, Caio não conseguia deixar de admirar a beleza exótica que estava diante dele.


As únicas portas duplas do vagão do trem se abriram e o rapaz não viria a se envergonhar de admitir que o primeiro pensamento que havia passado por sua cabeça era sair correndo dali, mas ele se conteve, parecia até hipnotizado pela voz da Condutora.


― Nesse momento você tem uma escolha. Pode deixar as portas se fecharem, permanecer sentado onde está e logo vai voltar à sua vida comum, o conhecimento que lhe passei desaparecerá e nunca mais vamos nos ver…


― Qual a alternativa?


― Me acompanhar e embarcar na aventura da sua vida.


E então ela saiu do vagão, entrando numa moderna estação de metrô onde só se viam as cores preta e branca, do chão ao teto e nas paredes, permanecendo de costas para o trem, braços ainda cruzados atrás do corpo e se movendo para frente e para trás de forma brincalhona.


Ao ouvir passos atrás de si, ela se voltou, com um discreto sorriso desenhado nos lábios.


― Tá bom… ― mesmo sem acreditar no que estava acontecendo, afinal de contas ainda podia até mesmo ser um sonho, a curiosidade foi maior que o instinto de autopreservação do rapaz. ― Você vendeu bem o seu peixe… Vamos lá ver o que é esse negócio aí…

Caio então a seguiu pela estação, passando por uma porta que apresentava uma imensa placa escrita “Banheiros” e finalmente subindo numa escada rolante que os levou até o lado de fora, o sol repentino o fez fechar os olhos por um instante.


Tempo suficiente para que o mundo se transformasse.


― Mas que porr…


O rapaz não conseguiu conter a surpresa, ao se ver encima de um morro alto, diante de um imenso descampado, onde centenas de pessoas, algumas trajando armaduras, outras apenas com trajes de panos e saias, se enfrentavam num combate sangrento.


― Bem-vindo Caio de Assis… À Batalha da Ponte de Stirling!

Totalmente sem fôlego, ele não sabia para onde olhar, ainda mais ao relembrar de onde aquele nome lhe era familiar.


― Tu tá de sacanagem! Tão regravando o filme Coração Valente? Fala sério! Cadê o Mel Gibson?

Foi nesse momento que, o que Caio já considerava fantástico, ficou ainda mais surreal.


Um som agudo se fez ouvir por sobre a balbúrdia do combate e, logo no céu, surgiu uma imagem holográfica que lembrava um relógio estilizado.


― O Cronômetro!


No instante seguinte, vários combatentes começaram a convulsionar, cair no chão de forma que aqueles que estavam perto pararam de lutar e se afastaram, muitos se benzendo.


Foi então a primeira vez que Caio via um secular, no caso, centenas, surgindo em meio aos guerreiros caídos, que começaram a ter a pele coberta por um tipo de sedimento, lembrando uma formação rochosa e acinzentada, com diversos filamentos verdes e brilhantes.


Um dos seculares ergueu sua espada, agora algo de um tamanho desproporcional e aparentando ser feita do mesmo material que cobria os corpos das criaturas. Assim que ele desceu a arma um grupo de três guerreiros ergueram inutilmente seus escudos e fecharam os olhos esperando pelo impacto.


Impacto esse que nunca veio.


Os escudos foram baixados a tempo de ver a criatura se desfazendo numa nuvem de poeira, com um rastro de energia dourada seguindo na direção de outro Secular.


Só então Caio conseguiu divisar uma linda garota de cabelos alaranjados e uma pequena mecha roxa, mas além de sua beleza, o que mais chamou a atenção do rapaz foram as imensas manoplas douradas que ela trazia ao redor de seus punhos.


Marteau de Dieu!


Ela destruiu cerca de dez monstros com um golpe, depois se voltou para onde estavam a Condutora e Caio.


― Esse é o novato? Tá esperando o que? Um convite por escrito?


― Acho que ela tá falando com você…


― E o que diabos eu deveria fazer?


A resposta foi um empurrão.


Do alto do morro.


E foi nesse momento, com a certeza de que ia morrer, que Caio pensou brevemente que deveria ter escolhido voltar para casa.



Continua.

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2 Comentários

  1. Quando tudo é novo pra gente, a reação que Caio teve é a mais esperada. Só não precisava arremessá-lo para um comabte em cima de um morro.

    A condutora teve um belo jeito de apresentar o cenário .. rsrsrsrsrs...

    Não deve ser fácil ter que entrar numa batalha e se virar nos trisntas desse jeito.

    Foi muito bem narrada essa parte!

    Parabéns!

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    1. Obrigado pela leitura e comentário.
      Como em muitos animes/mangas, eu quis dar um ar de "pressa" par o aprendizado do Caio, pois se estendesse demais, poderia ficar massante e chato.
      que bom que gostou.

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