Óbito Codex #07

  


Quando batalhas levam a histórias.

Flagelo versus Madame Licht.

Precisa falar mais?

Portanto, sem mais delongas... Boa leitura!

Anteriormente em Óbito Codex


Matheus é um jovem que, ao saber das dificuldades pelas quais sua família estava passando, volta para o Brasil, depois de passar cinco anos viajando pelo mundo, numa jornada para, segundo ele, se preparar para alcançar seus objetivos.

O principal deles?

Enfrentar e vencer o Reverendo Salazar, líder máximo da Igreja da Luz Eterna, antes que o pior aconteça.

Matheus realizou sua vingança de forma brutal, garantindo que os traficantes responsáveis pelo ataque à escola de seu sobrinho nunca mais ameacem ninguém.

Após um momento tranquilo onde a professora se seu sobrinho ocupa um lugar especial no coração de Matheus, chega a hora de enfrentar a primeira Acólita do Reverendo Salazar.


Conexão Dimensional

Óbito Codex #07.

Revelações.

 

Enquanto Matheus percebia, com pesar e enfado, que os servos de seu antigo inimigo nesse mundo não passavam de reflexos daqueles de outrora, resolveu não perder tempo dando ouvidos para as palavras vazias de Madame Licht.

 

— Acionar… Óbito Codex! Eu sou o...

 

Ele ativou sua armadura de forma discreta, empunhou uma de suas espadas e, enquanto terminava de falar, avançou a toda velocidade, desenhando um talho que partia ao meio a bochecha de sua inimiga.

 

— … Necromante Supremo! Flagelo!

 

Só então Madame Licht assumiu sua forma verdadeira, a de uma criatura esguia, com ombreiras e joelheiras pontiagudas e douradas, um peitoral azulado, da mesma cor que ela exibia em um tipo de máscara, o restante todo de um branco ofuscante.

 

Após uma avaliação do poder que a inimiga emanava, Flagelo não teve dúvidas, erguendo sua mão direita por sobre seu ombro e, parecendo puxar algo do nada, fez surgir um manto escuro e translúcido, que formou um capuz sobre sua cabeça e uma longa capa de pontas rasgadas que lhe cobria os ombros e as costas.

 

O Manto da Escuridão Plena oferecia não apenas proteção extra para a armadura, mas também muito mais velocidade, que o guerreiro necromante percebera, só de olhar para sua inimiga, que seria algo crucial naquele combate.

 

Por isso, assim que ambos se viram prontos para o combate, cada um saltou alguns metros acima, desaparecendo em seguida, num tipo de explosão sônica, seguindo um contra o outro numa velocidade tamanha que olhos humanos apenas perceberiam duas esferas de energia se chocando.

 

A luta seria registrada também, em sua maioria por celulares, da mesma forma, pois nem mesmo os atuais aparelhos eletrônicos de captação de imagem conseguiriam gravar os dois combatentes.

 

Assim que ascendeu aos céus, Flagelo precisou erguer sua espada para a esquerda e um pouco para trás, uma vez que Madame Licht após uma série de avanços, soltando um flash cegante em diversos momentos, refazendo a mão perdida, conseguiu se colocar às costas de seu inimigo.

 

Ela pretendia encerrar a luta o mais rápido possível, pois seu mestre sempre dissera que aquela forma luminosa era tão poderosa que poderia consumir sua hospedeira, caso o uso da mesma se estendesse por tempo demais.

 

As garras de luz seguiram direto para o pescoço do necromante, a intenção era decapitá-lo, pois era de conhecimento universal que são raros os seres que, sem uma cabeça, ainda pudessem representar algum perigo, mas o plano falhou, quando a espada de lâmina energética conseguiu bloquear totalmente o ataque.

 

Enquanto Madame Licht continuava seu avanço, conforme Flagelo mantinha a espada erguida para se defender, com a mão livre, fez surgir outra, que seguiu rapidamente na direção do abdômen de sua inimiga, foçando-a a se afastar enquanto soltava um guincho de puro ódio e conferia o pequeno corte que o outro conseguira lhe infligir.

 

Sem diminuir a velocidade, ela fez outro desvio reto, sem que fosse necessário realizar uma curva de movimento, dessa vez seguindo com as duas garras abertas, preparadas para causar o maior estrago possível, assim que alcançasse seu inimigo.

 

Isso era algo que Flagelo não permitiria.

 

Por isso ele esperou até o último milissegundo, torcendo o corpo para trás, sentindo a energia que as garras emitiam ferindo seu peito, mas, ao mesmo tempo, com as duas espadas, ele abria generosos sulcos pelo corpo da inimiga, que quase teve o corpo partido em três partes.

 

“Isso não foi o suficiente para te deter…” a velocidade de ambos era tamanha que o diálogo precisava ser mental, uma vez que as palavras não os alcançariam a tempo. “Nem precisa fingir.”

 

“Tão insensível…” sem parar para nada, Licht foi recuperando seu corpo, da mesma forma que a mão perdida, quase que instantaneamente. “Venha e me mostre todo seu poder… Aqui nesse mundo você escolheu o nome Matheus certo?”

 

— Eu! Sou! Flagelo!

 

No tempo que levou para o grito do guerreiro chegar até sua inimiga. Eles já haviam trocado mais de vinte golpes, ela com suas garras de luz, ele com as espadas de lâminas energéticas, ambos sem demonstrar o menor sinal de cansaço, ou de alguma brecha que pudesse ser aproveitada para encerrar a luta.

 

Pouco a pouco o corpo de Madame Licht começava a dar sinais de estar se desfazendo, conforme os cortes feitos por seu inimigo, os que ela não conseguia bloquear ou regenerar, deixavam rastros cintilantes de luz.

 

Ao mesmo tempo a armadura do guerreiro ia sofrendo avarias diversas, algumas rachaduras começavam a surgir em diversos pontos, mesmo que o Manto de Escuridão Plena ainda ajudasse a defendê-lo da maioria dos ataques, Flagelo sabia que se a luta se estendesse ainda mais havia o perigo de derrota, o que ele não podia sequer cogitar naquele momento.

 

E então decisões foram tomadas.

 

Madame Licht deu adeus à sua forma humana e ao arremedo de vida que recebera de seu mestre, agora tudo o que importava era, se não conseguisse matar o necromante, ao menos, causar o máximo de dano que pudesse para que outro acólito pudesse finalizar seu trabalho.

 

“Starburst des Todes!”*

 

O corpo da Acólita aumentou em tamanho, massa e, claro, luminosidade, era como se um sol se formasse acima da cidade, enquanto sua consciência ia se esvaindo, dando lugar a uma selvageria primal, que não cessaria enquanto ainda vivesse.

 

Tudo o que havia diante dela, o que lhe ocupava totalmente o que restara de sua mente, era a forma escura que voava logo adiante, que já nem o percebia como algo que lembrava um humano, era apenas foco de todo o ódio que ardia em seu ser.

 

“Então…” Flagelo segurava com força nos cabos de suas espadas, em seus pensamentos já antevia o que estava prestes a acontecer. “Os servos de Talloth nesse mundo também podem sofrer o Decaimento.”

 

Os transeuntes, que haviam parado tudo o que estavam fazendo para gravar o estranho fenômeno, que seria chamado no futuro de noite do impacto entre luz e trevas, tiveram que levar as mãos aos ouvidos, quando um som agudo ecoou pelo ar, sendo ouvido até em algumas cidades vizinhas.

 

Um grito de puro ódio.

 

A esfera de luz, que outrora apenas representava o corpo de Licht se movimentando em uma velocidade absurda, agora havia se tornado o próprio corpo dela, seu plano era se chocar contra seu inimigo, causando uma explosão que levaria boa parte da cidade junto.

 

Um retrocesso do plano maior de seu mestre, mas, ao menos, a maior ameaça a ele seria eliminada, um sacrifício, pensava a Acólita em seus últimos resquícios de consciência, plenamente aceitável.

 

Finalmente Flagelo cessou seus movimentos, seu manto formava uma esfera ao seu redor, evitando que as câmeras conseguissem gravar algo mais do que um amontoado feito do que parecia energia escura.

 

Quando finalmente o impacto aconteceu, ao invés da grande explosão que se esperava, houve apenas silêncio.

 

Um total e completo silêncio.

 

O Manto da Escuridão Plena se manteve ao redor do guerreiro de armadura, impedindo que as pessoas na rua pudessem gravar o que estava acontecendo, mas parte dele se abriu para cima, permitindo a Flagelo ver uma câmera drone voando acima de onde a batalha ocorrera.

 

Em uma das mãos ele segurava Madame Licht, de volta à sua forma humana, enquanto com a mão livre ele estendia o dedo indicador na direção do aparelho voador.

 

— Você não espera mesmo que eu mostre tudo o que posso fazer não é, velho amigo? Bang!

 

Dito isso a câmera explodiu, impedindo assim que um certo reverendo pudesse presenciar o final da batalha, o que fez com que Salazar, num acesso de fúria, destruísse boa parte da sala de vigilância de sua sede.

 

Por conhecer e reconhecer a força e ameaça do inimigo, que ele acreditava ter deixado para trás, em uma realidade moribunda, o líder supremo da Igreja da Luz Eterna sabia que sua Acólita não tinha chances de vencer, mas esperava, ao menos, que ela conseguisse reunir informações suficientes para que ele pudesse se preparar para o que vinha pela frente.

 

Madame Licht falhou até nisso.

 

“Saber que Kahandrack ainda possui aquele maldito manto de escuridão não me ajuda em nada…” enquanto tentava focar seus pensamentos, Salazar destruía o tampo de uma mesa próxima com um único soco. “A cadela tinha que ter levado o desgraçado aos limites, dessa forma eu poderia passar os parâmetros exatos do que preciso para a equipe da forja.”

 

Com um urro gutural de ira, o reverendo agarrou um notebook próximo e o arremessou contra uma parede, onde ele teria se espatifado, caso uma mão não tivesse segurado o aparelho, segundos antes do impacto.

 

Um jovem de traços orientais colocava delicadamente o celular sobre uma pilha de escombros que, um dia, fora uma escrivaninha.

 

— Então finalmente chegou Kosen? Qual o problema de vocês Acólitos? Se estivessem todos aqui, o desgraçado não teria escapado e muito menos vencido a Licht!

 

Agora os olhos do revendo emitiram um brilho, disparando rajadas de energia luminosa na direção do teto, que muito provavelmente teria sido perfurado, abrindo caminho pelos andares da torre até escaparem para o lado de fora, alertando as autoridades.

 

Muito provavelmente.

 

— Mestre, vejo que continua extremamente emotivo.

 

Flutuando calmamente a vários metros do chão, a mão envolta em fumaça, após interceptar os raios de Salazar, descendo em seguida, conforme abanava o braço, dispersando a fumaça e revelando sua mão intacta.

 

Assim que seus pés tocaram o chão, a imagem do Acólito tremeluziu, antes dele desaparecer e voltar em instantes com uma nova e confortável poltrona, imediatamente ocupada por Salazar.

 

— Não posso dar chance para que o necromante tente me impedir... — o reverendo olhava para o punho direito, que tremia levemente. — Ele chegou muito perto em Ghunthiade, por isso está levando tanto tempo para preparar a Terra para o... Arrebatamento.

 

— Mestre, está deixando o ódio nublar seu raciocínio, a derrota de Madame Licht nos deu o mais importante para o plano que tenho em minha mente...

 

Com um movimento de mãos, dezenas de telas holográficas se espalharam pelo escritório destruído, em cada uma era possível acompanhar imagens da família de Matheus, seus pais, irmão, sobrinhos e, em algumas, seu amigo Gustavo e agora também de Rita.

 

— O sacrifício de Licht nos deu mais um alvo.

 

Finalmente Salazar abandonava suas feições soturnas, dando lugar a um crescente e assustador sorriso.

 

Alheio aos planos que eram traçados contra ele, Matheus finalmente resolvera pular da cama e trocou de roupa, pretendendo transparecer o máximo de tranquilidade que conseguia, antes de sair do quarto.

 

Claro que falhou miseravelmente, pois logo sua mãe estava com as mãos em suas bochechas.

 

— Pode ir explicando direitinho o que está acontecendo rapazinho.

 

— Mãe, não é nada e…

 

A frase morreu na garganta do jovem, quando viu sua mãe dando dois passos para trás e, assim como seu pai, irmão e sobrinhos, cruzou os braços diante do peito, numa pose que deixava clara a resolução de que era melhor ele falar logo a verdade, sem rodeios ou mentiras.

 

— Tá certo, vou contar tudo, só peço que esperem pois tem mais duas pessoas que estão para chegar e que devem ouvir a verdade também.

 

De fato, mal se passou meia hora e logo campainha soou, sendo atendida de imediato pela pequena Helena, que levou uma leve bronca por abrir sem nem perguntar quem era.

 

— Tudo bem papai, se fosse alguém mau ela ia me proteger.

 

Fernando não soube como reagir, mas teve que deixar o assunto para lá, uma vez que Gustavo e Rita passavam pela porta aberta pela menina, que os recebia com um sorriso cintilante.

 

Matheus e seu amigo trocaram um efusivo cumprimento, mas quando ele se aproximou da bela mulata, ambos ficaram alguns instantes parados e envergonhados, mas logo optaram por trocar um rápido e carinhoso beijo, ficando de mãos dadas, enquanto o restante dos presentes acenava positivamente a cabeça, todos com sorrisos sinceros em seus rostos.

 

— Titio tá namorando! Titio tá namorando! Titio tá namorando!

 

Helena dançava enquanto dava voz ao que passava pela cabeça dos demais, só parando quando seu tio a tomou nos braços, fazendo cócegas na barriga da pequena, aproveitando do ponto fraco dela.

 

Dona Oneide se apressou para fazer um lanchinho, na verdade um pequeno banquete, com uma farta tábua de frios, sucos, refrigerantes, cervejas, doces, muito mais do que qualquer um dos presentes seria capaz de comer sem explodir.

 

Amenidades foram trocadas, quase todos os assuntos acerca do relacionamento de Rita e Matheus, mas quando Helena chamou a moça de tia, deixando-a extremamente corada, o rapaz se levantou pedindo a atenção de todos.

 

— Chegou a hora de contar toda a verdade a vocês… - Após um longo suspiro, tentando concatenar as ideias, ele continuou. — Minha família, meu melhor amigo e Rita que, a cada instante, se torna mais e mais importante para mim, peço que ouçam a história que vou contar…

 

Mesmo sem perceber, todos os presentes se ajeitavam em seus lugares, era pautável a tensão na voz do rapaz, deixando claro o quão sério era o assunto que, finalmente, Matheus resolvera revelar.

 

— A história de um mundo conhecido como Ghunthiade, de como toda a realidade desse mundo foi destruída e dos poucos sobreviventes, entre eles, Kahandrack, o Flagelo…

 

 

 

 

 

 

 

 

* Traduzido do alemão: Explosão estelar da morte.



Galeria de imagens

Flagelo com o Manto da Escuridão Plena.


Madame Licht.


Postar um comentário

2 Comentários

  1. Taporra, que tenso cara... Eu sabia que isso ia acontecer, sempre, os vilões são sujos, são baixos, eles não conseguem vencer e precisam usar de covardia pra diminuir seus inimigos... Quando ele se aproximou das crianças, quando ele se aproximou da Rita, eu senti que isso iria acontecer, principalmente sendo derrotado como ele tem sido, e agora os coitados estão na mira... Eu vejo o Flagelo como muito poderoso, mas eu realmente fico preocupado se ele poderá proteger a todos o tempo todo ou, se teremos alguma cena dramática e revoltante da morte de algum inocente no meio do que vem por ae... Realmente muito tenso! Licht apesar de tudo não foi párea para Flagelo no entanto, esse que agora surgiu, parece ser tão poderoso à ponto de aparar golpes de seu mestre... Pressinto momentos terríveis em direção à nosso herói... E cara, ele vai revelar toda a verdade na frente de crianças? Crianças não guardam segredo, como ele vai lidar com isso? Enfim, confio nas tuas capacidades "escritivias", tenho certeza que vais encontrar um excelente explicação e maneira de resolver a situação! Parabéns pelo trabalho e ansioso pela continuação!! \o/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu demais pela leitura e comentário amigão!
      Cara, tu não sabe como esse tipo de reação me deixa feliz.
      E pode ter certeza de que esse plot dos familiares em perigo ganhou ainda mais força graças aos seus comentários.
      Agradeço demais a confiança e espero que eu consiga escrever algo à altura, juro que tô me esforçando pacas prá isso.
      Valeu mesmo por toda a força!

      Excluir