Óbito Codex #05

 


Quando novas ameaças surgem.

Após a vingança efetuada contra o traficante que atacou a escola em que seu sobrinho estuda, Matheus vai se preparando para as futuras batalhas, enquanto uma nova inimiga se aproxima.

Portanto, sem mais delongas... Boa leitura!

Anteriormente em Óbito Codex


Matheus é um jovem que, ao saber das dificuldades pelas quais sua família estava passando, volta para o Brasil, depois de passar cinco anos viajando pelo mundo, numa jornada para, segundo ele, se preparar para alcançar seus objetivos.

O principal deles?

Enfrentar e vencer o Reverendo Salazar, líder máximo da Igreja da Luz Eterna, antes que o pior aconteça.

Matheus realizou sua vingança de forma brutal, garantindo que os traficantes responsáveis pelo ataque à escola de seu sobrinho nunca mais ameacem ninguém.

Enquanto isso seus inimigos realizam seus próprios movimentos.


Conexão Dimensional

Óbito Codex #05.

Aliados.




Viena, Áustria, em um dos mais caros hotéis da cidade, uma jovem trajando o típico manto dos auxiliares da Igreja da Luz Eterna, batia desesperadamente na porta de um quarto, localizado no décimo andar.


Madame Licht! Por favor, me deixe entrar! — diante do silêncio vindo de dentro do quarto a auxiliar resolveu apelar. — São ordens de vossa santidade.


Repentinamente foi possível perceber um brilho imenso passando pelas frestas da porta, antes de finalmente a ocupante do quarto as abrir, dando passagem para a jovem, que sentiu um arrepio percorrendo-lhe a espinha assim que tocou o caríssimo carpete.


Hã… Pensei que alguns noviços estavam com a senhora.


O que veio fazer aqui… Nádia, correto?


Hã… Sim senhora… Eu… Eu trouxe uma esfera de luz do reverendo Salazar e…


Me entregue logo então, já que me interrompeu.


A auxiliar assim o fez, ficando parada, aguardando pela oportunidade de ver em ação o incompreensível modo de comunicação utilizado pelos líderes da Igreja.


Mais alguma coisa menina?


Ah! Desculpe senhora… É que… Eu… Eu… Sempre fico imaginando como funcionam essas esferas e… Me perdoe… Vou me retirar e…


Sem se lembrar do velho ditado a respeito de gatos e curiosidade e se arrependendo de imediato por não ter ido embora enquanto podia, Nádia sentiu seu pulso doer, conforme Madame Licht o agarrara de forma tão rápida que a jovem nem havia percebido quando ela havia se aproximado.


No instante seguinte a Acólita erguia a esfera de luz, fazendo o quarto de hotel ser preenchido por uma luz tão intensa, que forçou a auxiliar a fechar os olhos, sentindo que algo mais escorria deles, além de lágrimas.


Para seu horror crescente, ao passar sua mão livre no rosto, ela percebeu se tratar de sangue.


Seus olhos estavam sangrando.


Licht. — a poderosa voz de Salazar ecoava pelo quarto, o que piorou ainda mais a situação de Nádia, que percebia algo começando a escorrer para fora de seus ouvidos. — Sua presença é necessária em nossa sede. Venha imediatamente.


Apenas isso, poucas palavras, mas que causaram um estrago impressionante na jovem auxiliar, que se encolhia não somente por medo, mas pela agonia que sentia.


Satisfeita minha pequena curiosa?


Nádia mal ouvia o que a outra falava, tudo o que queria era gritar, espernear, mas suas forças iam se esgotando rapidamente, conforme sentia agora algo subir-lhe pela garganta, conforme ela caía de joelhos no chão.


No instante seguinte, uma poça de sangue se formou, resultante de um jorro que partira da boca de Nádia, que ainda teve tempo o suficiente para se arrepender da decisão de ter saído da casa de seus pais que, segundo ela, eram caretas demais para entender não apenas a ela, mas principalmente sua predileção pelo uso do que ela chamava de “drogas recreativas”.


A luz divina faz isso. — Licht andava ao redor da jovem caída, no rosto um sorriso que ia crescendo, conforme ela parecia emanar uma luz cegante de seu próprio corpo. — Nossa religião prega a felicidade da vida acima de tudo, permitindo que humanos como você se entreguem de corpo e alma pela validação dos seus mais cruéis e degradantes vícios.


Humano?” Nádia não teve tempo para registrar a forma estranha com que sua líder falava, pois logo seu corpo convulsionou, resultando em um novo jorro de sangue no chão.


Ela teve seus cabelos agarrados por Licht, que a forçou a ficar cara a cara com ela, conforme a Acólita da Igreja da Luz Eterna parecia emanar uma luz cegante de seu próprio corpo.


Espero que a sua luz seja mais saborosa do que as dos noviços que comi mais cedo…


Não houve tempo para nada.


Nem para pedidos de socorro, ou arrependimentos de suas ações e decisões.


Num instante a luz tomou todo o quarto, sendo devidamente controlada para não se expandir pelas janelas, o que poderia chamar atenção indesejada.


No instante seguinte Madame Licht estava só no quarto, nua, o corpo reluzindo com uma juventude restaurada, cujo combustível foram as vidas, as luzes, que ela consumira.


Sou necessária então mestre? — sentindo-se excitada como a muito tempo não ficava, a bela ruiva balançou seus cachos displicentemente e sorriu. — Espero que seja divertido.


Assim que a frase deixou seus lábios carnudos, ela sumiu.


No Brasil, o investigador Gustavo Santos aguardava seu amigo de infância para almoçarem, mal se aguentando de curiosidade a respeito de Matheus ter escolhido um restaurante longe do de seus pais.


Era um costume antigo ele escolher um lugar de onde poderia ver todas as entradas e saídas do recinto, aprendera isso com a centena de filmes policiais e de ação que vira na vida.


Hoje você não vai conseguir seu…”


Os pensamentos de desafio foram interrompidos quando ele sentiu sua cabeça indo para frente, após levar um poderoso tapa na nuca.


Acorda pra cuspir irmão!


Filha da puta! De onde você veio, cacete…


Bem, tudo começou quando papai e mamãe se conheceram e…


Enquanto seu amigo massageava o local atingido, Matheus dava a volta na mesa, rindo da reação do outro e sentando-se diante dele.


Um dia desses eu descubro o seu segredo…


Como o outro permaneceu em silêncio, conforme recebia o cardápio e calmamente fazia seu pedido, Gustavo resolveu pedir algo e esperar que Matheus entrasse no assunto que os trouxera até ali.


A paciência acabou quando já estavam no fim da sobremesa.


O papo tá bom Matheus, mas preciso voltar, bater cartão e trab…


Você tá responsável pela investigação do que aconteceu na casa do Ratazana né?


Como você sabe disso?


Vai chegar um dia em que vou precisar da sua ajuda Gustavo… Da sua ajuda e que você confie e acredite em mim. E que, acima de tudo, proteja minha família. Posso contar contigo?


Droga. Fiquei quieto por um momento porque achei que pudesse ser zoeira ou algo assim… É sério?


Mais do que qualquer coisa…


Quando a gente era moleque, tanto na escola como quando a gente tava brincando na rua, sempre que eu te ouvia, qualquer coisa que a gente fosse fazer dava certo, mas preciso que você me explique como sabe do lance do Ratazana.


Antes que Matheus começasse a falar, uma comoção do lado de fora do restaurante chamou a atenção dos amigos, quando os demais clientes iam se aproximando da porta e das janelas, vendo que muitas pessoas passavam correndo pela rua, como se fugissem de algo.


O motivo do pânico logo se revelou como um imenso monstro, igual ao que Matheus destruíra dias atrás, que havia matado uma moradora de rua, mas ele mal teve tempo de registrar tal informação, pois logo um carro foi arremessado contra o restaurante.


Nos dias seguintes os jornais noticiariam que, apesar de todo o estrago causado ao local, não houvera uma única vítima, ferida ou morta.


Muitos dos entrevistados, inclusive um investigador da polícia, jurariam que haviam sido envolvidos no que quase todos chamaram de uma massa de escuridão que, não apenas salvou suas vidas, como levou todos os presentes em segurança para uma rua próxima, enquanto boa parte do restaurante fora destruído.


Matheus? Matheus! — Gustavo olhava para as pessoas ao seu redor, tentando encontrar seu amigo. — Onde diabos esse cara está?


Naquele momento, o monstro permanecia parado diante do que restara do restaurante, uma densa nuvem de poeira e detritos impedia de ver o interior, mas logo uma silhueta humana começou a se formar.


Acionar… Óbito… Codex!


Logo alguém saltou para a rua, trajando uma armadura negra com detalhes que se acenderam com uma luz azul-esverdeada.


Sou o Necromante supremo! Flagelo!


Antes que qualquer um dos presentes sequer pensasse no que faria a seguir, era como se o tempo tivesse congelado no local, a imagem do homem de armadura pareceu tremeluzir e, no instante seguinte, ele havia desaparecido.


Aqueles que haviam, irresponsavelmente, permanecido na rua, muitos gravando a luta com seus celulares, transmitindo para o mundo o que acontecia, se perguntaram onde estava o homem de armadura e logo a resposta se mostrou, quando algo que lembrava a lâmina de uma espada, mas feita de energia, brotou do peito da criatura.


O urro inumano de dor forçou todos a tamparem seus ouvidos.


O lamento durou poucos segundos, no entanto, pois logo a lâmina foi puxada do corpo do monstro, que caiu de joelhos, deixando os presentes finalmente perceberem que Flagelo estava logo atrás dele.


Com um giro de sua espada, desenhando um círculo na horizontal, o guerreiro fez a cabeça da monstro voar pelos ares, girando algumas vezes e se desfazendo numa explosão de luz antes de tocar o chão.


Todos foram ofuscados e quando voltaram a enxergar, nem o monstro, nem o guerreiro de armadura estavam mais lá.


O investigador Gustavo permaneceu estático por alguns instantes, mas logo se colocou a ajudar os feridos, enquanto ia digerindo as palavras que seu antigo amigo havia dito e o que poderia haver de ligação entre elas e o que ele acabara de testemunhar.


O foco dos pensamentos do policial, naquele momento, se encontrava no topo de um prédio próximo, de onde era possível ver a construção da Torre da Luz, que parecia, de fato, mais e mais alta a cada dia.


Ótima jogada maldito… Mas vai precisar mais do que isso para me atingir… E vou me certificar de que não tenha essa chance…”


E então o Flagelo se foi, sem ter uma real noção da tempestade que se aproximava mais e mais.



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