Quando velhos "amigos" ficam frente a frente.
Descobrindo o responsável pelo ataque aos alunos da escola onde seu sobrinho estuda, Matheus se prepara para levar a justa retribuição para os criminosos, enquanto Salazar tenta se preparar para a guerra que se aproxima.
Portanto, sem mais delongas... Boa leitura!
Anteriormente em Óbito Codex…
Matheus é um jovem que, ao saber das dificuldades pelas quais sua família estava passando, volta para o Brasil, depois de passar cinco anos viajando pelo mundo, numa jornada para, segundo ele, se preparar para alcançar seus objetivos.
O principal deles?
Enfrentar e vencer o Reverendo Salazar, líder máximo da Igreja da Luz Eterna, antes que o pior aconteça.
Após um encontro nada amigável, tanto Matheus quanto Salazar começam a se preparar para a guerra que está por vir, mas antes, o jovem guerreiro necromante faz uma visita a um certo traficante.
Conexão Dimensional
Óbito Codex #04.
Justiça.
— Pode entrar.
— Com licença vossa santidade, lamento incomodá-lo a essa hora da noite, mas… Tenho novidades a respeito de vossas últimas demandas.
O reverendo Salazar se afastou da janela pela qual admirava a noite paulistana, a seus olhos, era quase hipnótico o brilho das milhares de vidas que, vistas da altura de sua torre, pareciam estar a seus pés, prontas para servi-lo a seu bel prazer.
Ele acreditava nisso, até reencontrar um velho inimigo.
Por isso sua paciência estava no limite e, por mais que ele tentasse se conter, o auxiliar que acabara de entrar, cujo nome lhe escapava totalmente, pagaria por sua frustração.
Em breve.
— Sente-se e foque nos pontos principais. O dia não foi bom e não estou com disposição para muito falatório.
— Hã… Certo.
Ao chegar aos seus quarenta e cinco anos, Leonardo Fontes sentia a vida estagnada, preso a um trabalho que odiava e a uma família, esposa e duas filhas, pela qual já não nutria nenhum apego, por isso, ao ouvir uma das pregações do Reverendo Salazar, onde ele dizia que todos tinham o direito de alcançar a luz da felicidade, inclusive abandonando tudo o que considerasse um peso, ele não pensou duas vezes.
Mais de três anos se passaram, o caminho até se tornar um dos principais auxiliares ecumênicos da luz, que tinham contato e respondiam direto a Salazar, era como um sonho realizado, por isso a forma como a voz do religioso, geralmente calma e tranquila, soava tão áspera e, Leonardo dizia para si mesmo que só podia ser impressão, parecia ameaçadora.
— E então?
— Ah… Sim… Perdão vossa santidade… Já convocamos os Acólitos para que retornem imediatamente, alguns disseram que demorariam algumas semanas, mas assim que souberam que a ordem veio diretamente de vossa santidade, a maioria disse que estaria aqui em breve.
— Exatamente como deve ser… Alguma novidade de nossa divisão científica?
— Os cientistas-chefes estranharam a mudança de foco em suas pesquisas, mas, assim como os Acólitos, ao saber de onde a ordem vinha, iniciaram imediatamente a produção de vosso pedido, conforme as especificações enviadas.
— Ótimo… Ótimo…
Salazar caminhava lentamente pelo luxuoso escritório, dando voltas ao redor de seu auxiliar, que repentinamente sentia-se como um animal indefeso, acuado por um predador.
Assim que percebeu as mãos do religioso se aproximarem de seus ombros, Leonardo sentiu a mente vagar por um instante, lembrando das orações que sua avó lhe ensinara, na época em que ele tinha outras crenças.
A reza desesperada pareceu surtir efeito, pois logo Salazar se afastou, sua atenção voltada para a janela panorâmica da parede sul do escritório.
— Hã… — para o auxiliar era difícil até achar as palavras corretas, tamanha a força necessária para que ele se recuperasse do medo paralisante. — Eu… E-eu…
— Ainda está aqui? Volte para seus afazeres imediatamente e me deixa a sós com meus pensamentos.
Assim que se viu num escritório completamente vazio, os olhos de Salazar se iluminaram, permitindo assim que ele vislumbrasse uma imensa névoa negra que ia se expandindo não muito longe dali.
— O que você está aprontando, velho amigo?
A resposta para tal pergunta se encontrava na casa que servia de base e abrigo para o traficante conhecido como Ratazana e os Selvagens, o nome que escolhera para seu grupo de criminosos, cuja entrava apresentava uma porta semidestruída, com dois corpos decapitados caídos diante dela.
Lá dentro apenas agonia, desespero e morte.
— Que merda tá acontecendo? — numa espécia de bunker, construído logo abaixo da casa, Ratazana se mantinha cercado por seus melhores homens. — Nunca vi tanto grito assim! Será que é o Muralha? Ele já sabe que fui que mandei deitar o filho dele?
Do lado de fora o massacre continuava.
— Cacete! Me ajuda aqu…
A frase do criminoso que, já sem um braço, corria na direção dos colegas por um estreito corredor, foi interrompida quando seu corpo foi cortado no meio, verticalmente, de baixo para cima, com cada parte batendo em uma das paredes laterais e resultando num jorro de sangue que empapou o teto.
Em meio às gotas escarlates, que iam escorrendo e pingando na direção do chão, um homem de armadura, empunhando duas pequenas espadas, seguia seu caminho, nada conseguindo sequer diminuir a velocidade de seu avanço.
— Onde está ele? — agora dois capangas, após avançarem com tacos de baseball nas mãos, tinham seus troncos cortados, com os corpos sendo deixados para trás, numa trilha macabra de morte. — Onde tá o Ratazana?
Alguns criminosos tentaram fugir.
Um esforço em vão.
Um deles teve a nuca destroçada, conforme a lâmina de uma das espadas parecia brotar por sua boca, o outro primeiro teve as pernas cortadas na altura dos joelhos e, sem ter chance sequer de tentar se levantar, recebeu um pisão tão forte nas costas, que o som de sua coluna se fraturando preencheu o corredor.
Conforme o invasor avançava as paredes iam se tingindo de vermelho, a cada golpe uma vida se findava, sem que ele olhasse para os lados, mergulhado em cólera gigantesca, contra aqueles que ousaram colocar seus sobrinhos e outras crianças em perigo.
Se alguém fosse louco o suficiente para se aproximar do local, devido ao som de tiros e gritos, questionaria a própria sanidade, uma vez que o ar ao redor da casa ficava mais e mais espesso.
Uma nuvem escura ia se espalhando e subindo em uma espiral, como se formasse um monumento ao ódio do necromante.
E Flagelo continuava avançando.
Dentro do Bunker Ratazana se encolhia a cada som que vinha da carnificina que ocorria do lado de fora, tentando superar o medo e pensar em alguma saída, sua confiança na única porta do recinto diminuia drasticamente.
“Não pode acabar assim…” sem perceber que a unha do dedão, que ele passara a roer nos últimos minutos, já estava em carne viva, com o sangue escorrendo por seu pulso e pingando no carpete sob seus pés, o criminoso tentava se apegar a esperanças fúteis “Ele não vai entrar aqui nem fudendo… E se entrar… Aposto que posso comprar a minha vida… Tô com uma grana boa aqui no cofre… Eu… Eu…”
Uma explosão interrompeu seus pensamentos, ao mesmo tempo que fazia o criminoso perder o controle de sua bexiga, enquanto as pesadas portas do bunker caíam para o lado de dentro.
O Flagelo finalmente chegara.
— Façam alguma coisa seus desgraçados!
Ratazana havia mantido junto dele seus melhores capangas, cada um dos três trazia nos ombros um alto número de vítimas.
Nenhum deles foi páreo para a espada do invasor.
— Na-não… Não me… Mata…
— Então você implora pela vida e eu deveria atendê-lo? É isso?
— Si-sim… Eu… Eu sou só um ser humano… P-por favor… Me deixa viver?
— Te deixar viver…
— Sim! Eu imploro!
— Devo ser misericordioso com você então?
— Sim!
— Do mesmo modo como você foi misericordioso ao ordenar o ataque às crianças da escola?
Sem esperar que o criminoso respondesse, Flagelo ergueu a perna direita e pisou com força sobre o tampo da escrivaninha, destruindo não apenas o móvel, mas também quase todos os ossos das pernas do Ratazana, que já nem tentava argumentar, apenas chorava e gritava sobre seu destino injusto.
Flagelo o calou, desferindo vários tapas no rosto, depois colocou a ponta de uma de suas espadas bem no espaço entre os olhos do criminoso, descendo-a vagarosamente.
— As essências de seus homens, principalmente os menores de idade que foram aliciados por sua língua venenosa, se dispersarão pelo Éter e talvez, apenas talvez, um dia encontrem redenção. Já você…
Dizendo isso, ele finalmente deu uma estocada, fazendo com que a lâmina de sua arma abrisse caminho até sair pela nuca do criminoso.
Só então Matheus desativou o capacete de sua armadura, desfazendo-o e uma pequena nuvem escura de nanorrobôs, que se mesclou ao metal que cercava seus ombros, conforme ele olhava ao redor e admirava sua obra.
Com os olhos emitindo seu característico brilho, ele ergueu a mão direita e, mesmo sem o capacete, sua voz ecoou de forma inumana.
— Venham a mim!
As dezenas de corpos espalhados pela casa começaram a exibir pequenos tremores, enquanto suas essências os deixavam, indo diretamente para a palma do rapaz.
Assim que ele fechou o punho, como ele disse que aconteceria, elas se dispersaram.
— Agora… — ele esticou o dedo indicador na direção do traficante Ratazana. — Venha a mim!
Uma esfera negra brotou do peito do criminoso e foi até a mão de Matheus que permaneceu alguns instantes apenas a observá-la.
— Se torne um verme. Um verme que não poderá sequer se mover, permanecendo assim até o fim dos tempos, enterrado sob o piso dessa casa de pesadelos.
A esfera se retorceu e diminuiu de tamanho, até assumir a forma de algo que lembrava uma minhoca, toda escura e, sem cerimônia, Matheus virou a mão de lado e deixou cair a criatura no chão, que o atravessou sem deixar nenhum vestígio para trás.
Flagelo seguiu até um canto do escritório, abrindo as portas de um quarto, que permanecia no mais completo breu e só então, após mergulhar nas sombras, partiu dali.
Instantes depois, na Santa Casa de Misericórdia, um pai respirava aliviado após as várias horas que seu filho passara na mesa de cirurgia, assim que o médico o atualizou sobre o estado do garoto, que estava, finalmente, estável e sem risco de morte.
— Não se preocupe filho… — Muralha levava a mão até seu celular, procurando com pressa os nomes de seus principais capangas. — Quando você acordar aquele filhadaputa que te colocou aqui vai estar morto e…
— Tá atrasado.
O criminoso mal conseguiu esconder o susto, conforme Matheus parecia ter surgido do nada ao seu lado.
— Juro que, se você fizer algo assim de novo eu vou...
— Você não vai fazer nada.
O tom inumano da voz do outro fez Muralha se calar.
— O Ratazana já era… Você vai saber da notícia na TV e, aposto, tem seus meios para saber dos detalhes que a polícia não vai liberar. Vou te dar vinte e quatro horas para se preparar para mudar seu jeito. Apesar de ser um bandidinho pé de chinelo, tenho certeza de que, se for bem encaminhado, pode até ser útil. No fim desse prazo, que espero que você use bem, para saber como pode ser o seu destino, se me contrariar, eu volto a falar contigo. Até lá…
Matheus foi falando e andando de costas na direção da saída da sala de espera do hospital e assim que a porta que ele usou para ir embora se fechou, um esbaforido Muralha correu atrás dele, apenas para constatar, sem acreditar, que o corredor do lado de fora estava impossivelmente vazio.
— Que merda é essa?
Ele só obteve como resposta um arrepio em sua espinha.
A manhã seguinte encontrou dois investigadores literalmente afundados em dúvida sobre o massacre dos Selvagens, um dos principais grupos criminosos da região.
— Mas o que diabos aconteceu aqui Tati?
— Acho que você acertou em cheio na pergunta, Gu… Parece mesmo a obra de demônios.
O investigador Gustavo Santos e sua parceira Tatiane Borges tentavam manter seus calçados limpos, mas era quase impossível não pisar nas manchas de sangue que, literalmente, lavavam o chão da casa que pertencia ao traficante Ratazana.
— Mas seja o que for, lgo me diz que muito sangue vai rolar.
O policial não fazia ideia ainda, mas fora extremamente profético em sua afirmação.
A batalha entre Luz e Trevas nem havia começado.
Mas o mundo seria totalmente transformado quando ela acabasse.
3 Comentários
Cara, que episódio, que fenomenal! Ok, eu sei que a vingança e a violência não são respostas para nenhum problema, eu sei que por mais que as vezes tenhamos "sangue nos zóio", a gente tem de contornar e se controlar, de forma que façamos diferente daqueles a quem acusamos como errados, mas, somos humanos, somos incrivelmente falíveis e, esse ímpeto de olho por olho e dente por dente, persiste dentro de nós... Ver o que o Ratazana fez e ver a resposta que veio até ele, por mais que eu não apoie a violência, perceber alguém realmente maligno, receber o troco na mesma moeda - e nesse caso com juros e correção - é sem dúvida muito bem vindo! Vibrei com cada momento, com cada cena, pessoas que fazem esse tipo de atrocidade contra inocentes ou que são complacentes com tal, de maneira alguma podem se considerar inocentes, e onde não há inocentes, há a justiça, mesmo que de forma cruel e aterradora como Flagelo fez! Eu adorei a cena, e o desfecho dela foi mais incrível ainda, simplesmente perfeita a forma como ele agiu, tanto em combate quanto no hospital ao, frente a frente com o Muralha, simplesmente show de bola! Quanto ao Reverendo, eu confesso que senti toda a apreensão e medo do Leonardo Fontes (eu tinha um amigo com esse nome kkkk) e, fiquei muito apreensivo, enquanto o religioso circundava o pobre acólito como bem descreveste, como uma fera rondando sua presa! Eu creio, pelo que foi dito ali, que Leonardo deveria ter fugido, uma vez que conseguiu sair da sala, mas eu duvido que ele vá ser inteligente à ponto kkkkk! Parabéns meu amigo, excelente e maravilhoso episódio, mandou bem demais! \0/
ResponderExcluirvaleu de coração pela leitura e comentário meu querido amigo.
ExcluirUma das vantagens de se escrever é poder colocar "no papel" tudo aquilo que você não faria, ou não poderia fazer na vida real.
Essa cena inicial foi principalmnente bolada para mostrar que esse é um personagem levemente diferente dos que estou acostumado a escrever, tomando decisões que, como você mesmo destacou, é capaz de fazer o que for necessário para alcançar seus objetivos, ou se pisarem no seu calo... hehehhe
Em paralelo tô tentando mostrar que, apesar de toda imagem de santidade do Reverendo, quem se aproxima dele acaba percebendo a ameaça real que ele emana.
Espero mesmo que você continue a gostar
Grande Norberto!
ResponderExcluirCada vez mais empolgado com essa história.
O nosso glorioso Flagelo põe o Justiceiro da Marvel no chinelo.
A cena do acerto de contas com o Ratazana foi intensa e muito bem executada.
A gente conseguia sentir o clima de terror e suspense, em cada gesto e atitude.
Flagelo se mostra implacável ao extremo com os criminosos, principlamente com os covardes, brigando de igual para igual com o Seijuro do nosso amigo Lanthys.
Quanto ao Salazar, o personagem está cada vez mais ganhando corpo, mostrando várias de suas nuances.
Cada vez mais curundo essa história.
Meus parabéns!