Óbito Codex #02

  


Quando ocorrem encontros e desencontros.

Continuando meu novo título vamos acompanhar a volta de Matheus para casa e os perigos que o cercam, contra os quais ele se preparou durante anos para enfrentar.

Mas será o suficiente?

Sem mais demoras... Boa leitura!

Conexão Dimensional

Óbito Codex #02.

Surpresas.




Em São Paulo, quase meia-noite de uma terça-feira, um parquinho, abandonado e em ruínas, se tornara o palco de uma guerra que finalmente se iniciava.


Não consegui salvar essa pobre coitada... Mas juro que a vingarei. Agora monstro, se prepare para encontrar seu fim.


No instante seguinte o homem de armadura pareceu sumir em pleno ar, deixando para trás apenas uma pequena nuvem de poeira que, antes sequer de se dispersar e sumir da visão de um monstro assassino, a atenção dele foi atraída para algo que soava atrás dele.


Estou aqui desgraçado!


Um novo e profundo corte foi feito lateralmente nas costas da criatura, que cambaleou para frente até ficar caída, apoiada em um dos joelhos, conforme o outro batia com força no chão de cimento da praça.


Antes mesmo dele sequer ter a chance de se defender, um novo ataque acabou por seccionar sua cabeça do corpo e, do mesmo modo que fazia com suas vítimas, ele se desfez em uma silenciosa explosão de luz.


Era como se um pequeno sol tivesse surgido naquele parquinho e desaparecido em seguida, deixando para trás o homem de armadura e uma moradora de rua moribunda.


O homem de armadura caminhou com passos pesarosos na direção da pobre Janaína, sabendo o que era necessário que ele fizesse, mas, ainda assim, lamentando profundamente pela má sorte da jovem.


Quem ainda estivesse acordado àquela hora, entre os vizinhos do parquinho, jamais esqueceriam o arrepio na espinha que sentiram quando seus relógios marcaram meia-noite.


Mas o que é isso?!


Manhã seguinte, diante do Restaurante “Gostinho do Interior”, uma senhora expressava a surpresa que estava estampada em seu rosto, no de seu marido, de seu filho mais velho e de seus netos.


Todos se voltaram para Matheus, que trazia no rosto um sorriso imenso de satisfação.


Ontem eu contratei uma construtora para não apenas arrumar a bagunça que aqueles desgraçados fizeram, mas também para reformar e modernizar o restaurante… E não é que fizeram um ótimo trabalho?


Desgraçado…


Desculpa pequena… - o rapaz então pegou sua sobrinha pequena, de apenas quatro anos de idade, no colo e, enquanto fazia cócegas na barriga dela, tentava reverter o que acabara de fazer. — Isso só gente grande pode falar… Não é pra você repetir tá bom Leninha? Pelo menos não na frente do papai…


O que você sussurrou aí?


Nada, nada…


A pequena riu do modo como seu tio, que conhecera só no dia anterior, lidou com o pai, já armazenando novas informações ao seu já vasto repertório de como conseguir o que quisesse do pai.


Bom dia senhor Almeida. Espero que a fachada do Restaurante esteja do seu agrado.


Está ótimo. — antes que seu pai respondesse ao homem que acabara de sair do restaurante, Matheus se adiantou, cumprimentando-o. — Olha, eu não imaginei que fosse possível, mas, ao menos, por fora está incrível!


Espere só até ver como ficou o interior!


Filho…


Calma pai! Vamos fazer o seguinte, vou levar a criançada prás escolas e, enquanto isso o senhor Sérgio aqui vai mostrando para vocês três as melhorias… Já, já eu volto, daí respondo as suas perguntas, pode ser?


Sem dar chance para que seus pais e irmão falassem qualquer palavra, o jovem se afastou, a sobrinha num dos braços e seu sobrinho logo ao seu lado, enquanto o empreiteiro ia guiando sua família para dentro do restaurante.


E aí guri, tá de boa?


Assim que haviam deixado Helena na creche do bairro, não sem que a moça que a recebeu desse uma boa olhada no tio da menina, medindo-o dos pés à cabeça e lhe estendendo um largo e simpático sorriso, tio e sobrinho seguiam para o colégio Ana Maria Freire.


Hã… Mais ou menos tio… Sei lá… Acho que o Ferdinando vai vir atrás de mim com tudo e…


Já falei. Se ele vier com os amigos e você não conseguir escapar, usa aqueles golpes que te ensinei… São o básico do básico de defesa pessoal, não vai machucar o moleque e, mais importante, vai evitar que você se machuque.


Ainda assim eu… Gente?


Ainda que te achamos Tom! É melhor vocês não irem até a escola!


Do que cê tá falando, Vivian? Tá doida?


Tá nada mano! Eu que achei ela no meio do caminho e vim correndo pra te encontrar. Eu consegui chegar mais cedo e vi o pai do Ferdinando na porta da escola… Ele tá esperando o seu tio!


Ah, não! Tio… É melhor a gente voltar pra casa e…


Tá de zoeira guri? — para surpresa de Thomas, seu tio exibia um sorriso de empolgação. — Agora que precisamos mesmo ir até a sua escola. Isso vai ser muito bom… Bora!


Enquanto isso, longe dali, num prédio localizado a alguns quarteirões da Avenida Paulista, um homem deixava a janela de seu escritório aberta, aproveitando o vento gelado daquela manhã de Julho.


Vestindo um impecável terno branco, Salazar Alfonse de Bianco, o sumo sacerdote e criador da Igreja da Luz Divina, ainda tentava disfarçar o tremor em suas mãos, mantendo-as dentro dos bolsos de sua calça.


Reverendo Bianco… Nossos investigadores voltaram e já fizeram um relatório… Eu…


Não fique aí parado balbuciando Acólito… — o líder religioso não considerava importante saber o nome de todos aqueles que lhe serviam, por isso optou por chamá-los todos pela função exercida na igreja. — Envie as informações para meus arquivos pessoais e se retire. Preciso meditar.


Assim que se viu sozinho, Salazar pegou um tablet e começou a ler as informações trazidas por seus servos, mas em poucos minutos acabou jogando o aparelho contra uma parede próxima.


Não importa o mundo, se quer fazer um serviço bem feito, é necessário fazer por si próprio…


Uma esfera de luz surgiu ao seu redor e, em meio a uma explosão silenciosa, ele desapareceu.


Juro que preferia não fazer isso na frente do seu filho…


Diante do colégio Ana Maria Freire um homem alto, forte e mal-encarado segurava firme a gola da jaqueta de Matheus, enquanto seu sobrinho e os amigos dele ficavam logo atrás, todo com medo do que ia acontecer.


Tu bate no meu filho e acha que eu vou ficar quieto?


Olha, eu entendo e até admiro esse sentimento de proteção. Mas seu filho mentiu pra você…


E agora vai chamar ele de mentiroso?


Não. O seu guri só exagerou na história… Eu cheguei aqui na escola e, apesar de ser quase o dobro do meu sobrinho, ele tava prestes a acertar mais um soco e eu só o contive e empurrei, de leve, para longe… Ah, e avisei que, se ele voltasse a incomodar, ia se arrepender…


Ora seu filhadaputa… Tu tratou meu filho assim e espera mesmo que eu fique de boa?


Não mesmo. Tô dizendo que seria melhor resolvermos isso em outro lugar e não na frente do seu filho, mas esse vai ser meu último aviso… Se você quiser fazer a cagad…


Sem conseguir terminar a frase, Matheus precisou segurar o punho que vinha rápido na direção de seu rosto, mas conseguiu conter facilmente o ataque, deixando seu agressor surpreso.


Péssima escolha cara…


Enquanto várias crianças cercavam os adultos, começando um coro de “briga, briga, briga”, o atacante soltou sua mão e deu alguns passos para trás, nunca antes alguém havia conseguido sequer se esquivar de um soco direto dele, quanto mais contê-lo tão facilmente.


Aquele rapaz diante dele não era normal.


Ô Muralha! Vai precisar de ajuda com o franguinho aí?


Ao ouvir um de seus capangas chamando-o pelo apelido, que ganhara na boca por causa dos seus quase dois metros de altura, José Carvalho de Souza cerrou os dois punhos e, assumindo uma postura típica de lutadores de boxe, se preparou para a luta.


Matheus continuava demonstrando calma e tranquilidade, sem que o outro pudesse perceber um pingo de medo vindo dele.


Esse desgraçado…” Muralha agora sentia os dentes quase trincando, conforme ele parecia travar seu próprio maxilar, como sempre fazia antes de encarar uma briga, algo que não precisava havia anos, desde que subira os degraus na organização chefiada pelo Duque do pó, um dos maiores traficantes da cidade.


Sem dizer mais nada, ele não conseguiria nem se quisesse, o criminoso partiu para o ataque, seu punho direito seguindo reto na direção do rosto de Matheus, que não se moveu até o último instante.


Para surpresa de todos os presentes ele se defendeu, primeiro dando um tapa com as costas da mão esquerda no antebraço do atacante, com força suficiente para que ele se desequilibrasse no meio da corrida, ficando de lado para o rapaz e já esperando algum golpe em seu flanco desprotegido.


Matheus, no entanto, apenas segurou o ombro do criminoso e o empurrou levemente para longe, o que quase o derrubou devido à falta de equilíbrio, mas o Muralha logo se recuperou, partindo outra vez para o ataque.


Com ódio crescente ele lançava socos tal qual uma metralhadora dispara balas, usando os dois punhos em intervalos de segundos entre cada golpe, mas sua surpresa só aumentava.


Usando as mãos abertas e com tapas de leve, que nem deixavam marca nas mãos de seu atacante, Matheus seguia se defendendo com facilidade.


Repentinamente sua feição mudou, como se tivesse lembrado de algo e então, em meio à defesa de um dos socos do Muralha, ele se abaixou e socou com força na boca do estômago do outro.


Os capangas que viam a luta petrificados de medo e surpresa, precisaram amparar seu chefe, que estava quase caindo para trás, enquanto levava as mãos ao local atingido e precisava se esforçar para não colocar para fora o café da manhã daquele dia.


Agora tô sem tempo, mas se quiser a gente volta a se falar depois…


Ele deu as costas para o grupo de criminosos, indo se despedir de Thomas e seus amigos, quando um dos capangas puxou uma faca.


Tio! Cuida…


Matheus fez o agressor cair sem sentidos após um chute giratório perfeito, que o atingiu direto no queixo e o jogou por cima de seu chefe.


Eu falei que tô sem temp. Tom… Entra agora… E você, ô moleque… Se mexer com o meu sobrinho, já sabe né?


Dito isso, Matheus esperou seu sobrinho entrar na escola, estendeu um olhar severo para o Muralha, que se mantinha em pé apoiado em um de seus capangas, que também erguiam o outro colega desmaiado e só então entrou no seu carro e partiu rapidamente.


Longe dali, no que restara de um parquinho, um brilho surgiu, inicialmente como uma esfera de luz, mas logo foi como se um sol brilhasse no local, ofuscando totalmente quem estivesse por perto, conseguindo assim disfarçar a chegada de Salazar Alfonse de Bianco.


Um local onde a imundice humana se prolifera… Perfeito para conseguir, ao menos um pouco de luz para minha causa. Agora vejamos o que aconteceu ao meu Coletor…


Assim que fez seus olhos brilharem, surgiram diante de si os últimos momentos de vida do seu servo monstruoso e então Salazar deu alguns passos para trás, quando percebeu uma imensa massa de energia escura surgindo diante da criatura, enquanto ela sugava a luz de uma jovem mulher desconhecida do reverendo.


Sem poder interferir, afinal era apenas a impressão energética do que havia acontecido no passado, Salazar se pegou respirando apressado e tentando controlar a onda de pânico que ia tomando seu ser, conforme via seu servo ser vencido facilmente.


Não… Não pode ser você…


A massa escura foi assumindo uma forma humana e repentinamente um jovem surgiu diante do sacerdote da igreja da luz, que só então percebera que não estava mais olhando para eventos passados.


Seu antigo inimigo estava ali, de pé, diante dele.


Olá Talloth... Ou devo te chamar de Reverendo Salazar? Vejo que está repetindo os jogos de sempre, não é?


Você


Hoje pode me chamar de Matheus e… Opa!


Com uma velocidade impressionante, o rapaz se desviou de uma rajada de energia que acabou por atingir uma pilha de restos de metal que, um dia, fora um gira gira do parquinho e acabou transformada em uma nuvem de poeira.


Então vai ser assim? Vamos lá então…


O jovem ergueu o punho direito e o relógio que ele trazia no pulso começou a emitir um brilho azul-esverdeado.


Acionar… Óbito Codex!


O ar ao redor de Matheus foi tomado por uma nuvem escura e no instante seguinte, quando ela se dispersou, Salazar viu surgir seu inimigo, que ele acreditava estar morto.


Kahandrack, o Flagelo de Ghunthiade…




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3 Comentários

  1. Simplesmente fantástico, Matheus é o tipo de personagem divertido, sarcástico e debochado, mas quem pensa que isso é o real estado dele o tempo inteiro, se engana e muito, afinal, ele parece estar sempre um passo à frente de tudo e de todos! Quando li o primeiro, e teve a treta na escolha, eu fiquei cogitando, vai dar confusão com o pai desse guri, dito e feito, acabou tomando um pau na frente dos demais kkkk! Quanto aos inimigos que começam a se apresentar, eu curti a ideia do líder religioso, me levou aos Titãs com o Irmão Sangue e também ao game Resident Evil 4 onde o inimigo era também líder religioso, e o fato dele não aceitar nomes e sim chamar todos pelo cargo, demonstra também um nível de controle e de respeito dentro da organização que nos faz pensar nele como alguém realmente cruel... No entanto, se este inimigo é poderoso e cruel, parece que Matheus é mais, pois só de ver a cena do Codex presente, o reverendo se borrou todo, entrou em pânico, ou seja, considerando o reverendo como poderoso, Óbito Codex se mostra muito maior considerando essa visão! Veremos o que os próximos capítulos nos reservam, parabéns por mais esse trabalho meu amigo! \0/

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    1. Valeu demais pela maratona de leitura e comentários amigão!
      Tá sendo divertido escrever um personagem como o Matheus e logo será mostrado o motivo dele parecer sempre estar alguns passos adiante dos inimigos, principalmente do Salazar, personagem que eu tentei reunir todas as péssimas "qualidades" de alguns líderes religiosos que a gente vê por aí.
      Espero que você continue curtindo o que vem por aí.
      Valeu de coração pela força de sempre.

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  2. Concordo com o meu amigo Lanthys em suas pertinetes observações.

    A construção de Matheus, apresentando várias nuances de sua personalidade, ao mesmo que debochada, prestastiva e resoluta é o ponto alto desse seu novo projeto.

    O pai do filho metido a valentão, tentou intimidar Matheus diante de todos e tomou um pau que não vai esquecer tão cedo.

    Mas, a cereja do bolo vai para o confronto que se inicia entre Talloth (o falso Reverendo Salazar) e Kahandrack, o Flagelo de Ghunthiad, tambémconhecido como Matheus.

    Muito bom, amigo!

    Leitura gostosa e fluida!


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