14. Strange New World.

  


Quando o mundo que se conhece... Muda.


O final do capírulo passado terminou com um gancho que, espero eu, deixe o leitor ansioso para ver o que vem por aí.

Começa o run final da Estação Chronos!

Portanto, sem mais... Boa leitura!


14. Strange New World.



Caio despertou assustado, todo suado e jogando o lençol longe, puxando ar como um afogado saindo de águas profundas.


Natalie!


Ele levou as mãos à cabeça, apertando-a com força, devido a uma explosão de dor que o atingiu de repente, tentou ir até o banheiro, mas acabou desabando no chão do quarto, perdendo os sentidos.


Num relógio despertador, presente de uma tia, a hora digital indicava 3:33 da madrugada.


Só quando os primeiros raios do sol tocaram seu corpo dolorido que Caio conseguiu se levantar e caminhar trôpego até o banheiro, onde mal se livrou das roupas e já tratou de tomar uma ducha gelada para despertar de vez.


Acabou nem ligando a televisão, sua mente fervilhava com algo que ele sentia estar esquecendo, algo muito importante, mas, naquele momento algo pior acontecia, ele precisava sair e não achava uma máscara sequer em casa.


Decidiu pegar um pano qualquer, enrolou ao redor da boca e saiu, na pior das hipóteses compraria uma nova na rua, afinal agora era o novo item obrigatório, que tinha para vender em toda parte.

Caio sentiu-se um alienígena quando chegou as ruas de São Paulo, estranhamente apinhadas de gente, o que não deveria acontecer durante a pandemia.


Pior, todos estavam sem máscaras.


Antes que ele pudesse abordar alguém para questionar o motivo de tamanha loucura, seu celular tocou.


Reinaldo? Como assim onde eu tô? O que?


Em minutos ele já estava andando pela faculdade, novamente chamando atenção por onde passava, devido a máscara improvisada que, outra vez, somente ele estava usando.


De repente ele sentiu um puxão no braço, mas, antes de reagir com um soco, uma voz conhecida o impediu.


Cacete cara! Calma que sou eu porra!


Reinaldo! ― eles trocaram um abraço, para Caio parecia que não se viam a uma vida inteira. ― Cara, esse dia tá uma loucura… E por falar em loucura, cadê a tua máscara porra?


Caio… Tu sabe que é meu melhor amigo né? ― Reinaldo continuava a segurar o ombro do outro de forma a acalmá-lo. ― Por isso desculpa, mas… Do que diabos cê ta falando?


O confuso rapaz falou da pandemia do corona vírus, da quarentena, dos milhares de mortos, o motivo pelo qual as máscaras eram obrigatórias e a cada detalhe que falava, ele percebia seu amigo tentando disfarçar as incredulidade e a vontade de zoar tudo aquilo.


Merda… Você não faz ideia do que eu tô falando né? Nem deve tá acreditando… Saco... O que tá acontecendo?


Caio coçou a cabeça, se encostando numa parede, parecia prestes a explodir, quando Reinaldo puxou uma coca, sabe-se lá de onde, perfeita, estupidamente gelada e passou para o amigo.


Meu.. Já sei que é a pressão das provas finais né? Finalmente o Senhor Notas Perfeitas tá sentindo a pressão que nós, meros mortais, temos sempre... Vem, vamos enforcar o dia hoje e sair prá se divertir... Estamos precisando...


E foi o que fizeram, passearam pelo shopping mais próximo, viram um filme qualquer e horrível, só pelo prazer de rir e zoar as cenas absurdas, passaram o dia só comendo fast food e até se prepararam para uma balada que ocorreria ainda naquela noite ali perto.


Caio parecia esquecido do que estava lhe afligindo no começo do dia e na verdade, quanto mais ele tentava, menos conseguia se lembrar dos motivos que o fizeram estranhar como estava o mundo.


Os amigos beberam, experimentaram tudo o que tinha de diferente no cardápio, até mesmo Reinaldo, que geralmente só levava tocos das garotas de quem se aproximava, havia conseguido convencer três moças e sentarem-se com eles e tudo levava a crer que poderiam passar o resto da noite, todos os cinco, no apartamento de uma delas.


A vida não poderia estar melhor.


Ainda assim uma pulga continuava a mordiscar a mente de Caio.


Enquanto dançava com uma das três amigas, ele teve o vislumbre de uma garota ali perto, com cabelos curtos e alaranjados.


Saiu correndo, sem dar nenhuma explicação, sem nem mesmo entender por que estava fazendo aquilo e quando tocou o ombro da moça, um nome voltou à sua mente como um soco bem dado na boca.


Natalie!


Que isso cara? ― quando a garota se virou, deixou o rapaz que segurava seu ombro totalmente boquiaberto. ― Sai fora!


Não era quem ele esperava.


Aquilo acabou com a noite e, apesar da insistência de seu amigo e de uma ainda maior por parte das três garotas, Caio decidiu ir embora, dando a desculpa de que precisava colocar a cabeça em ordem.


Saiu sem olhar para trás, mas dali a pouco tempo ele se lembraria desse momento e teria certeza de que deveria ter se voltado uma última vez e conferir as expressões do grupo que ele estava deixando para trás.


Caio passou alguns dias sem sair de seu apartamento, as dores de cabeça, decorrentes de quando suas memórias acabavam se chocando, estavam piores, tirando assim seu ânimo até para sair da cama.


Tudo piorou ainda mais quando seus pais resolveram fazer uma visita surpresa.


O Reinaldo nos avisou que você não estava bem… ― Dona Ordalia foi entrando sem fazer cerimônia, nos braços várias sacolas de supermercado, cheias de comida. ― Mas você parece ainda pior filho…


Já sabendo que era impossível segurar o "furacão mamãe", Caio apenas deu passagem para ela, que entrou, deixou as sacolas na mesa da cozinha e já se colocou a arrumar o apartamento, antes mesmo do senhor Roberto, pai do rapaz, chegar a entrar.


E lá vai ela… ― ele parou diante de Caio, as mãos na cintura já larga e um sorriso por debaixo de um farto bigode branco. ― Como você está filho?


Caminhando pai… ― Assim queo senhor Roberto entrou, Caio ia fechando a porta, imaginando o que poderia falar para tranquilizar os dois. ― Eu…


Ei! Vai fechar na minha cara mesmo?


Mas… Mas… Alberto?!


Caio ficou paralisado, enquanto seu irmão mais novo empurrava a porta e também entrava.


E desde quanto tu me chama de Alberto? – ele carregava outras sacolas de comida, enquanto olhava bem pra cara de espanto de seu irmão. – Ô mãe! O Caio quebrou mesmo!


Beto! Deixa seu irmão quieto!


Antes de qualquer um dos presentes sequer esboçar uma reação, Caio saiu correndo sem dar nenhuma explicação.


Só a alguns quarteirões ele chegou a uma praça, sentou-se e, enquanto recuperava o fôlego, abaixou a cabeça e agarrou-a com as mãos, tentando organizar seus pensamentos.


Ele permaneceu daquele jeito por um longo tempo, sem perceber a passagem das horas, até que sentiu uma mão tocar seu ombro.


Calma cara! ― Caio se sobressaltou, levantando do banco num pulo, mas voltando a respirar quando reconheceu seu melhor amigo. ― Tua mãe me ligou e falou que tu surtou e saiu correndo de casa feito doido… Levei um tempão pra te achar…


E-eu… Cara… Tá… Tá tudo errado…Eu…


Mano… Respira tá? – Reinaldo segurou de leve no braço do amigo, mas com firmeza. – Vamos voltar para sua casa e…


Não posso voltar lá! Você não entende, porra? Ele deve estar lá ainda…


Ele quem? Seu pai? Não me diga que cê fez algo que ele não pode descobrir e…


O Beto porra! O meu irmão está lá!


Ué… E qual a porra do problema? Teus pais tão velhos… Você queria que eles viessem sozinhos e…


Meu irmão tá morto cara!


Caio segurava com força nos ombros de seu amigo, os olhos arregalados, tinha uma expressão louca no rosto.


Ele morreu quando eu era moleque, e agora apareceu lá no meu apartamento… Merda... O que está acontecendo?


É… ― Reinaldou deu alguns passos para longe do amigo. ― Você... Não podia só... Ter aceitado... Tudo... Não é?


A mudança na voz do amigo fez com que o desesperado Caio se voltasse a tempo de desviar do ataque que, caso o atingisse, teria decepado sua cabeça.


Ele se arrastou pelo chão da praça, enquanto via Reinaldo terminando de se transformar em um Secular, o braço em forma de lança enterrado no tronco de uma árvore próxima, que se partiu ao meio conforme ele a soltava.


Ah, merda! Não foi tudo um sonho mesmo!


Sem respostas, em completo e assustador silêncio, o monstro ergueu novamente sua arma e teria acertado Caio, se não fosse atingido no flanco direito, acabando por ser jogado longe, para fora da praça, só parando quando se enterrou na lateral de um prédio próximo.


Uma pessoa, montada numa moto e acelerando, estendeu a mão na direção de Caio.


Vem comigo se quiser viver!


E ele queria.



Continua.


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