Nem sempre as crianças são tão inocentes.
Boa Sexta!
Guto/Tugo continua aprontando das suas, mas agora tem todo um grupo de adultos para cuidar dele, mas será o suficiente?
É o que vamos descobrir.
Portanto... Sem mais delongas...
Boa leitura!
9. Cortando laços.
As ruas de São Paulo estavam mergulhada no caos, com milhares de zumbis espalhados, atacando qualquer um que entrasse em seu caminho, mordendo, retalhando, destroçando.
Em meio a essa balbúrdia, quase ninguém repararia num pequeno menino de dez anos, carregando um bebê no colo, aparentemente andando a esmo pelas calçadas próximas a um grande shopping.
O menino não demonstrava medo, pelo contrário, seguia com cuidado, conseguindo se manter quase invisível.
Quase.
— Entra aqui!
Um carro freou a poucos centímetros de onde eles estavam, a porta do passageiro abriu e uma mulher colocou um dos pés para fora, estendendo a mão para as crianças.
— Eles estão chegando! — um homem estava atrás do volante e gritava para apressar sua companheira. — Anda logo!
Com uma velocidade que nunca imaginou ter, advinda do mais puro desespero, Alícia saiu do veículo, mesmo com Paulo voltando a acelerar, pegou as crianças no colo, saltou para o banco traseiro e fechou a porca segundos antes do primeiro zumbi alcançá-los.
— Essa foi por pouco! Não faz mais essas doideiras tá?
— Não podia deixar eles lá… — a moça se ajeitava, conforme o carro partia a toda velocidade. — São só crianças…
O motorista ficou emburrado, mas não podia continuar a discussão, uma vez que sua atenção precisava ser focada nas ruas à sua frente, tentando dirigir em meio ao caos em que as ruas de São Paulo estavam mergulhadas.
— Nem posso começar a imaginar pelo que vocês passaram… — com muito cuidado, ela pegava o bebê e começava a niná-lo. — Como é seu nome mocinho?
— Guto…
Sem querer estender aquela conversa, já tendo aprendido que certos adultos não costumam forçar crianças a falar o que não querem, o garoto deu as costas para Alícia, se ajeitando no banco como se precisasse dormir.
Ele fechou os olhos e lembrou de como chegou àquela situação.
XXX
Guto havia dormido um sono agitado de poucas horas e, no meio da madrugada, ele saiu do local da loja onde os adultos haviam colocado as crianças, todas sob os cuidados de Renata.
Aproveitando seu tamanho e uma habilidade de se mover em silêncio, aprendida com seu amigo imaginário Tugo, desde o primeiro passarinho que ambos pegaram, pouco tempo depois de se conhecerem, o menino se esgueirou para fora do “canto seguro” como os adultos haviam falado.
Desse modo ele foi conhecendo melhor cada um daqueles que haviam se nomeado seus protetores.
Estava escuro, mas, ao passar pela área da loja onde haviam camas, era possível escutar os sons que ele já conhecera, quando Tugo o forçara a se esgueirar pela casa a noite, quando o amigo decidia brincar com os bichinhos que o garoto ganhava dos pais.
Numa dessas incursões Tugo o forçou a espionar os pais.
Dessa forma ele percebeu que, tirando Renata, os demais adultos estavam nus, usando as várias camas do lugar para fazer, Tugo já o havia ensinado o que era, sexo.
Se lembrando do mesmo nojo que sentira ao descobrir o que seus pais faziam quando ele não estava perto, Guto quase implorou para não fazer o que seu amigo mandava, mas sabia que seria inútil e logo arranjou um lugar de onde podia ver e ouvir tudo.
“Sim… Eu sei… Huma hora eles cansam e vão dormir… Mas… Precisamos mesmo fazer isso? Quer dizer… A Renata foi tão boazinha… Tá bom… Tá bom… A gente faz… Tudo pra livrar a mamãe e o papai de serem monstros...”
E então ele esperou.
Por horas.
Guto até cochilou outra vez, mas acordou quando seu melhor amigo praticamente gritou no seu ouvido, informando que, finalmente, os adultos haviam pegado no sono.
E assim começou.
César, o líder, precisava ser o primeiro, por isso Guto se esgueirou até a cabeceira da cama e seguindo todas as ordens de Tugo, sem hesitar, pegou na mochila uma das suas facas mais afiadas e pontudas.
Com uma estocava rápida, a lâmina se enterrou na têmpora esquerda do homem, que morreu rápido, sem nem ter algum estertor ou qualquer outro movimento, desse modo, não acordando Carla, que continuava ressonando ao lado dele.
Não por muito tempo, pois Guto repetiu seu ataque furtivo e obteve sucesso uma segunda vez, mas, antes de ficar animado demais e tentar novamente, Tugo lhe explicou que tudo não passara de sorte e não podiam contar com ela toda a vez.
Dois adultos já eram, no entanto.
Ainda faltavam cinco.
O menino continuava a se esgueirar por entre as camas, da faca em sua mão escorria sangue, deixando um rastro conforme ele ia tentando escolher quem deveria ser o próximo.
Ele primeiro conferiu Sandro, que parecia desmaiado, tamanha era a profundidade do seu sono, por isso ele foi ver David, que já não estava deitado.
Tugo se agitou na mente do seu amigo, um dos adultos despertando era um fator aleatório e perigoso demais, por isso ele se colocou, da forma mais silenciosa possível, a caçar o sujeito.
Após caminhar por várias partes da loja, o som de uma descarga sendo dada chamou a atenção do pequeno predador e logo ele se postou perto da porta que dava acesso aos banheiros.
David saiu ajeitando as calças, na boca um cigarro, que Guto não fazia ideia de se tratar, na verdade, de um baseado, mas o medo de ser pego foi mais forte que as instruções dadas por Tugo e o menino então se adiantou, tentando acertar a barriga do homem com o cutelo.
A diferença de tamanho e força eram gritantes e de forma extremamente fácil, David se defendeu, jogando o menino contra uma parede.
— Porra… Moleque filhadaputa… Saia que tinha alguma coisa errada contigo… Vou falar pra todo mundo, mas antes vou me divertir…
Ele foi se aproximando, a brasa do baseado brilhando em vermelho, seguindo direto para seu olho esquerdo.
“Não!” Tugo gritou na mente de Guto.
O garoto apagou em seguida.
Quando recuperou a consciência, o menino estava com o pequeno Gabriel nos braços, a seus pés os zumbis que seus pais haviam se transformado, ambos com perfurações nos crânios, totalmente imóveis e, aparentemente mortos pela segunda vez.
“Conseguimos Guto! Mamãe e Papai tão salvo!”
A loja estava um caos, os adultos do grupo tentavam se desvencilhar de dezenas de zumbis, mas todos já haviam sido mordidos, sendo apenas uma questão de tempo para, ou serem totalmente devorados, ou se tornarem monstros.
Não havia sinal nem de Thiago ou Patrícia.
— Você… Por que?
Ele olhou para o lado e viu Renata, metade do rosto estava desaparecido por detrás de uma confusão de carne, ossos e pele repuxada.
A agonia que ela sentia era palpável, conforme tentava se arrastar na direção do menino.
— Cui-Cuida do Gabriel…
Em seguida ela gritou, conforme era puxada para trás, por dois zumbis que haviam agarrado suas pernas.
Sem pensar duas vezes, como Guto não ouvia mais a voz de Tugo, agarrou o bebê e saiu correndo da loja, conseguiu evitar os grupos de zumbis que andavam a esmo pelos corredores do shopping e, logo que passou pelo estacionamento, saiu para as ruas.
XXX
— Tadinhos… Não consigo imaginar os horrores que esses dois passaram...
Alícia embalava o pequeno Gabriel, conforme falava com Paulo, que continuava tentando achar uma saída, dirigindo pelas agora ainda mais caóticas ruas de São Paulo.
— Ainda acho que foi arriscado demais parar o carro… Não vamos mais fazer isso tá? Precisamos focar em sobreviver…
Ainda de olhos fechados, Guto colocou as mãos sobre a boca, disfarçando um sorriso.
“Isso mesmo garoto… Me segue que eu prometo manter você e nosso irmãozinho em segurança… Confia no Tugo… Que o Tugo vai cuidar de vocês...”
4 Comentários
Sério cara, o Guto tá assustando mais que os zumbis kkkkkk! Bom, se entendi certo, o David estuprou o guri, cara, sem dúvida o ser humano é o pior dos monstros, não tem como negar, mas ae tem a Renata pra balancear a coisa e mostrar o esforço em proteger mesmo na hora da morte... A situação é bem tensa, e o casal do carro não tem ideia de com quem se meteu, tá loco, os zumbis são nada perto do Guto e do Tugo! Parabéns cara, tava com saudade da saga já, mandou muito bem!
ResponderExcluirValeu mesmo pela leitura e comentário amigão!
ExcluirRealmente eu queria pegar justamente uma criança, que normalmente é mostrado apenas como algo a ser protegido, se tornando uma ameaça... E pelo visto acertei a mão.
Valeu de montão!
Guto/Tugo é mil vezes pior que os zumbis...
ResponderExcluirA perversidade beirando o sadismo...
Pior que os zumbis (que por si só, são assustadores) só mesmo uma criança diabólica.
To assustado!
Episódio impactante
Valeu mesmo pela leitura e comentário!
Excluirfico feliz por você estar curtindo.