Quando uma terrível realidade se descortina.
E começo a revelar um pouco do passado/futuro da Natalie.
Prepare-se para um ou outra surpresa.
Portanto, sem mais... Boa leitura!
10. Fim dos tempos.
Odla Zacip seguia a pequena condutora até seu trem, ele gesticulava os braços de forma frenética, enquanto seu cachorrinho corria por entre as pernas da menina, tentando morder-lhe os sapatos.
― Mas eu juro pequena Malêchka… ― ele continuava a chamar a Condutora de bebê, que fingia estar irritada com o apelido, mas sem conseguir esconder o quanto o gigante russo a divertia. ― Eu não sabia que o negócio do banheiro deles era… Bem… Você sabe…
― Não sei não Dyadya… ― Aproveitando a oportunidade, a pequena Condutora pegou seu “titio” pelo braço, um sorriso maroto no rosto, acompanhando-o até seu trem. ― Me conta o que eles estavam fazendo no Banheiro… As outras condutoras nunca me contam isso… Hihihi…
Enquanto um constrangido gigante russo ia embora, seus colegas Guardiões aproveitavam o silêncio para conversar sossegados, de mãos dadas, aliviados por terem sobrevivido a mais uma Incursão.
― Qualquer dia poderíamos perguntar se é possível pegarmos o mesmo trem… ― Caio sentia a pele macia da companheira com as pontas dos dedos. ― Eu adoraria termos um encontro normal…
Natalie deu um sorriso triste, concordando com o rapaz pois, em seu íntimo, tudo o que ela mais queria era realmente poder sair com ele, mas sabia que era impossível, não apenas por conta de precisar pedir algo assim para as Condutoras, mas, principalmente, por causa de como era sua vida.
― Caio… O seu trem chegou…
Cristal, como o rapaz chamava a Condutora adolescente, não conseguia esconder certo esgotamento devido à ação recente e, após uma troca de olhares significativos, Caio se despediu de Natalie e começou a se afastar.
Antes dele entrar no trem, no entanto, ele voltou correndo, abraçou a garota pela cintura e então trocaram um longo e apaixonado beijo.
― Até mais Mademoiselle D’acier…
Antes de qualquer resposta ele voltou até seu trem, se preparando para conversar com sua Condutora, sobre os eventos mais recentes daquela guerra insana contra os Seculares.
O gosto do beijo acompanhou Natalie, conforme foi sua vez de deixar a Estação Chronos, sentando-se no banco de sempre, ela sabia que não poderia sentar em nenhum outro e assim que o Trem Cronal foi substituido por um da época da Guardiã, o motivo se tornou evidente.
Apenas um banco estava inteiro dentro de um vagão cujas paredes, teto e demais objetos estavam completamente destruídos, lixo espalhado pelo chão, marcas de ferrugem corroendo metal.
Em poucos minutos o trem parou numa estação que estava num estado ainda pior, parte das paredes havia desabado, pelo chão restos imundos de excremento, humano e animal, ainda mais lixo se acumulando nos cantos das paredes, em algumas pilhas de entulho era possível identificar crânios humanos.
Desolação era o principal sentimento que passava pela alma de Natalie, conforme ela seguia até as escadas rolantes, que já não funcionavam desde antes de seu nascimento, logo seguindo para fora do que, um dia fora a bela estação Bastille.
Agora eram só ruinas.
O ano de 2052 era um verdadeiro inferno.
― Joli Petit? Onde você está?
Natalie modulava a voz para o tom mais baixo possível, ainda que precisasse se fazer ouvir, pois ela sabia como seria demorado se sua procura fosse feita em completo silêncio.
Para seu alívio, uma pequena luz chamou a atenção para o segundo andar de um prédio semidestruído a poucas quadras de distância e então, após pegar o rifle, que havia escondido numa pilha de destroços próxima da entrada da estação, ela se colocou a correr, tomando o cuidado de se esconder bem cada vez que um facho de luz descia dos céus.
Ela vira em primeira mão o que acontecia quando alguém era pego na rua, fora do toque de recolher estipulado pelos novos senhores do mundo, várias vezes, quando alguém saía em busca de algo, para nunca mais voltar.
Natalie limpou uma insistente lágrima que sempre aparecia em meio às lembranças dolorosas do passado, mas logo se colocou a correr novamente, conseguindo alcançar seu objetivo, passando rápido pelo hall do prédio e subindo as escadas de três em três degraus e, poucos instantes após ver a luz pela janela, a garota já estava diante da porta daquele apartamento.
― Joli Petit? ― de dentro veio, para alívio eterno de Natalie, uma voz conhecida, pedindo a “senha” combinada. ― Merde de le Merde…
Imediatamente o som de trincos sendo abertos em sequencia dominou o corredor escuro para, assim que a porta se abriu, uma linda garotinha pulasse no colo de sua irmã mais velha, num abraço cheio de saudade.
Era aquilo que impulsionava Natalie a atender o chamado das Condutoras, cada vez que a mais velha das três aparecia em algum ponto onde elas estivessem se escondendo, era o principal motivo de ter aceitado o convite para se tornar uma Guardiã Cronal.
Isso e, claro, a possibilidade oferecida para que ela pudesse mudar algo em seu passado, que ela já tinha decidido o que seria.
― Eu não falei para me esperar perto da entrada sua doidinha?
― Você estava demorando… ― a esperta menina de dez anos, que soava como alguém bem mais velho, não escondia no rosto o misto de alegria por ter a irmã de volta e excitação para mostrar o que ela havia descoberto. ― Olha só esse lugar! Não vi sinais de ter alguém aqui, ou seja, tá totalmente abandonado! Podemos fixar acampamento, ao menos por uns dias… Tem até Cama! Se a gente der uma arrumada…
― Catherine... Já disse que não podemos nos apegar a nenhum lugar, nem a ninguém... Estamos por nossa conta, ma petite soer...
― E quanto ao que você está fazendo, toda vez que entra no metrô? Você mesma disse que é algo que pode nos tirar dessa vida de vez não é?
― Sim, mas ainda não estou perto de alcançar o objetivo... Na verdade, não sei nem se o que estou fazendo vai mesmo fazer alguma diferença, seja na nossa vida ou no mundo...
Ao perceber o tom triste e desanimado da irmã, Catherine correu até a cozinha do apartamento, voltando com um pote e duas colheres.
― Eles tinham creme de amendoim... E nem tá muito vencido! ― com um grande sorriso a menina sentou num empoeirado sofá, fazendo nuvenzinhas de sujeira subirem ao seu redor, e assim que sua irmã mais velha se sentou, ela lhe estendeu uma das colheres. ― Eu ia deixar para depois do jantar... Mas acho que você está precisando mais...
Natalie deu um sorriso triste, ao lembrar de toda a dor e dos horrores que as duas passaram desde o fim do mundo, a pouco mais de cinco meses atrás.
Quando elas perderam seus pais.
Continua.
2 Comentários
Aqui temos um dos melhores capítulos dessa incrível saga, mostrando o tempo futuro de Nathalie e o quanto sua história é dramática e triste.
ResponderExcluirAs dores e traumas molduram o caráter da guerreira francesa, tornando-a resilinete e forte!
´
Parabéns, amigo!
Obrigado pela leitura e comentário.
Excluirfeliz por você ter gostado.