Terra Zenith - Resgate, a série #3

 

Quando uma aliada está presente.

E seguimos com as histórias do Resgate que nesse capítulo estará às voltas com uma nova ameaça do Expurgo, mas aqui também surge uma aliada... Especial.

Portanto, sem mais delongas... Boa leitura!

Terra Zenith.

Resgate #3.

Rápida como um raio.

“Ele é apenas o primeiro… Herói.”

A imagem do vilão, ainda desconhecido por ele, se aproximando para transformar o jovem Július num monstro, fez com que Jonas se erguesse sobressaltado da cama.

Suando e arfando, ele não conseguiu disfarçar o susto, quando uma mão tocou seu ombro.

— Pesadelo?

Em meio aos caros lençóis da imensa cama queen size, uma linda mulata ficava sentada ao lado dele.

— Sim Vanda… pelo visto a limpeza mental da Sara não apagou tudo o que senti quando aquele desgraçado me atacou.

— O cara precisa ser foda pra te deixar assim… O senhor “tô preparado pra tudo”…

Ele sorriu um sorriso cansado e abatido, mas o bom humor de sua companheira sempre era capaz de levantar seu astral.

— Engraçadinha… — tirando o lençol para o lado, Jonas ia se levantando. — De qualquer modo, precisamos sair para a patrulha e…

— Ou… — a mulata agora fazia a mão que ainda estava no ombro dele, ir descendo de leve até as costas, fazendo-o se arrepiar de leve. — Podemos aproveitar mais um pouco desse apartamento do Altair…

— Até arrumarmos tudo para sair nós…

A frase foi interrompida quando Vanda se ergueu de supetão, indo até o celular, que estava numa cômoda próxima e abrindo uma playlist da banda Within Temptation.

A música Faster começou a ecoar pelo quarto e então a bela mulata, primeiro fechou os olhos e abaixou a cabeça, movendo-a no ritmo da introdução da música e, quando finalmente a voz de Sharon den Adel preencheu o ambiente, ela empertigou o corpo e sua visão já estava além da humana, construindo toda uma trilha para seguir e realizar da maneira mais perfeita o que ela queria que fosse feito.

Só então uma verdadeira ventania tomou conta do apartamento, deixando-o exatamente igual a como estava antes da chegada do casal e os ventos só pararam quando a moça ressurgiu diante de Jonas, com as mãos na cintura, sem ligar para o fato de estar nua.

— Tudo arrumado… Exceto, é claro… A cama…

Com um sorriso no rosto e deixando de lado toda e qualquer preocupação com a nova ameaça que se avizinhava, Jonas se levantou, ele também estava despido, tomou-a nos braços e após um longo beijo, ambos voltaram para a cama.

A patrulha atrasaria mais algumas horas.

— Carteiro!

Seu Jurandir entregava as cartas naquela rua a mais de oito anos, ficando na rua até o horário que fosse, para cumprir sua cota, recusando-se a dar entrada na aposentadoria, mesmo com uma dor nas costas a lhe afligir cada vez mais, ele dizia preferir morrer do que parar de trabalhar.

Mal sabia que, naquele dia, seus desejos iriam se tornar verdade.

Não havia como saber, mesmo ele estranhando o quase sobrenatural silêncio ao seu redor, mas ele acabara de chegar à Rua do Tormento, indo direto para a casa que havia sido ocupada pelo vilão conhecido como Expurgo.

— Dona Graça! Seu Oswaldo! Tem alguém em casa?

— Agora tem!

Atrás do carteiro surgia uma pequena criatura, aparentemente feita de uma massa escura e amorfa, que enterrou suas afiadas garras nos ombros do pobre homem, destruindo suas omoplatas no processo, enquanto a porta se abria, deixando sair um cheiro de podridão.

A última visão que seu Jurandir teve foi de uma mão enluvada se aproximando se seu rosto, depois houve uma explosão de dor, quando ele sentiu boa parte dos ossos de sua face sendo esmagados.

— Vai servir…

Foi a última frase que ele ouviu, antes de finalmente sucumbir à inconsciência.

Sem que mais ninguém pudesse ouvir, uma sinistra gargalhada ecoou pelos ares.

— Amanhã, depois da escola nós vamos no Aquário tá?

Tendo perdido completamente a noção das horas, com a noite se iniciando na cidade de São Paulo, Jonas pedia desculpas por não ter ido jantar com seus filhos, prometendo que o dia seguinte seria só para a família.

— Com certeza os ursos polares estarão acordados… Bom… Pelo menos eu espero que sim… Isso… Isso… Obedeçam a Amanda direitinho e vão logo pra cama… Vejo vocês amanhã cedinho.

Depois de uma rápida conversa entre ele e a jovem que cuidava de seus filhos, Jonas desligou o celular.

— Desculpe pela demora… — Vanda se aproximava, já envergando o uniforme da heroína Trilha. — Tava tão bom...

— Imagina meu anjo… Quem vê pensa que você me amarrou na cama…

— Bom… Se você quiser…

Após mais um beijo, ambos ficaram abraçados, enquanto Jonas, assim que fez surgir seu capacete e acionar seus poderes, flutuou com sua amante até o topo do edifício, atravessando o teto da cobertura.

Uma das várias propriedades de Altair Salvador.

— Então… Até a próxima, meu lindo…

Ela levou uma mão até os fones do capacete e conforme uma música agitada começava a tocar, seus poderes foram acionados, os olhos começaram a brilhar e ela enxergou as melhores possibilidades para o que ia fazer em seguida.

Só então ela saltou do prédio, descendo pela lateral esquerda, usando sua super velocidade, para chegar correndo até as ruas, por onde logo sumiu, deixando para trás um cansado, porém feliz, herói que, a exemplo dela, também acionou seus poderes e saltou para a noite paulistana, iniciando finalmente sua patrulha.

Pouco mais de uma hora havia se passado e tudo parecia bem, com exceção de alguns pedestres, distraídos ao ficar com os olhos presos em seus celulares, que precisaram ser salvos de atropelamentos e uma jovem grávida, cujo parto precisou ser feito dentro de uma lanchonete, Resgate estava satisfeito com tamanha paz.

Ele até mesmo acreditou que poderia encerrar mais cedo e, com sorte, chegar em casa a tempo de colocar seus filhos para dormir.

Pura ilusão.

Quando ele estava começando a seguir na direção de seu apartamento, um aviso urgente de contato, vindo através de seu sistema pessoal de comunicação, acendeu dentro de seu capacete.

— Oi minha linda… Esquecemos algo no apê ou…

— Segue meu sinal e vem pra cá! Já!

Não foi preciso dizer mais nada e, em instantes, Resgate alcançava o local onde sua companheira estava, próximo do terminal rodoviário do Tietê, onde as ruas estavam mergulhadas no mais completo caos.

Carros estavam destruídos, muitos pareciam ter sido arremessados contra as construções próximas, com muitas lojas tendo suas fachadas em chamas, bem como algumas residências, de onde moradores tentavam fugir levando o que podiam de suas casas.

— Que merda tá acontecendo aqui?

— Cuidado… Tem uma criatura por aqui que pode ficar invisível… Ele só aparece quando vai atacar e… Cuidado!

— Entrega especial!

O mundo pareceu desacelerar, quando a velocista conhecida como Trilha, usou seus poderes para segurar a mão de seu companheiro e retirá-lo do caminho de um carro, que acabara de ser lançado contra os dois.

Quando tudo voltou ao normal para ela, conforme o carro ia deixando uma marca profunda na rua, até atingir um poste, os dois heróis conseguiram ter um breve vislumbre do monstro que o atacara.

Era algo grande, por volta de três metros de altura e uma musculatura absurda de tão agigantada, mas o que chamou a atenção de Resgate foi que ele já havia visto aquele tipo estranho de pele escura e que parecia se mover por conta própria.

O monstro era muito parecido com o Rústico.

— Pelo visto essa coisa é obra do tal encapuzado… É melhor tomarmos muito cuidado… Você já o atingiu?

— Tava meio ocupada tirando os inocentes da área… O que acha de batermos nele juntos?

— É uma ótima ideia… Já espalhei a minha névoa e quem ainda estiver aqui perto já não vai se machucar… E, claro, o Altair não reclamaria se a gente conseguisse diminuir os danos colaterais na rua…

Com um sorriso sendo escondido por sua máscara, mas que seu companheiro sabia que estaria lá, iluminando o belo rosto de Vanda, o corpo da heroína sofreu uma distorção e, no segundo seguinte, ela já não estava mais ao lado do Resgate.

Trilha já estava correndo.

Primeiro Resgate flutuou a alguns centímetros do chão, seu corpo já estava transparente e envolvido por sua névoa e, assim que se passaram exatos dez segundos, ele olhou por cima do ombro da criatura, vendo que algo estava criando um verdadeiro túnel de vento, erguendo uma nuvem de poeira, lixo e fazendo os alarmes dos carros estacionados dispararem.

Trilha estava chegando.

Com sua névoa espalhada pelo chão do local de combate, o herói acionou uma distorção da alma, o que forçou o monstro a se revelar, urrando de dor e se tornando um alvo fácil.

Só então Resgate finalmente avançou.

Seu punho desenhou o soco com precisão, seguindo direto para a cabeça do monstro, conforme sua companheira fazia o mesmo, já ela mirando bem no meio das costas.

Ao ser atingido, ele caiu de joelhos e o imenso corpo, em meio a violento espasmos, começou a destruir boa parte da rua, bem como todo e qualquer veículo que estivesse ao seu alcance.

Sem outra escolha, aquela confusão precisava ser encerrada imediatamente, Resgate mergulhou as duas mãos no tórax da criaturae acionou novamente a Distorção da Alma.

O monstro, agora ferido e sem mais forças, mal conseguiu soltar um tipo de ganido triste, parecendo com o de um cachorro filhote, antes de cair para o lado, finalmente interrompendo sua onda de destruição.

— E-entrega…

O monstro caído estendia uma das mãos na direção do herói que o derrubara.

— Não faz isso Jo… Resgate… Você ficou mal pra cacete antes e… E olha o tamanho desse bicho…

— Não posso ignorar… No outro caso era um moleque cheio de raiva e mágoa que foi transformado num monstro, mas seu espírito só se acalmou depois que eu o ajudei e… Não viramos heróis exatamente pra isso?

Conforme falava, Resgate foi se abaixando, ficando apoiado sobre um de seus joelhos, enquanto segurava a imensa manzorra que lhe estendida.

O fluxo de memórias do carteiro Jurandir da Silva o atingiu com um soco dado bem entre seus olhos, uma vida dedicada ao trabalho e um fim doloroso nas mãos de um monstro.

“Mais uma vitória… Herói…” outra vez a mente do herói ardia com imagens e uma mensagem enviada pelo novo inimigo “Claro que, até agora foi fácil… Uma simples amostra… Em breve, muito em breve, acabarei com você e com esse mundo… Por isso… Prepare-se para o… Expurgo…”

E então Resgate desmaiou.

Dias depois, assim que deixou seus filhos na escola, Jonas se dirigiu o mais rápido que pode até a sede da Boa Ventura S/A.

— Nada ainda Altair?

— Infelizmente não Jonas… Estou usando todos os meus recursos para fazer a mais minuciosa busca que já fiz… Incluindo alguns satélites que estão escaneando o país a procura de alguma imagem que seja minimamente semelhante à do tal Expurgo…

— Bom… Pode ser por causa dos dois ataques mentais, mas eu tô realmente com a impressão de que estamos diante de uma ameça das piores… E achou algo sobre o senhor Jurandir?

— Nada… Segundo os Correios ele saiu como sempre, mas não voltou e, acredito ter sido obra do nosso “amigo”, não existe mais nenhum sinal de registro sobre a rota que ele deveria ter feito no dia em que sumiu…

— O desgraçado é bom… Temos que admitir…

— Mas somos melhores… E ele vai descobrir da pior maneira.

Longe dali, numa área afastada do centro, uma jovem de traços orientais se encontrava em profunda concentração, os punhos fechados, tentando manter a calma e o controle, conforme permanecia dentro de um círculo feito de botijões de gás.

Ela respirou fundo algumas vezes e então apertou um botão que acionou pequenas chamas nos bicos de cada botijão.

Era agora ou nunca.

Ela estendeu as mãos, de palmas abertas, dos lados do corpo e, fechando os olhos, com uma oração na mente, acionou seu poder zenith.

No instante seguinte, jatos iguais aos de extintores de incêndio foram disparados na direção das chamas, com ela girando ao redor de si mesma, mirando em cada um dos botijões, apagando todas em segundos.

— É isso aí! Estou pronta! Me aguarde… Resgate.

Continua.

Galeria de imagens.

Trilha.

Monstro sem nome.