Quando outro mundo é apresentado.
Matheus reuniu sua família para contar parte de sua origem.
Os inimigos darão algum momento de paz?
É hora de descobrir.
Portanto, sem mais delongas... Boa leitura!
Anteriormente em Óbito Codex…
Matheus é um jovem que, ao saber das dificuldades pelas quais sua família estava passando, volta para o Brasil, depois de passar cinco anos viajando pelo mundo, numa jornada para, segundo ele, se preparar para alcançar seus objetivos.
O principal deles?
Enfrentar e vencer o Reverendo Salazar, líder máximo da Igreja da Luz Eterna, antes que o pior aconteça.
Matheus realizou sua vingança de forma brutal, garantindo que os traficantes responsáveis pelo ataque à escola de seu sobrinho nunca mais ameacem ninguém.
Após um momento tranquilo onde a professora se seu sobrinho ocupa um lugar especial no coração de Matheus, chega a hora de enfrentar a primeira Acólita do Reverendo Salazar, que termina sendo vencida.
É chegado o momento de Matheus contar sua origem para seus entes queridos.
Conexão Dimensional
Óbito Codex #08.
Ghunthiade.
“Peço que ouçam a história que vou contar… A história de um mundo conhecido como Ghunthiade, de como toda a realidade desse mundo foi destruída e dos poucos sobreviventes, entre eles, Kahandrack, o Flagelo…”
Conforme o jovem Matheus ia falando, sua família e amigos conseguiam imaginar perfeitamente como era o mundo de onde ele veio, como se suas palavras fossem capazes de transportá-los para lá.
O planeta Ghunthiade era parecido com a Terra em seu período medieval, mas repleto de magia e criaturas fantásticas, como elfos, dragões e toda sorte de seres místicos.
Kahandrack nasceu em uma vila afastada, de um reino comandado por um lorde corrupto, que costumava oferecer crianças para um deus maligno em troca de vida eterna.
Seus pais tentaram escondê-lo, mas quando o pequeno garoto, no alto de seus oito anos, foi descoberto e levado para o sacrifício, o rei corrupto fez questão de aprisionar o casal e forçá-los a ver seu rebento sendo destroçado em nome do deus maligno.
Em nenhum momento Kahandrack demonstrou medo ou sequer tentou se livrar dos algozes que o amarraram a uma mesa de pedra, nem mesmo uma lágrima desceu por sua face, quando o próprio rei ergueu sua adaga cerimonial e a desceu com violência sobre o coração do menino.
Centenas de servos entoavam cânticos profanos, mas assim que o último suspiro deixou os lábios do garoto, um silêncio sobrenatural se espalhou pelo salão dos sacrifícios, ao mesmo tempo em que um tipo de campo de força, de energia sombria, se ergueu ao redor dos pais do menino.
Os dois estavam dentro de um lugar totalmente às escuras, podendo apenas ouvir os gritos de dor, as súplicas desesperadas por clemência e, após um tempo que pareceu uma eternidade, o campo se desfez e diante deles estava o pequeno Kahandrack, sem nenhum arranhão, dando as mãos para eles e pedindo para ir embora para casa.
O casal fez o que seu filho pedira, mas a cena dantesca do que restara dos cultistas e do rei corrupto os perseguiria por muito tempo, na forma de terríveis pesadelos.
Pelos anos seguintes houve incidentes isolados, mas nenhum digno de nota e Kahandrack crescia, tanto em tamanho quanto na mente afiada, bem como na aptidão para uma das mais mal vistas magias daquele mundo.
A necromancia.
Primeiro o garoto foi flagrado, aparentemente falando sozinho, mas logo ele revelou a capacidade de se comunicar com os mortos, ajudando aqueles que haviam tido uma morte violenta e injusta a encontrar o caminho para o descanso eterno.
A vida de um necromante, no entanto, era deveras solitária, não apenas pela má fama que os acompanha, mas também pelo fato de Kahandrack sempre falar sobre a missão que recebeu do próprio deus da morte.
Mesmo que ele próprio não havia descoberto os detalhes.
A solidão do necromante terminou quando ele enfrentou um deus dos Tyar, uma espécie de Pantera gigante do mundo de Ghunthiade, que fora enviada para matá-lo, antes que ele se tornasse uma verdadeira ameaça.
Após uma longa e extenuante batalha o Tyar divino foi vencido e morto.
Nesse momento Kahandrack sentiu o toque do deus da morte em sua mente, revelando o que o jovem deveria fazer.
- Venha a mim... Rathran.
E então aquele que um dia foi Tyar se ergueu, seu corpo parecendo ser feito de pura de energia sombria, cujo interior ardia em chamas azul-esverdeadas.
O primeiro servo sombrio nascia.
Dessa forma, enquanto o desenvolvimento de Kahandrack como necromante surpreendia não apenas seus pais, mas também dezenas de outras pessoas que cruzaram seu caminho, conforme sua missão, de ficar mais e mais poderoso, urgia.
A pouco tempo, na região central de Ghunthiade, surgira um homem que se apresentava como o representante da recém-criada Igreja Luminar.
Seu nome era Talloth.
Mestre Talloth da Luz da Vida.
Exatamente a imagem do homem que apareceu em uma visão de Kahandrack, fruto de meses de meditação em uma caverna, isolado de tudo e todos quando, em comunhão com Drenalok, o deus da morte de Ghunthiade, o verdadeiro responsável por ter salvo o rapaz durante a cerimônia de sacrifício, anos atrás, agora finalmente revelava ao jovem que ele havia sido escolhido como seu avatar e o responsável por proteger o mundo da ameaça de Talloth.
Desse jeito, o que emergiu após o período de meditação, era algo muito além do que era ao entrar, não apenas um simples necromante, mas sim um verdadeiro Flagelo.
Na primeira batalha entre os inimigos, a ameaça que se apresentava como o representante do deus da vida e o avatar do deus da morte, uma ilha inteira foi destruída, sobrando poucos bolsões de terra a flutuar pelo oceano.
Mais de trezentas vidas se perderam como resultado do combate.
Apesar de sua ligação com a Morte, Kahandrack não aceitava mortes não naturais, aquelas que ocorriam fora do momento em que deveriam acontecer, por isso nunca conseguiu superar o resultado daquele combate que, para ele, fora uma derrota completa.
Tanto o necromante quanto o assassino da luz conseguiram companheiros durante a escalada de poder e violência envolvidos nos combates que, não poucas vezes, acabavam por causar até profundas mudanças no relevo do continente, fosse destruindo montanhas inteiras, mudando o curso de rios ou devastando a vida inteira de alguma região.
No fim apenas dois amigos ficaram até o fim ao lado de Kahandrack.
O criador Anfhilas, responsável pelas armas e armaduras que a resistência a Talloth usou desesperadamente para salvar o mundo.
Ao lado do necromante estava também Ythazia, uma das mais fortes guerreiras élficas do mundo, que usava um imenso martelo de guerra para massacrar as criaturas que o falso profeta da luz invocava contra eles.
Quando a batalha final se iniciou, já era tarde demais, pois Talloth havia conseguido terminar seu obelisco do juízo final, começando a absorver a essência vital, a luz de todo um mundo.
Somente nesse momento os demais deuses de Ghunthiade viram o erro que haviam cometido, ao confiar em Talloth, dando as costas para Drenalok e seu grupo, admitindo que eles não deveriam ter ignorado os alertas do deus da morte.
Foi assim, com o sacrifício de dezenas de seres divinos, que Kahandrack, Anfhilas e Ythazia puderam seguir Talloth, enquanto esse usava a energia absorvida para poder transmigrar para outra realidade.
A escolha inicial do necromante foi de chegar ao novo mundo já adulto e em posse de todo seu poder, mas, em meio à viagem entre realidades, ele percebeu que seus amigos não sobreviveriam, que o poder infundido pelos deuses moribundos não fora o suficiente.
Dessa forma ele escolheu e aceitou ressurgir como uma criança, que saiu de uma caverna, na mente já pensando em tudo o que seria necessário fazer antes que Talloth iniciasse a construção de um novo obelisco.
— Foi quando você me encontrou Fernando e durante os anos que vocês me acolheram e criaram como um filho, meus planos não pararam, por isso, quando completei dezoito anos, sai em viagem, para vocês eu disse que precisava me encontrar e encontrar meu lugar no mundo, o que não foi uma mentira.
Conforme a narrativa de Matheus voltava para tempos mais atuais, sua família e amigos pareciam ir despertando de um sonho, onde haviam visto e até mesmo vivenciado tudo pelo que ele, ou melhor, Kahandrack havia passado.
Quase todos tinham lágrimas escorrendo dos olhos.
— Filho... Eu... Eu nunca...
Sem mais conseguir falar, dona Oneide apenas abraçou forte seu filho, que não escondeu a surpresa, pois esperava que a verdade acabasse afastando aquelas pessoas tão queridas, mas, muito pelo contrário, logo todos seguiram o exemplo de sua mãe, até mesmo o investigador Gustavo se uniu ao abraço coletivo.
Diante de uma ameaça que poderia significar o fim do mundo inteiro, ao menos, naquele momento em especial, todos sentiam-se em uma única família.
Era, de fato, algo pelo qual valia a pena lutar, pensou Matheus, enquanto se afastava após seu celular tocar.
— Oi. Tudo pronto? Já está aqui? Em algumas horas? Certo. Até mais.
Quando Matheus se voltou para seus entres queridos, um largo sorriso estava estampado em seu rosto.
Dias depois um jovem com feições orientais aproveitava o fresco vento matutino em seu rosto, agitando suas roupas, deixando-o calmo e sereno, mas logo a paz que ele sentia se desfez, quando um comunicador auricular emitiu um aviso sonoro de pedido de contato.
— Todos em posição? Muito bem, preparem-se e só entrem em ação mediante minha ordem.
Um instante de concentração bastou para que a imagem energética do Reverendo Salazar surgisse diante do Acólito conhecido como Kosen.
— Mestre, as peças estão todas no tabuleiro. Cada pessoa importante para o necromante está sob vigilância de algum de nossos peões, prontos para atacar ao meu comando.
A única resposta de Salazar foi um breve aceno positivo de cabeça, antes que sua imagem desaparecesse.
— Muito bem Matheus. — agora Kosen saltava do prédio onde estava, aproveitando que a maioria das pessoas acordadas àquela hora não olhariam para cima, evitando assim curiosos. — Vamos ver se você é tão poderoso assim.
Enquanto uma nova ameaça se aproximava de Matheus, seu irmão se encontrava caminhando pelas ruas do bairro, após deixar os filhos em suas respectivas escolas, ainda pensando na história que havia sido revelada, sobre a verdade a respeito da Igreja da Luz, não conseguindo deixar de pensar em sua esposa.
— Fernando?
Como que em resposta a seus receios e pensamentos, parecendo ter surgido do nada, Soraia estava diante de seu atônito e surpreso ex-marido.
— Que tal me pagar um café?
Em sua nuca, escondido pelos longos cabelos castanhos, brilhava uma marca da Igreja da Luz Eterna, prenunciando os planos do Reverendo Salazar.
Planos que poderiam definir os rumos daquela nova guerra entre luz e trevas.
Galeria de imagens.
Kahandrack.
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